quarta-feira, 6 de julho de 2016

J.J.Camargo...

J.J. Camargo: "A civilização tem feito minguar a missão de ouvir"


Quantas pessoas você conhece que se dedicam a ajudar as pessoas sem receber nada por isso? Não se constranja de admitir se a resposta for nenhuma. Você está muito próximo da média, que é mesmo vizinha do zero. E se não bastasse a escassez, esses voluntários ainda têm a estranha tendência à discrição e ao anonimato.
Mas de qualquer modo sempre é gratificante descobrir que eles existem, e com frequência representam o último nicho de solidariedade para uma crescente legião de solitários e excluídos.
Um dos serviços mais antigos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) chegou ao Brasil em 1962 e, oito anos depois, abria sua filial em Porto Alegre, a primeira fora de São Paulo. Em 1971, inaugurou o "corujão" para atendimento durante a madrugada, depois que se percebeu que as maiores depressões mal resistem à espera pelo novo amanhecer. No ano seguinte, com a ampliação do número de voluntários, foi possível implantar o atendimento 24 horas. E, desde então, eles estão lá, com a missão precípua de ouvir, um exercício de solidariedade que a civilização que se anuncia moderna só tem feito minguar.
Nenhuma dúvida de que este tipo de serviço é cada vez mais impulsionado pela solidão, essa doença que, por mais paradoxal que pareça, se generalizou apesar de os veículos de comunicação instantânea terem se popularizado. O curioso imprevisto é que todo mundo parece aberto à interação com seus semelhantes, desde que, naturalmente, não lhes peçam nada em troca.
O trabalho grandioso desse voluntariado não pode ser dimensionado pelos monitores habituais, exceto pela alegria renovada de cada um de seus membros quando, ao terminar uma conversa que pode durar horas, tem a impagável gratificação de que uma vida periclitante foi resgatada.
O nosso CVV completou recentemente 44 anos de atividade no RS. Foi emocionante encontrá-lo na praça da Redenção, com cerca de uma dúzia de voluntários, na comemoração do Dia do Abraço.
A prática do abraço público, iniciada há cerca de uma década, na Itália, se disseminou pelo mundo e conseguiu derrubar o formalismo japonês numa praça de Kyoto, e colocar um inusitado ar de afeto no povo amorfo de Toronto. Uma façanha!
Quem quiser entender por que aquele vídeo pioneiro já foi visitado por mais de 5 milhões de pessoas, entre no YouTube, digite "Free Hugs - Sondrio", e descubra o feito de um casal jovem com um cartaz que oferece abraços gratuitos, e vai progressivamente minando a resistência dos rígidos e dos tímidos e deságua num turbilhão de abraços sacudidos, ao belíssimo compasso de Hallelujah.
A emoção quase incontrolável está lá, à sua espera e, à semelhança dos abraços, também é de graça.

Flauta andina,,,


Dentro de um abraço...Martha Medeiros



Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário?
 Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço, se dissolve.
Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.
O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.
Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde de frente para o mar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?
Difícil bater essa última alternativa, mas onde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria. Entrando na semana dos namorados, recomendo fazer reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste.

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A civilização precisa de guerreiros... Cláudia Laitano



A civilização precisa de guerreiros...

Cena 1: Domingo, 10 de agosto, Beira-Rio, Gre-Nal. Um grupo de torcedores do Grêmio puxa um grito de guerra macabro, espantoso até mesmo para os padrões de violência verbal tolerados no futebol. Os dois filhos menores de Fernandão estão no estádio.
É o primeiro Dia dos Pais depois do acidente que matou o jogador.
Cena 2: Terça-feira, 12 de agosto. Fãs do mundo inteiro recebem a notícia de que o ator Robin Williams tirou a própria vida. "Carpe diem", dizia um de seus personagens mais memoráveis, "aproveite o dia", e para a maioria de nós é difícil aceitar que um ator tão inspirador e cheio de energia em cena pudesse, privadamente, estar lutando contra a depressão. Na madrugada de quarta-feira, sua filha Zelda deleta todas as suas contas em redes sociais. Ela havia recebido imagens manipuladas que simulavam o estado em que o corpo de Robin Williams foi encontrado pela polícia.
Cena 3: Quarta-feira, 13 de agosto, início da tarde. A morte do candidato Eduardo Campos em um acidente aéreo, em Santos, é confirmada. Humor negro, ofensas, bizarras teorias conspiratórias e pueris charadas com o número 13 tomam conta da rede antes mesmo de se entender o que tinha acontecido e quem mais estava no avião. Em Recife, os filhos adolescentes do ex-governador comunicam-se com os amigos por meio dos seus smartphones. O inominável está a um clique de distância.
Cena 4: Quinta-feira, 14 de agosto, Zero Hora, página 36. Reportagem da jornalista Larissa Roso apresenta aos adultos o aplicativo Secret, que se tornou popular entre os adolescentes nas últimas semanas. Criado originalmente para que os usuários trocassem segredos sem se identificar, o aplicativo está sendo usado como ferramenta de bullying. Colegas expõem e humilham outros colegas, pública e anonimamente, espalhando medo e ansiedade nas escolas.
Não acredito que a humanidade melhore ou piore com o tempo. Na média, não somos mais sensatos que os nossos netos nem mais cruéis que os nossos avós. O que existe são ambientes e circunstâncias que nos inclinam a obedecer ao lado mais irracional e egoísta da nossa natureza — seja pela sensação de impunidade, seja porque nos sentimos de alguma forma ameaçados pelo outro. Na arquibancada, protegido pelo anonimato, é possível que um torcedor pense e aja como um animal numa manada — bovinamente cruel. O diálogo nas redes sociais, anônimo ou não, também favorece essa desumanização. Quando o outro é visto como inimigo ou como um ser abstrato, sem identidade ou sentimento, é fácil comportar-se como um humanoide na selva disputando o lugar mais alto na árvore ou o último naco de carniça.
Não sou pessimista. Não acho que estamos marchando para o colapso da civilização, mas cada vez mais acredito que a razão, a tolerância, a empatia, a generosidade, a humanidade não precisam apenas de defensores ou simpatizantes.
A civilização, mais do que nunca, precisa de guerreiros.
Cláudia Laitano

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Crônica A CEE





O laranjal  era o mesmo, tinha só mais umas casas e as comissões da minha mãe na casa de bordados 
subiram, mas no resto não se podia dizer que estivesse diferente. O nosso jardim tinha duas laranjeiras e um limoeiro, havia ameixeiras despidas no Inverno e carregadinhas de flor na Primavera. E os dias nasciam no rumor de sons familiares
As manhãs começavam assim, com os travões dos autocarros a fazer a curva e o cantar dos galos nos galinheiros. O pão, agora, chegava num carro e os gira-discos dos vizinhos já não tocavam o Teixeirinha, mas os singles da moda, daqueles com cantores de jeans rasgados a tocar sintetizador. A minha mãe e a minha tia Alice ainda arranjavam o cabelo no anexo da casa de uma vizinha, mas corria pelos becos e caminhos a CEE.
Ninguém sabia com exactidão o que eram as Comunidades Económicas Europeias, só se sabia que agora era melhor. E foi nesse "agora é melhor" que vivi os últimos anos da adolescência, entre o mundo novo e o mundo antigo que desaparecia no brilho das coisas modernas. Comecei a receber notas de um conto e cinco contos pelo anos e Natal, a juntá-las todas para comprar roupas e sapatos.
A CEE dos edifícios cinzentos de Bruxelas trouxe candeeiros para o caminho e, devo dizer, também me deu alguma confiança para entrar no liceu sem me sentir a mais esquisita. Os sapatos já não eram de mordoma de Nossa Senhora da Visitação, eram da Cloé, depois da Mattas e com estilo.
Um estilo como o que o meu irmão trouxe da tropa, depois de três meses em Mafra. Além do cabelo pente um, chegou com as golas dos casacos levantadas, as bainhas das calças de ganga viradas e sapatos pretos com uma chapinha de metal. E era tão bom ir tomar café com ele, assim tão alternativo.
Parecia que o preto da roupa inspirava a falar de coisas importantes, sobre o futuro, a arte, a literatura. O meu irmão escrevia poemas, admirava Mário de Sá Carneiro e os heterónimos de Fernando Pessoa; eu sonhava com tertúlias em Lisboa, que era para onde havia de ir estudar depois de acabar o secundário. A CEE ou "o agora é melhor" tinha mudado as perspectivas, embora a minha mãe continuasse a repetir que não tínhamos dinheiro.




Marta Caires

Ana...


                                                                       

Clarice Lispector



Muitas vezes antes de adormecer - nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior - muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono.
 E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.


Vany Campos...

Desejo-te um canto de pássaros
Perfume de lírios nas tardes mornas
Uma primavera para te acordar
Bem-te-vis teus dias azuis.

Não ter pressa para me deixar
Vento manso como brisa te afagar
E se tudo isso não trazer o riso
Ignora o viver no paraíso.

Viajo nas palavras procurando ideias
Bebo entendimentos em taça de cristal
Num sentimento de antigas lembranças
Corro para a vida por sua infinita beleza...

                                                               

Reprogramação da Memória...



LÍCIA PERES
Socióloga
“O que não me mata me fortalece”
Nietzsche
Cientistas que trabalham em pesquisas com camundongos concluem ser possível transformar lembranças desagradáveis em sentimentos positivos. Os seres humanos teriam, assim, a possibilidade de, em um futuro, viver uma vida livre de mágoas (ZH 29/8).
Senti inquietação e mal-estar.
Desconhecia estar em curso algo tão radical como a manipulação dos neurônios a partir de estímulos, capaz de reconstruir a memória com a finalidade de obter uma vida sem sofrimentos.
Como nos construiríamos enquanto seres humanos quando a vida é uma trajetória da qual o sofrimento e a finitude são elementos constitutivos?    Enfrentar as dores e as perdas, para que seja possível sua superação, nos torna criaturas inteiras e capazes de desenvolver a empatia com o próximo. Acredito mesmo que ser feliz dá trabalho. Implica saber lidar com a frustração, aceitar o inevitável, manter o foco no presente e abrir mão da ilusão do controle.
Lembro da marcante entrevista de um conceituado psicanalista gaúcho, Cyro Martins. Perguntado sobre o que era necessário para a obtenção da saúde mental, ele citou três elementos: um bom sentido de realidade, senso de humor e uma visão poética em relação à vida.
Sabendo-se que os seres humanos carregam a dualidade, o bem e o mal, e que a História registra as atrocidades cometidas contra pessoas, grupos e comunidades inteiras, como seria possível apagar a memória individual e coletiva, fazendo de conta que o acontecido inexistiu?
A enciclopédia virtual do Holocausto contém artigos, filmes, fotografias, testemunho dos sobreviventes, cronograma dos acontecimentos, o registro do horror pelo qual passou um povo e vitimou 6 milhões de judeus. Os crimes da ditadura  com as torturas, as mortes e os desaparecimentos não podem ser olvidados. Muitos dos que passaram pelo inferno estão aí, firmes, depondo, apontando seus algozes e até revivendo seus traumas a bem da verdade. Têm exercido o papel de guardiões da memória.
O racismo, a violência contra as mulheres e meninas e tantas mazelas que chegam ao nosso conhecimento diariamente exigem a tomada de posição.
Não descreio da boa intenção dos pesquisadores que procuram enganar o cérebro. Mas outros caminhos podem e devem ser trilhados para tornar a existência mais suportável.

Somos diferentes, e daí?



Uma verdade incontestável, somos todos diferentes!
E daí? Daí que, por sermos diferentes e principalmente por pensarmos diferentemente, é um grande “desafio”. O segredo do sucesso nos relacionamentos em geral é “respeitar as diferenças”.
Não estou incluindo aqui as diferenças por deficiência física, mental ou cognitivo. A essas, por lei e por consenso, é dever do cidadão, respeitar e incluir. Estou me referindo às diferenças de formação, valores, princípios, cultura, opção, escolha, preferência, enfim, à maneira de como funcionamos na vida.

No relacionamento interpessoal, amoroso, afetivo de amizades, de família, de trabalho e sociedade em geral, é comum pessoas querendo mudar outras, partindo de referências próprias que consideram ideal. Ditando de forma onipotente e prepotente o certo e o errado, o adequado e o inadequado.

A arte do relacionar-se bem, tem em sua base, uma palavra mágica, “respeito”. Só através dele, seremos capazes de reconhecer que existem inevitáveis diferenças entre um e outro e que é inútil ficar insistindo sobre quem está certo ou errado para provar quem tem razão em busca da posse da verdade.

Reconhecer as “diferenças” que ocasionam uma relevante visualização de um mesmo fato possibilita-nos conhecer o outro como ele realmente é. Assim, fazer a opção em fortalecer ou afastar-se das relações profissionais, amorosas, familiares, de amizade e sociais. No entanto, apropriando-se do “respeito às diferenças”, é possível viver em entendimento e equilíbrio em qualquer relação interpessoal. Pensar diferente é um direito de cada pessoa, se tentarmos “empurrar” alguma ideia ou coisa, fazendo com que o outro adote nossa visão de mundo como a única verdade, certamente, inicia-se uma crise na relação.
Ninguém tem o “poder” de mudar alguém, mudanças de funcionamento na vida só acontecem quando necessitamos e desejamos com determinação. Melhor aceitar que somos diferentes, e daí? Já que as diferenças são inevitáveis, vamos aprender a conviver com elas. Se prestarmos atenção, veremos que são elas que complementam os amantes, amigos, colegas, parentes e cidadãos.
 Emílio Brkanitch Filho
 Psicólogo,psicoterapeuta

Nas profundezas do coração...

Eu sempre faço caminhadas planejadas. Mas, naquele dia, saí por aí sem destino. Estava furioso. As coisas não estavam dando certo. Ensinaram-me a confiar. Confiar em quem? Eu precisava chutar alguma coisa pela calçada. Por pouco não xinguei um transeunte. Minha cabeça não parava. Tentava encontrar uma explicação. Foram vários episódios. Fugiram ao meu controle. Roubaram as ferramentas do meu auto. A oficina cobrou tudo. Mas pouco fez. Uma editora não fez o meu livro. Mas, também, não devolveu o numerário. O preço dos remédios subiu. De novo! O salário dos aposentados, dos professores e dos militares está, praticamente,  congelado. Os impostos da Prefeitura estão abusivos. Os cartórios viraram “mina de ouro”. A cidade está cheia de veículos. Conduzidos por cidadãos de categoria inferior. Atropelaram, na minha frente, um belo cão pastor alemão. Um carro dobrou, mas não deu o sinal. Outros não pararam na faixa. Como no cinema, eu estava vivendo “UM DIA DE FÚRIA!” Decidi, então, entrar na Igreja. Estava fechada. E, agora, CLAUDIO?! Que faço eu da vida sem esperança?!    De repente, avisto uma charrete deslocando-se pela Avenida SÃO LUIZ. Conduzida por um adulto miserável, trajando roupa suja. Transportando várias crianças pequenas. E dezenas de sacolas com objetos recolhidos pela Capital. Não cabia mais nada naquele veículo da classe “E”. O cavalo, cansado, seguia ao trote. Bem na frente da Igreja SÃO FRANCISCO, aquele infeliz chefe de família levantou-se, lentamente, equilibrando-se… Correndo o risco de tomar um tombo de três metros de altura. Com admirável devoção, com imperial respeito, com a mão direita, fez o Sinal da Cruz. Um pequeno milagre… escondido numa grande cidade! Aquele homem paupérrimo curou a minha revolta. Ele me surpreendeu: como é que pode?! A fome não expulsa DEUS do coração humano! A miséria não cala a voz de JESUS no coração gaúcho! Nem tudo está perdido! Vamos começar tudo de novo! DEUS não foi embora! JESUS DE NAZARÉ está vivo! Eles vivem nas profundezas… dos corações mais humildes…
Cláudio Frederico Vogt

Zibia Gasparetto...



Pense nisso:

Muitas pessoas alimentam seus medos porque acreditam que estão prevenindo o mal e com isso sentem-se mais seguros.
 Essa é uma falsa crença que atrai exatamente o que elas temem.
 O medo deprime, enfraquece, aflige e confunde as idéias.
 Só quem acredita na própria força tem a coragem para enfrentar os desafios do caminho e vencê-los.
Jogue fora todos os medos e o universo trabalhará em seu favor.

 Experimente e verá!  

A felicidade...

A Felicidade não escolhe o tempo certo para chegar: ela apenas acontece.
A Felicidade não se limita a uma só pessoa: ela contagia a quem está ao nosso redor.
A Felicidade não mora num instante: ela se arrasta por vários e vários momentos.
A Felicidade não fica parada: vez ou outra ela sai por aí, passeia por outros corações, outros abraços e olhares.

Ela não escolhe motivos, mas vive cada um deles. 
Não se apega a grandes coisas, mas vive intensamente nos pequenos detalhes.
A Felicidade não gosta de viver sozinha porque precisa de companhia para ser verdadeira. 
Não se limita, não se intimida. Não se resume.
A felicidade é complexa demais para ser explicada, mas incrivelmente simples para ser vivida.

É vivendo das sensações que a Felicidade nos proporciona que descobrimos o quão grande podemos ser, o quão grande a Vida pode se revelar, e o quão longe nossos sonhos podem ir.
É vivendo esses sentimentos que redescobrimos que tudo é questão de percepção: para quem tem coragem de sorrir, a Felicidade sorri de volta.



Rio Araguaia...


Bartolomeu Campos de Queirós...

Exige-se longo tempo e paciência para enterrar uma ausência. 
Aquele que se foi ocupa todos os vazios.
 Como água, também a ausência não permite o vácuo.
 Ela se instala mesmo entre as pausas das palavras.



Bartolomeu Campos de Queirós



  • Dói. Dói muito. Dói pelo corpo inteiro.
     Principia nas unhas, passa pelos cabelos, contagia os ossos, penaliza a memória e se estende pela altura da pele.
     Nada fica sem dor.
     Também os olhos, que só armazenam as imagens do que já fora, doem.
     A dor vem de afastadas distancias, sepultados tempos, inconvenientes lugares, inseguros futuros.
     Não se chora pelo amanhã. Só se salga a carne morta.


    Nas profundezas do coração...


    Eu sempre faço caminhadas planejadas. Mas, naquele dia, saí por aí sem destino. Estava furioso. As coisas não estavam dando certo. Ensinaram-me a confiar. Confiar em quem? Eu precisava chutar alguma coisa pela calçada. Por pouco não xinguei um transeunte. Minha cabeça não parava. Tentava encontrar uma explicação. Foram vários episódios. Fugiram ao meu controle. Roubaram as ferramentas do meu auto. A oficina cobrou tudo. Mas pouco fez. Uma editora não fez o meu livro. Mas, também, não devolveu o numerário. O preço dos remédios subiu. De novo! O salário dos aposentados, dos professores e dos militares está, praticamente,  congelado. Os impostos da Prefeitura estão abusivos. Os cartórios viraram “mina de ouro”. A cidade está cheia de veículos. Conduzidos por cidadãos de categoria inferior. Atropelaram, na minha frente, um belo cão pastor alemão. Um carro dobrou, mas não deu o sinal. Outros não pararam na faixa. Como no cinema, eu estava vivendo “UM DIA DE FÚRIA!” Decidi, então, entrar na Igreja. Estava fechada. E, agora, CLAUDIO?! Que faço eu da vida sem esperança?!    De repente, avisto uma charrete deslocando-se pela Avenida SÃO LUIZ. Conduzida por um adulto miserável, trajando roupa suja. Transportando várias crianças pequenas. E dezenas de sacolas com objetos recolhidos pela Capital. Não cabia mais nada naquele veículo da classe “E”. O cavalo, cansado, seguia ao trote. Bem na frente da Igreja SÃO FRANCISCO, aquele infeliz chefe de família levantou-se, lentamente, equilibrando-se… Correndo o risco de tomar um tombo de três metros de altura. Com admirável devoção, com imperial respeito, com a mão direita, fez o Sinal da Cruz. Um pequeno milagre… escondido numa grande cidade! Aquele homem paupérrimo curou a minha revolta. Ele me surpreendeu: como é que pode?! A fome não expulsa DEUS do coração humano! A miséria não cala a voz de JESUS no coração gaúcho! Nem tudo está perdido! Vamos começar tudo de novo!
     DEUS não foi embora! JESUS DE NAZARÉ está vivo!
     Eles vivem nas profundezas… dos corações mais humildes…
    Cláudio Frederico Vogt

    A Arte de Ser Avó...


    "Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu... É como dizem os ingleses, um ato de Deus". Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, o filho do filho, mais que filho mesmo...
    Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que você esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações, todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores com paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.
    Bracinhos de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as crianças?
    Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que você recorda.
    E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha.
    Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade, longe de ser um estranho, é um filho seu que é devolvido.
    E o espanto é que todos lhe reconhecem o direito de o amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
    Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
    E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: "Vo!", seu coração estala de felicidade, como pão no forno!
    Rachel de Queiroz

    domingo, 15 de maio de 2016

    Elizabeth Kubler Ross A roda da vida...

    Quando acabamos de fazer tudo o que viemos fazer aqui
    na Terra, podemos sair de nosso corpo, que aprisiona
    nossa alma como um casulo aprisiona a futura borboleta.
    E, na hora certa, podemos deixá-lo para trás, e não sentimos
    mais dor, nem medo, nem preocupações - estamos livres
    como uma linda borboleta voltando para casa, para Deus...

    - de uma carta a uma criança com câncer


    Dete...

    02 de abril...

    Hoje meu velho pai completaria 94 anos de vida.
     Sua presença ainda está junto a mim.
     Muitas saudades e uma imensa vontade de fazer o tempo voltar para poder demonstrar todo meu amor e gratidão.
     Seu exemplo é que me move a lutar pela valorização da paternidade na família.


    Mate...



                                           Te aprochega vem pra o mate                                             
    Vem pra roda chimarrear
    Puche um cepo conte um causo
    Pra peonada escutar
    Mate quente prosa buena
    Nos hermana no galpão
    Fim da lida outra vida
    Canha prosa e chimarrão...


    Nome do filho...



    Blog- "Nome do filho"                                                                                                                
    Mensagem de uma avó ao neto que ainda não nasceu
    25 de setembro de 2014 0         

    Post Bernadete Schleder

    Relendo meus “escritos antigos”, deparei-me com essa pequena mensagem que nominei “Recado para o Renan”. Ela foi escrita quando minha filha teve um problema na sua gravidez, que lhe fez obrigou a manter repouso absoluto até o momento do nascimento. Estou divulgando essas palavras em homenagem a todas as famílias que passam pela mesma angústia e, especialmente, para aquelas mamães que se sacrificam, abrindo mão de todas as suas atividades em prol do bem estar da criança que estão gestando. Como refiro no final da mensagem, afinal essa é a maior missão dos pais: o cuidado e a responsabilidade com o pequeno ser, oferecendo-lhe uma vida plena e saudável, desde o seu início.

    “Tu apareceste tão inesperadamente… A notícia de tua existência foi tão surpreendente que demoramos a acreditar. Trouxe alegria, esperança, sorrisos, planos e crença na continuidade da vida. Mais isso não significa que deves te apressar… Desejamos muito te conhecer sem a intervenção da tecnologia. Sentir tua pele, teu cheirinho, ouvir teus primeiros sons, ver o teu rostinho e teu pequeno corpo. Temos pressa em te abraçar e demonstrar todo o nosso amor. Aguardamos ansiosos pela possibilidade de ver o primeiro sorriso, o brilho do olhar, o rosado da tua face. Queremos poder reconhecer na tua fisionomia os traços da família que escolheste para nascer.

    Cada um de nós torce para ser o primeiro a descobrir teu primeiro dentinho e disputamos pela sorte de acompanhar teus primeiros passos e primeiras palavras. Já planejamos muitas coisas para fazer contigo. Estamos loucos para te fotografar eternizando as etapas do teu desenvolvimento. Temos que nos conter para não antecipar as tuas futuras preferências. Apesar de não ter sido esperado, talvez nenhuma criança tenha sido mais desejada. Mas, meu menino, isso não quer dizer que estamos te apressando. Estás agora no lugar mais adequado e confortável que a natureza pode te oferecer. Aproveita esse pequeno ninho, “curte” o corpo da tua mãe o melhor que puderes e o maior tempo possível. Essa é a maior graça que Deus pode conceder tanto a ela quanto a você.

    Nesse momento vocês dois são um só corpo e vivem o momento de maior intimidade possível entre dois seres. Apesar de esse vínculo ser eterno, ele deixará de ser físico. É uma etapa única e a mais importante de toda a tua vida e também da vida de tua mãe. Ficas aí mais um pouco, porém, tenhas a certeza de que a tua chegada será muito comemorada e especial, não importa quando ela ocorra. Não te preocupes com o sacrifício que estás exigindo dos teus pais. Os momentos difíceis apenas servirão para estreitar ainda mais o laço de amor entre vocês. E, afinal, eles somente estão exercendo a maior e a mais divina de todas as tarefas humanas: o dever do cuidado dos pais com seus filhos. Com muito amor da família aqui de fora”.

    Wanderley Elia

    Cantarei a
    flor do deserto
    por sua coragem,
    a paciência 

    dos monges
    por sua espera,
    a valentia 
    das mães
    por seu desprendimento.
    Cantarei também
    a vida por suas
    dúvidas,
    e a morte por
    sua certeza.


                                                       

    Renato...


    Para conhecimento da família:                 





    Vocês sabem que o Renato foi entregue pela mãe Luíza com dois anos de idade (tamanho do Renan), para ser criado pela Dona Morena e seu marido. Ele e seus três irmãos: José Carlos, Marília e outra irmã que eles não encontraram.
     A vida inteira ele sofreu com preconceitos em virtude disso, além de ter muitos problemas que devem ter essa origem. A mãe só o visitou uma única vez, e ele não quis olhar para o seu rosto, e sempre teve pesadelos com uma “mulher sem cabeça”.
     Quando eu fui trabalhar em Cachoeira do Sul, ele se empenhou para encontrá-la, e acabou conhecendo duas novas irmãs: Nádia e Maria Emília. Desde então manteve contato com a mãe e com a Nádia e sua família, que sempre o receberam muito bem. No entanto, a Maria Emília não quis se relacionar. Com a doença da Luiza, e a ida dela para a casa de Repouso, o Renato continuou visitando-as esporadicamente, mas sou testemunha de que ele e a mãe não tinham muita afinidade, inclusive ela sempre pedia notícias do José Carlos, que parecia ser seu filho preferido, talvez por ser o mais velho.
     A Nádia, ao contrário, sempre foi muito carinhosa com o irmão. 
    No último dia das mães, o Renato resolveu fazer uma visita diferente para a mãe na Casa de Repouso. Levou alguns alunos e eles se apresentaram para todos os velhinhos da casa. Ela ficou muito emocionada e orgulhosa do filho. Foi a última vez que ele a viu. 
    Agora, com o falecimento dela, ele estava com receio de ir, de como se comportar, afinal ele e o José Carlos ( a Marília não quis encontrar a mãe), faziam parte de um “passado” que ela havia ocultado da família e dos conhecidos de Cachoeira.
     Para nossa surpresa, quando chegamos no velório tinha um papel afixado na parede com os “dados da falecida”. Ali constava que ela tinha deixado quatro filhos: José Carlos, Renato, Nádia e Maria Emília.
     Ele foi apresentado a muitas pessoas, que o trataram muito bem, inclusive a irmã que antes o tinha “rejeitado”. Ele soube que havia proporcionado a última grande alegria para a sua mãe, com aquela “apresentação”. Foi solicitado para auxiliar a carregar o caixão, enfim, foi integrado à cerimônia como membro da família. Por estranho que pareça, o evento da morte de mãe biológica lhe fez bem..

    Bernadete...                    

    Família...



    Família é refúgio e oásis, aconchego e segurança, afeto e companheirismo.

     É uma roupa seca após a chuva, um chocolate quente no inverno, um copo d´água após a caminhada.
    Família é identidade, aprovação, cumplicidade, conexão.
     É repouso e apoio, cuidado e abraço, é útero, seio.

    É preciso amor para ser família, porque família é dedicação.
    Na cozinha e no gesto, família é alimento que nutre, carinho que sacia.
    Família é suprimento, ponto de referência, envolvimento, coesão.
     Família é direção.
    Na sala e na palavra, família é reunião, festa, boas vindas.
    É preciso estar aberto para ser família, porque família é agregação.

    Família não se compra, não se escolhe, não se inventa. 
    Família é presente, dádiva, mimo.

    É presença, plantão, atendimento de urgência. Família é união.
    É preciso altruísmo para ser família, porque família é abnegação.
    Família é aceitar, acolher, esquecer, retroceder.
     No quarto e no coração, família é aquecer, proteger 

    Família é impulso, empurrão, é incentivo, força. É esconderijo, cobertor.
    Família é motivação, objetivo, tábua de salvação.
    É preciso vontade para ser família, porque família é aceitação.
    Família é conviver com erros e defeitos, dar um jeito, resolver.
    É descendência, ascendência, expansão. Família é multiplicação.

    Família não tem preço, é apreço, solução.
    É estar em paz, em casa, pés no chão. É sonho, projeto, realização.
    São braços abertos, mãos nos ombros, olhar de ternura.
    Na porta e na alma, família é chegada e partida, olá e até logo.
    Família é companhia, rumo.
    Família nos põe nos eixos e nos reconduz.
    Família é nossa luz.