domingo, 31 de março de 2013

Sobre a Páscoa...

 
 
"O Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica hilariante
sobre a Páscoa. Foi um diálogo absurdo entre um menino, seu
pai e sua mãe, sobre o sentido dessa festa. A crônica termina
com uma observação justíssima do menino. Disse ele: "Eu acho
que ao invés de "coelho da Páscoa" deveria ser "galinha da
Páscoa..." Pois é claro. Todo mundo sabe que coelhos não
botam ovos. E todos sabem que galinhas botam ovos...
Confesso minha ignorância: não sei como é que o coelho entrou
nessa estória. Para início de conversa é preciso lembrar que
os textos sagrados não fazem referência alguma a esse
animalzinho fofo. Quem foi que teve a idéia de torná-lo o
personagem mais importante dessa celebração cristã?


Certamente um gozador. E para tornar a estória mais absurda,
fizeram com que os coelhos, que não botam ovos, botassem ovos
de chocolate... Nos tempos de Jesus Cristo havia chocolate?
Acho que não. Galinhas não são seres poéticos. Na poesia elas
sempre aparecem como bichos engraçados, cacarejantes, de
inteligência curta, cuja única função é botar ovos e serem
transformadas em canja. Assim é compreensível que vocês não
gostem da idéia de galinhas de Páscoa. Eu também não gosto.
Mas poderia ser "pombas de Páscoa". Pombas são seres
teológicos. Começando com a Arca de Noé. A se acreditar no
relato do Antigo Testamento Noé, para se certificar de que o
dilúvio acabara, soltou um corvo. Confesso que se eu fosse
Noé teria adotado um método mais simples. Teria aberto a
janela da arca e esticado o pescoço para fora. Eu veria,
então, que a chuva havia terminado e que as plantas já
estavam soltando os seus brotos. Será que Noé acreditava que
o corvo, depois de voar, voltaria para dar um relatório? Como
é que o corvo comunicaria os seus achados? O corvo ingrato
não voltou. Desde então eles ficaram aves de má fama,
injustamente. Vendo que o corvo não voltava e sem se dar
conta do método mais fácil que sugeri, ele soltou uma pomba.
Ah! Ave maravilhosa! Voou, viu, apanhou um ramo verde de
oliveira, e o trouxe para Noé! É preciso notar que as
oliveiras daqueles tempos extraordinários deveriam ser
diferentes das oliveiras de agora. As oliveiras de agora
certamente estariam mortas, depois de passar tanto tempo
debaixo d'água. Oliveiras não são plantas sub-aquáticas. Foi
então que, pelo galho de oliveira que a pomba lhe trouxera,
Noé ficou sabendo que o dilúvio havia chegado ao fim. Desde
então as pombas passaram a ser símbolos teológicos: símbolos
de pureza, símbolos de paz. Uma das telas mais comoventes de
Picasso é uma menina com uma pombinha nas mãos. De fato as
pombas têm um jeitinho de mansidão. O que não acontece com os
corvos negros de bico torto. Bom para os corvos, mau para as
pombas. As pombas passaram a serem usadas como aves a serem
sacrificadas no templo pelas razões mais incríveis. Se não me
falha a memória as mulheres, terminado seu período menstrual
de impureza, deveriam sacrificar pombas no templo para se
purificarem. Pobres pombas! O templo era uma sangüeira. Quem
quiser saber mais sobre a sangüeira do templo que leia o
livro de Saramago, "O evangelho segundo Jesus Cristo". Os
corvos, pela esperteza do primeiro corvo que não voltou,
ficaram livres desse triste destino. Vem então o Novo
Testamento que sacraliza definitivamente as pombas, ao
relatar que o Espírito Santo é uma pomba. Sobre isso leia-se
o poema de Alberto Caeiro em que ele conta como Jesus voltou
à terra, tornado outra vez menino. É lindo.
Brincadeira de lado, o embaraço dos pais e a pergunta do
menino revelam a confusão que marca essa festa. Ninguém sabe
direito o que é que está sendo celebrado. E, para dizer a
verdade, acho que são bem poucos aqueles que fazem alguma
celebração. Antigamente semana santa era coisa séria. Lembro-
me da procissão do enterro, os panos roxos, a banda de música
tocando a marcha fúnebre de Chopin, as matracas, as mulheres
mais piedosas carregando pedras na cabeça, como penitência...
Isso mesmo: as mulheres carregavam pedras na cabeça. Como é
bem sabido, Deus gosta de ver os seus filhos e filhas sofrer.
Isso para não dizer da quaresma que a antecede, tempo em que
as hostes do mal, demônios de todos os tipos, assombrações,
mulas sem cabeça, almas penadas, ficavam soltas e todo mundo
tinha medo de sair à noite. Sempre havia alguém que relatava,
pela salvação da mãe morta, que havia visto uma mula sem
cabeça numa encruzilhada à meia-noite. Meia noite era a hora
do medo. E no escuro ouvia-se o zunido sinistro dos berra-
bois. Semana Santa era um tempo metafísico, entre o céu e o
inferno.
Agora é diferente. Páscoa é domingo, pé de cachimbo, cachimbo
é de barro, bate no jarro, jarro é de ouro, bate no touro,
touro é valente, chifra a gente, a gente é fraco, cai no
buraco, buraco é fundo, acabou-se o mundo... Páscoa é fim de
semana santa, feriado de três dias, a praia está esperando,
hora de se preparar para a viagem...
Contou-me um sacerdote da Igreja Ortodoxa Russa que lá a
Páscoa é uma grande festa. O comunismo não foi capaz de
destruir a alma do povo. Pela manhã as pessoas saem pelas
ruas e se cumprimentam dizendo: "Cristo ressuscitou!" E o
outro responde, com uma risada: "Sim, ele ressuscitou!" ( A
obra sinfônica de Rimski-Korsakov "A grande Páscoa russa" é
linda". E agora percebo que faz muito tempo que não a
ouço. ) . Entre nós, país onde 99% das pessoas acreditam em
Deus ( acreditam porque acham que, se não acreditarem, é
capaz de ele, Deus, enviar algum castigo... ), a Páscoa é
como uma casca de cigarra presa no tronco de uma árvore.
Vazia. Morta. Não tem nada lá dentro. Mas já foi o corpo de
um ser vivo que, cansado de ficar preso na casca, criou asas
e voou. A Páscoa, com seus ovos de chocolate, é celebração
inconsciente de um tempo que não existe mais, tempo em que se
acreditava. Os ovos de chocolate, vocês sabem, são tão ocos
quanto as cascas de cigarra...
Na tradição cristã mais antiga a semana santa era um teatro,
o drama da vida dentro de uma casca de noz. Teologia mínima.
Duas cenas apenas. Primeira cena: a morte e o seu horror
parecem triunfar. Segunda cena: a vida sai do túmulo de
pedra, deixando-o vazio como uma casca de cigarra.


A Adélia diz: "De vez em quando Deus me castiga, me tira a
poesia. Olho uma pedra e vejo uma pedra..." Tem gente que
ouve o canto das cigarras e ouve apenas o canto das cigarras.
Tem gente que fala Páscoa e só vê ovo de chocolate. Pensam na
ressurreição como algo aconteceu, faz muito tempo, num lugar
distante. ( Impossível. mortos não ressuscitam. ) E pensam em
algo que acontecerá de novo num tempo distante, muito longe,
no futuro ( Impossível. Mortos não ressuscitarão.). Mas a
poesia não conhece nem o passado e nem o futuro. O passado
sobre que a poesia fala é presente na memória e nos
sentimentos. O futuro sobre que a poesia fala é presente na
esperança. Assim os poemas da ressurreição falam sempre do
presente. A Morte é agora. Nós somos o túmulo. "Quem anda duzentos metros sem vontade anda seguindo o próprio funeral vestindo a própria mortalha...' Muita gente morreu e não percebeu. Mas a Ressurreição pode acontecer também agora.


Tenho, no meu escritório, uma tela de Pierro della Francesca
( 1410 - 1492 ) chamada "Ressurreição". A pedra do túmulo
corta a tela em duas partes. Na parte de cima, com seu pé
sobre a pedra, o Cristo ressuscitado. Na parte inferior,
encostados à pedra, os guardas adormecidos. Perguntam-me
sobre o sentido da tela. Respondo que não sei o sentido da
tela. As telas têm muitos sentidos. Eu só posso dizer os
pensamentos que aquele quadro me faz pensar. E digo: enquanto
os guardas da morte estão dormindo, o divino que mora em nós
sai do sepulcro. Sabem disso as cigarras. Caminhando hoje pela manhã na fazenda Santa Elisa eu ouvi o seu canto. Já haviam deixado suas cascas nos troncos das árvores. Agora são seres alados. Cantam e voam, a procura
do amor...Acho que estão celebrando a Páscoa..."

 

sábado, 30 de março de 2013

A doçura da Páscoa...

                                                                        

 

Dos sabores da infância que guardamos na memória, a páscoa vem acompanhada do cheiro de cestas de vime ao pé da cama, que dormem com aroma de palhas secas desbotadas, e despertam com a doçura do chocolate e dos ovos coloridos.
A alegria de melecar mãos e a boca ao raiar da primeira claridade do domingo de páscoa traz a certeza de que o bom comportamento foi recompensado. A obediência, o empenho nas tarefas escolares e tudo mais que foi negociado com o coelhinho.
E nos dias de hoje, tudo chega muito mais colorido e cheio de surpresas. São doces e brinquedos que fazem os olhos brilhar, as crianças ficam com água na boca, sentem coceira nas mãos e rapidez dos pés. Sentido aguçado para encontrar os ovos escondidos pela casa.
E as pegadas do coelhinho espalhadas pelo casa, dão uma pista do que a imaginação é capaz de fazer com uma criança.
Passada a páscoa fica o desejo de que ela retorne o mais breve possível. Os pais explicam: só daqui a um ano! É que o bom comportamento precisa permanecer durante todos os próximos doze meses, afinal, o símbolo da páscoa tem olhos grandes que tudo enxergam, orelhas enormes que tudo escutam e um coração grande e generoso, capaz de recompensar na medida certa do comportamento.
 


                                                        (Taís Rizzotto)

sexta-feira, 29 de março de 2013

Macela....



A colheita da Macela é uma tradição que se repete ano a ano no período de Quaresma: na madrugada da Sexta-feira Santa, antes que surja o sol, as pessoas saem em busca da Macela – erva que dá origem a um saboroso chá com propriedades medicinais - nos campos e às beiras das estradas.

"Diziam que quando Cristo subiu o calvário com a cruz , no caminho tinha bastante macela, e a
planta passou a ser vista como algo sagrado, qua faria bem para todos os problemas. 

Outra versão conta que após Jesus ser retirado da cruz sem vida, Maria teria lavado seu corpo com uma espécie de composição de macela, já que a planta apresenta propriedades cicatrizantes.

Reza a lenda, que as propriedades curativas da macela somente fazem efeito se a planta for colhida na sexta-feira santa antes do amanhecer. A erva de nome científico Achyrocline satureioides é nativa da flora brasileira também conhecida por macela-do-campo, macelinha, macela de travesseiro, carrapichinho-de-agulha, camomila nacional etc. Popularmente, em algumas regiões, é incorretamente chamada de “marcela”.

É um arbusto perene que atinge cerca de um metro de altura e que na região sul costuma florescer no mês de março. As flores são amarelas, com cerca de um centímetro de diâmetro, florescendo em pequenos cachos. As folhas são finas e de cor verde-claro, meio acinzentada, que se destaca do restante da vegetação do campo. (Fonte: Wikipedia)

Segundo pesquisas, a macela é característica da região Sul do Brasil. “Trata-se de uma planta nativa que cresce espontaneamente em todo o território gaúcho, especialmente nos Campos de Cima da Serra e estendendo-se até o Planalto Catarinense”.

Procura-se fazer um apelo para que quem pretende sair em busca das flores “abençoadas” pelo orvalho da Sexta-feira Santa, preserve a sua existência. Que você colha apenas o que vai usar durante o ano, sem exageros. “Se forem retirados em excesso e sempre os melhores cachos, a planta vai perdendo o vigor na natureza e corre risco de extinção”,

O Chá: A desidratação da planta deve ser feita à sombra, pois os raios de sol tendem a diminuir as propriedades medicinais da macela. Depois de secas, as flores podem ser armazenadas em vidros para serem utilizadas no preparo de chás.

Propriedades: É adstringente, antiasmática, antiespasmódica, anti-inflamatório, anti-séptica, bactericida, carminativa, digestiva, sedativa, sudorífera, tônica. Indicada para casos de azia, cálculo biliar,cólicas intestinais, diarreia, disfunções gástricas, gastrite, má digestão, Clareia os cabelos, estimula a circulação capilar, melhora pele e cabelos delicados, previne a queda de cabelo.


                                                                                    

quinta-feira, 28 de março de 2013

Desencanto...

                                             

Talvez aconteça em qualquer outra parte do mundo. Talvez pelo Brasil afora, mas isto é o que menos importa.
Importa é que aconteça aqui em nosso Estado. Aqui onde nos jactamos de possuir uma qualidade de vida ímpar (ou será que também isso se perdeu pelos tempos?). Aqui onde possuímos o mais lindo pôr-do-sol, onde temos o melhor teatro, os times mais organizados (alguém acredita?), os melhores políticos (será?). Bom, se temos tudo isto, por que o nosso Estado anda tão mal das pernas?
Lembremos alguns fatos.

O cais do porto. A ideia surgiu em 1987 quando o Simon, eleito Governador, esteve em Nova York e visitou o Píer 17. De lá até aqui são apenas 25 anos e o cais ainda não foi remodelado graças a grande capacidade que os nossos políticos têm de julgarem que os projetos alheios são sempre danosos e que apenas os próprios são dignos de valor.
Teatro da OSPA. O projeto foi aprovado no Governo Brito (fiz parte do corpo de jurados). Poderia estar pronto a esta altura não fosse, mais uma vez, o acima exposto. Aliás, o maestro Karabtchevsky deixou Porto Alegre alegando ser esta a única cidade que ele conhecia que se manifestava contra uma sede para sua própria Orquestra Sinfônica.
Revitalização da orla. No mínimo, que eu lembre, este assunto vem sendo tratado desde que o Collares foi Prefeito. Há sempre quem mande contra. Há sempre quem conteste. Agora se anuncia um novo projeto sob o comando do Escritório de Arquitetura do Jaime Lerner. De imediato, um profundo conhecedor local se arvora em solicitar que não se criem quiosques ou bares, pois se poderia degradar o Guaíba. Mas gente, alguém já se atreveu a chegar próximo ao Guaíba, onde ele ainda não é privatizado, e constatar a imundície local?
A segunda ponte. A ponte atual que cruza o Guaíba foi inaugurada no primeiro governo do Meneghetti. Alguém ainda recorda da baita festa que se fez? Há quanto tempo se fala em uma segunda travessia? Mas ninguém se entende: uns defendem as PPAs, outros querem que o governo banque para evitar o pedágio. Há quem seja ingênuo a ponto de acreditar que, seja qual for a solução, ela não será pedagiada? Nesta lengalenga o tempo passa e, finalmente, quando a segunda ponte for concluída estaremos no tempo de uma terceira.
O novo (velho) aeroporto Salgado Filho. Falar da retirada da Vila Dique para o aumento da pista e da implantação do sistema antineblina virou conversa de lavadeiras de tanto que já lemos e ouvimos as doutas autoridades sobre o assunto. Passados todos estes anos (quantos?) agora se levanta a hipótese de que o terreno onde se daria o aumento da pista não é conveniente. Mas nenhum inteligente se deu conta disto há quinze anos? Alguém sabe explicar por que, neste período todo de inércia e incompetência, se adquiriu o equipamento antineblina que agora já é considerado obsoleto? Quanto custou? Quem deu a ordem? Alguém ressarciu o prejuízo? Pois descubro, através da imprensa, que os projetos para o Salgado Filho (há tanto anunciados) esbarram na burocracia e em constantes reagendamentos de prazos, colocando em risco a pretensão do Estado de contar com um aeroporto maior até a Copa. No momento se fala que o Estado busca investidores para projeto alternativo (novo aeroporto), mas se alerta que o prazo para erguer um novo terminal será de, pelo menos, dez anos.

E olha que não falamos da ERS-10 e da RS-118, obras de Santa Engrácia que nunca têm fim apesar das reiteradas promessas de nossos (in)competentes políticos.

É pra rir ou chorar?

                                       (Sérgio Napp)

Deixe a VIDA brotar nesta Páscoa...

                                                                  

 
 

O sentimento de fazer brotar a vida está presente nas comemorações da Páscoa. A celebração de origem religiosa, conforme conta o velho testamento, está relacionada com a saída do povo de Israel do Egito para a terra prometida e o sucesso da sua libertação.
Consumir peixe além de estar associado ao fato de Jesus ter repartido este alimento entre o povo faminto, também significa de abdicar da fartura e se privar de eventuais diferenças entre as pessoas. A palavra “peixe” era tida como confissão de fé e para os primeiros cristãos significava Jesus Cristo.
A preparação para a Semana Santa impõe resguardo espiritual, recolhimento e meditação a respeito de atitudes praticadas. A festa que tem o seu ponto alto no domingo de Páscoa ensina que, uma vida regrada pelo amor ao próximo e a prática do bem, possibilitam a ressurreição. A Quaresma, período que se inicia após o carnaval “festa da carne”,remete os católicos a refletirem, e de certo modo, compararem as suas condutas com a vida daquele que por eles se sacrificou.
Nos 40 dias que antecedem a festa da ressurreição, seja escolhendo um dia da semana para fazer jejum, seja abrindo mão de comer carne vermelha, ou ainda, escolhendo um cardápio à base de peixe, faça mais do que incluir na dieta o ômega 3. Pratique o ensinamento do bem sem olhar a quem. Compartilhe o amor com aquele que sente dor e acredite na vida em sua plenitude.
 
                                                   (Flávio Gonçalves)

terça-feira, 26 de março de 2013

Quando Eu Estiver Com Sessenta E Quatro


 
 
Quando eu ficar mais velho, perdendo meus cabelos
Daqui a muitos anos
Você ainda irá me mandar presentes no dia dos namorados
Saudações no aniversário, garrafa de vinho?
Se eu estiver fora até quinze pras três
Irá trancar a porta?
Você ainda irá precisar de mim, ainda irá gostar de mim
Quando eu estiver com sessenta e quatro?


Você estará mais velha também
E se você disser que
Irá permanecer comigo


Eu poderei ser útil, concertando um interruptor
Quando suas luzes apagarem
Você poderia me tricotar um suéter perto da lareira
Nas manhãs de domingo iremos dar uma volta
Cuidando do jardim, arrancando as ervas daninhas
O que mais eu poderia querer?
Você ainda irá precisar de mim, ainda irá gostar de mim
Quando eu estiver com sessenta e quatro?


Todo verão poderiamos alugar uma cabana
Na Ilha de Wight, se não for caro demais querida
Iremos passar por um aperto e economizar
Netos nos nossos colos
Vera, Chuck & Dave


Mande-me um cartão postal, mande-me um telegrafama
Informando o seu ponto de vista
Indique precisamente o que quer dizer
Um "atenciosamente" supérfluo
Me dê uma resposta, preencha no formulário:
"Minha para todo o sempre"
Você ainda irá precisar de mim, ainda irá gostar de mim
Quando eu estiver com sessenta e quatro?

25 de março... meu aniversário!


segunda-feira, 25 de março de 2013

Envelhecer bem é possível...

Se não aceitarmos que já não somos o que éramos, nosso contato com o mundo aqui e agora fica prejudicado



A criança passa por dramáticas transformações (andar, falar, conhecer o mundo etc.), mas não tem consciência delas porque lhe falta linguagem para descrevê-las.



Depois da adolescência as mudanças continuam, mas com dramaticidade menor.



Tão marcante em transformações quanto a infância é o envelhecimento. Nessa fase da vida temos consciência de tudo o que ocorre: perdas físicas e mentais.



Comecemos falando da reação aos imprevistos. Por que velho tropeça e cai tanto? Porque a reação ao susto e o reflexo para evitar o perigo são mais lentos.



Falemos agora da memória, essa capacidade madrasta cuja falta castiga o idoso. Demoramos para lembrar seja lá o que for e a conversa fica entrecortada de silêncios, quase soluços.



O conteúdo que em primeiro lugar mergulha nas sombras do esquecimento são os nomes próprios; mais uns anos e substantivos comuns também se embaralham.



O curioso é que os adjetivos não somem. Aparecendo o nome, sua qualidade ou quantidade vem junto, dos fundos da memória. O nome está em algum lugar, algum tempo, de algum jeito. Se o substantivo emerge, traz consigo as associações.



Os verbos não somem, mas as ações deixam de ser desempenhadas. Se o verbo desaparecer, a incomunicabilidade irá se instaurar.



Envelhecer é perder: seja clareza, seja acuidade auditiva ou visual, velocidade de resposta física ou de linguagem, memória.



Aí vem aquela história: velho esquece o agora e lembra o mais antigo. Não há nenhum mistério nisso. É que o antigo já se transformou em imagem e a imagem reaviva as sensações. Quase nada é inconsciente, pois envelhecer é viver as mudanças diárias.



Sentimos a presença das mudanças. Se causam amargura, é pela não aceitação. E, se não aceitarmos que já não somos o que éramos, o nosso contato com o mundo aqui e agora fica prejudicado.



Assim como é natural o ser humano se transformar ininterruptamente, em boa velocidade, do nascimento à puberdade, é natural envelhecer, com lentas perdas no início e mais rápidas depois.



Aceitando que viver é assim, permanente transformação, podemos sorrir diante de perdas e transmitir (até com humor) a quem nos rodeia que estamos presentes, acompanhando o processo.



Nada de dizer que a terceira idade é maravilhosa. Nada disso. Perder não é bom. Mas alguns conseguem ir perdendo sem muita amargura, porque acompanham as transformações dos que ainda estão ganhando.



É a alegria do avô diante do neto. Há na atitude de acompanhar o que já tivemos no passado doses de aceitação e generosidade. Podemos ajudar. Nossa sabedoria funciona como conforto para quem está só começando.



O olhar bondoso do idoso diante do tatibitate do nenê é sabedoria. O velho vislumbra o caminho que o bebê irá seguir. Não é um reviver nem um renascer: é uma memória.

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* ANNA VERONICA MAUTNER, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora) e "Educação ou o quê?" (ed. Summus)

 

domingo, 24 de março de 2013

If you love me

 
 

Se você me ama

Queria poder dizer pelo seu olhar (onde eu me encontro)
Queria poder dizer o que você está sentindo (mas não consigo)
Queria que você dissesse o que preciso ouvir (você me quer)
Dê-me um sinal que esclareceria tudo isso (apenas mostre-me)
Não deixe meu coração aqui fora na linha
Se você me ama deixe-me saber
Assim, o meu todo simplesmente deixará acontecer
Você pode ter-me, coração e alma
Se você me ama... apenas deixe-me saber
Me me faz pensar que não tenho chance (nenhuma)
Você se vira quando capturo seu olhar (deveria desmoronar)
E então você diz que tem sonhado comigo (todas as noites)
O jeito como você fala é cheio de mistério (estou certo?)
E não sei no que eu deveria acreditar
Se você me ama deixe-me saber
Assim, o meu todo simplesmente deixará acontecer
Você pode ter-me, de coração e alma
Se você me ama... apenas deixe-me saber
Eu quero dar-lhe o que você precisa
Eu quero estar em seus sonhos
Você tem que me mostrar que quer isso tanto quanto eu
Queria poder dizer pelo seu olhar
Não deixe meu coração aqui fora na linha
Se você me ama, deixe-me saber
Assim, o meu todo simplesmente deixará acontecer
Você pode ter-me, de coração e alma
Se você me ama... deixe-me saber

terça-feira, 12 de março de 2013

Martha Medeiros...




“Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal.
 Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara.
“Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música.
 Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam, de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e, sim, para disfarçá-la, sufocá-la.
 Ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais.
 Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for.
 Em tempo:
na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.”

sexta-feira, 8 de março de 2013

Carta aos Protetores de Animais...



Eu teria morrido naquele dia, se não tivesses sido tu.
 Eu teria desistido da vida, se não tivesse sido esse teu olhar carinhoso.
 Eu teria usado as minhas garras de medo, se não fossem essas tuas mãos suaves.
 E teria partido desta vida a acreditar que nenhum humano jamais se preocuparia comigo.
 A acreditar que não havia mais nada a não ser: ter o pêlo emaranhado, ter a pele comida pelas pulgas, ter frio, medo, fome...
Eu teria deixado esta vida sem saber que ainda existe gente boa o suficiente para nos dar camas quentes e confortáveis para dormir.
 Sem saber como é bom ser amado por alguém..Sem saber que mereço ser amado simplesmente porque existo.
Mas tu mostraste-me e deste-me tudo isso: o teu olhar carinhoso, o teu sorriso amável, as tuas mãos suaves, o teu grande coração salvaram-me!
Tu salvaste-me do terror da rua.
 As memórias da minha vida antiga são apenas isso, memórias.
 Tu ensinaste-me o que significa ser amado.
E já te vi fazer o mesmo com outros.Assim, abandonados como um dia também fui.
Eu já te ouvi perguntares-te em tempos de crise: "Por que faço isto?"
E...
Quando já não há dinheiro? Quando já não há espaço? Já não há casa?
Mesmo assim, tu abres o teu coração ainda mais, esticas o pouco dinheiro que te sobra.
Mas digo-te: agradeço-te com todo o amor que brilha nos meus olhos, da melhor maneira que sei...
E lembro-te: em nome dos "resgates" que já fizeste (e que ainda fará)...
Que eu sou a razão, os animais antes de mim foram a razão!
 Como o são os que vierem depois de mim.
As nossas vidas já não existiriam...O nosso amor nunca seria partilhado, pois, nós teríamos morrido,

 SE NÃO TIVESSES SIDO TU!"


Se vc conhece um protetor(a) de animais, por favor entregue esta carta a ele(a)

Texto by
Direitos Aos Animais
 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Homenagem a Santa Maria/RS





  •  A todos vocês...

    De um mundo que, hoje, sofre


    De um Brasil que, hoje, se volta ao Rio Grande


    Rio Grande de Santa Maria.



    A vocês...


    De um mundo de flores e jardins


    Um mundo de céu estrelado.


    Vocês a quem, hoje, a morte se manifesta



    Amigos e familiares.

    Estejamos unidos, em um só laço


    Compartilhemos dessa dor, presente em tantos corações.



    A vocês que, hoje, são as estrelas do céu,


    flores dos jardins.


    Fiquem em paz...


    Voem livres. Livres e leves aos céus.



    E a vocês que ficam...


    O nosso abraço sincero. O nosso conforto.


    Nosso amparo e total apoio. 




    (Tradução Natália Rigo)


Clarissa Corrêa...


                                                                               
"Que a gente tenha mais capacidade de sonhar, mais abraços de verdade, mais olho no olho, mais aperto de mão firme, mais sorrisos sinceros.

Que a gente tenha mais saúde, mais certezas, mais respostas, mais inspirações, mais encontros, mais descobertas e mais paixão pelas coisas.

Que a gente tenha mais conforto, mais colo, mais paz, mais conquistas, mais garra, mais amor, mais humildade.''


quarta-feira, 6 de março de 2013

Sobreviventes...

                                                                 
  • Tenho teorias, sim, tenho algumas, como todos. Uma delas diz que a gente tem três fases na vida. A primeira vai até nascerem os filhos; a segunda vai até a gente encaminhá-los e a terceira fase começa ou recomeça a dois, só que mais velhos. Grande parte de nós sucumbe antes de se completar a segunda fase. Uma inhaca bateu na gente, no meio médico, neste final de ano quando um grande número de médicos e familiares foi acometido de doenças gravíssimas, algumas rapidamente fatais.

    A gente, que cuida de gente, evidentemente não está imune a nada. Pelo contrário, visceralmente iguais padecemos das mesmas dores. Na verdade cinquentões ou sessentões, apenas engrossamos as frias estatísticas que mostram que, como gado, seremos embretados, cedo ou tarde, aleatoriamente. Não temos cartões de benefícios e nem poderíamos ter, nem queremos ter porque quando nossos amigos se vão, a gente entende que nossa viagem já está marcada e a passagem também foi comprada. Até os quarenta anos a principal razão de morrer é trauma. Entre os quarenta-sessenta são as causas cardiovasculares. Depois, aos sessenta, as causas de morrer incluem os tumores. Eu, aos cinquenta e cinco, sou uma bomba ambulante que explodirá em um momento qualquer. Alguma coisa vai acontecer e sem previsão. Não tenho ilusões, meu momento vai chegar, como a todos. Mas, não irei assim, sem vingança.

    Ela, minha vingança, já começou. Sim, estudei a morte e estudei a vida. Ela, a morte, solerte, não me pegará de pernas curtas. Sorrirei e direi: demorou, hein! Não me verá chorando e nem arrancando os cabelos. Verá um cara jocoso, debochado e irônico. Isso porque minha vingança inclui férias todos os dias de minha existência. Férias quando escrevo, leio, assisto ao futebol, quando corro ali no quartel, quando trabalho, quando jogo conversa fora, quando tomo minha cervejinha.

    A vida é um presente, não é mesmo? E fui ensinado que quando a gente ganha um presente o melhor que se tem a fazer é aproveitá-lo. É o que faço. Quando a morte chegar perguntarei: tá na hora? Direi: sabe o que eu penso de ti, dona morte, penso que tu és muito infeliz ou, pelo menos, sádica e ensandecida, fria e despudorada assim como as gurias que a gente conheceu na zona. Sim, zona, houve um tempo em que havia isso. Quando será que a morte vai encontrar a morte? Minha nova teoria diz que somos sobreviventes após os cinquenta e poucos anos. Todos os dias tenho teorias, na maioria, idiotas. Mas são minhas, pertencem a minha existência. Sonho em matar a morte... claro, pura estupidez; é só mais uma teoria de um médico que carrega uma bomba, sem data exata para explodir.

    A vida é boa, mas tem que ser vivida todos os dias, assim como férias que também tem de ser aproveitadas diariamente. É a única maneira de encarar a morte, ou seja, a boa vida. Dar à morte a certeza de que tudo o que poderia ter sido, foi e foi plenamente.
                                                                             (Jorge Anunciação)

terça-feira, 5 de março de 2013

Martha Medeiros...


                                                                       
Por uma infelicidade tremenda, fui ler os comentários de um site sobre o acontecido em Santa Maria e dei com uma criatura funesta que falou coisas impublicáveis. Um só. Um único demente entre tantos solidários, e pensei: precisa mais que um... para lamentarmos a falta de compaixão? Porque essa foi a palavra que me invadiu desde as primeiras horas de um domingo ensolarado lá fora e nublado aqui dentro: compaixão.

Qualquer pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem como não se colocar no lugar dos pais, dos avós, dos tios daquela garotada que saiu no sábado à noite para se divertir e que foi vítima do destino — poderíamos também chamar de descaso, insensatez, irresponsabilidade —, mas é cedo para diagnósticos precisos. Destino é uma palavra mais abrangente.

Tenho duas filhas que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo, simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou.

Sei de dois irmãos e de um casal de namorados que tinham relações com amigos meus e que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não conhecia ninguém. Isso me afasta da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a não ser que não tenhamos compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo individualista como o nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento: compaixão. Se colocar no lugar do outro. Dói, mas é necessário.

Quem não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é algo que se explique. Nenhum racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da vida.

segunda-feira, 4 de março de 2013


Diário do Cão X Diário do Gato


Diário do Cão:

8:00 – Ração! A melhor coisa do mundo!
9:30 – Rolê de carro! Vento na cara! Yeah!
10:00 – Volta no parque! Oba!
10:30 – Coçaram a minha barriga! Delícia!
12:00 – Ossinho sabor carne! Já posso morrer!
13:00 – Tirei uma pestana na minha casinha!
14:00 – Acabei de tentar morder meu rabo! Não consegui, mas amanhã tento mais!
16:00 – Fiz cocô! Será que ele vai desaparecer sozinho de novo?
18:00 – Jantar! Mais Ração! Melhor coisa do mundo de novo!
20:00 – Assistir TV com o meu dono, melhor coisa do mundo! Boa noite Willian!
22:00 – Dormindo no chão gelado! Demaaaaais!



Diário do Gato:

Dia 784 – Meus seqüestradores continuam a me provocar com objetos que balançam. Eles se alimentam com carne fresca enquanto eu e meus companheiros temos de comer um tipo de nugget seco. Apesar de eu deixar claro que odeio essa comida, eu preciso comer para manter minha força.

Dia 785 – A única coisa que me mantém vivo é o meu sonho de escapar. Em uma tentativa frustrada de enjoá-los, eu vomitei no carpete. Hoje eu decapitei um rato e larguei seu corpo sem vida no pé de um de meus seqüestradores para que tenham conhecimento de minhas habilidades. Espero que tenha conseguido colocar medo em seus corações!

Dia 786 – Houve um tipo de reunião de cúmplices hoje. Eu fui, de novo, colocado na solitária durante toda duração do evento. O meu ódio cresceu! Eu ouvi de realce que o fato de eu estar preso é o risco de que eu possa causar “alergia”. Preciso aprender o que isso significa e usar a meu favor!

Dia 787 – Hoje eu quase obtive sucesso em assassinar um de meus sequestradores ao dar patadas em seus pés enquanto eles caminhavam. Eu preciso fazer isso amanhã novamente, mas nas escadas!

Dia 788 – Estou convencido de que os outros moradores, de outras espécies, trabalham para os seqüestradores. O cachorro tem privilégios especiais. Ele é solto regularmente e parece mais que satisfeito ao voltar. Ele obviamente é um completo imbecil! O pássaro com certeza é um informante. Eu observo ele se comunicar com os seqüestradores quase todos os dias. Eu estou certo de que ele reporta todos os meus movimentos para eles. Infelizmente ele possui um posto elevado e fica numa espécie de célula elevada protegida com grades, então ele está seguro, por enquanto...


Belas Canções Francesas...

domingo, 3 de março de 2013

James Van Praagh...





Querida Mamãe!



Quando se questionar sobre o sentido da vida e do amor
Saiba que estou com você,
Feche os olhos e sinta o meu beijo
Na brisa leve que toca o seu rosto.


Quando começar a duvidar de que me verá de novo
Aquiete sua mente e me ouça
Eu sou o murmúrio que vem do céu
Falando de seu amor.


Quando perder sua identidade
Quando se perguntar quem é e para onde vai,
Abra seu coração e me verá
Eu sou o piscar das estrelas sorrindo para você
Iluminando o caminho para sua jornada.


Quando acordar a cada manhã
Tendo esquecido os seus sonhos
Mas, se sentindo contente e serena
Saiba que eu estou com você
Enchendo suas noites com meus pensamentos.


                                         “A Força da Vida” de James Van Praagh.

Mergulhar é preciso...


                                                                   
Uma coisa pra se fazer na vida antes de morrer: conhecer o fundo do mar. Estive uma vez em Fernando de Noronha e foi uma experiência transformadora. Entendi completamente o sentido da palavra mergulhar.
Não sei se pelo estado de alerta que você fica à espera das surpresas submarinas, pela incrível sensação de flutuar no abismo ou simplesmente pelo único som que lhe resta ser o esquecido compasso da sua respiração, você acaba entrando num estado de concentração único e inesquecível. Um verdadeiro mergulho.
Pouco tempo depois dessa experiência, li no jornal sobre o casal que sobreviveu ao tsunami por estar justamente mergulhando. Pensar que tudo aquilo lhes passou por cima e eles continuaram a ouvir o som de suas respirações. Se estivessem navegando, teriam sido trucidados. Estar mergulhando, o que parecia mais perigoso, os salvou.
Gosto desta história. Acho bonita e irônica. Salvar-se no profundo. Salvar-se por mergulhar. Além de inacreditáveis tartarugas gigantes, o mar também nos oferece muitas metáforas. Fernando Pessoa e Dorival Caymmi se fartaram nelas. Navegar é preciso, viver não é preciso.
Passando de novo os olhos pelos versos do poeta, não consigo deixar de pensar em outro mar. Quantos de nós têm deixado de viver pra navegar? Nosso mundo virtual também vive se utilizando de imagens marinhas, mas o que diria um pescador de Caymmi se soubesse que navegamos na rede?
Já acho curioso falarmos navegar. A janela azul aberta ao mundo virtual parecia coisa de ficção científica, uma tela que nos tragaria da cadeira para um mergulho em outros mundos. Mergulhar pareceria ser o verbo perfeito e até justificaria o efeito de ausência surda e muda que baixa sobre nós, seres de faces azuis, capturados.
Mas o verbo virtual é navegar. Pensando bem, é justo. É algo que anda na superfície. Você quer um site e lhe são oferecidos outros tantos. Janelas que abrem para janelas. A cada clique, outra centena de possibilidades.
Tudo se espalha numa ramificação eterna e quando você resolve mergulhar é inevitável a sensação de perda do que poderia estar escondido no imenso mar oferecido à sua navegação. Sinto que a rede nos força naturalmente à superfície em suas imensas possibilidades.
Volto ao casal mergulhador e penso nos meus mergulhos literários de três horas sem sentir o tempo, na sala escura do cinema, nas peças de teatro e em quantas coisas que nos salvam por serem estados de mergulho pleno. Mergulhar é preciso.

                                        (Denise Fraga)