quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Lindas dálias...


Um lindo dia para você...


Paul MacCartney...


Mário Quintana...



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
.
........... 'Mário Quintana'

Salão de Beleza...

A penteadeira da avó
é um mundo:
pote de cremes variados,
pentes, escovas, perfumes
e vidros coloridos, grampos,
porta-retratos, fitas de cetim,
batom, sombra, pó de arroz.
A neta senta a avó
num banquinho
e começa a trabalhar:
com suas pequenas mãos
trança os cabelos da avó
para que ela se transforme
numa bela rainha
e espalhe pão e amor
pelo mundo.



Roseana Murray

Em Colo de Avó / Ed. Manati

Twiggy...


Desapego...


Todo cão é fiel....




Tenho um irmão amado que mora em Faxinal do Soturno: Miguel, juiz, pai do Murilo e casado com  
Milena.
É o caçula de casa, o único que se dá bem com toda a família e o mais quieto e sábio, talvez porque foi o último a chegar nas brigas e descobriu que eram insolúveis e não valeria a pena perder tempo
com elas.
Ele cuida de dois cachorros. O mais novo, um salsicha, o Mandi, foi atropelado na frente do Miguel. Escapou de um passeio vigiado na residência e se animou a atravessar a rua de repente.
Diante do estrondo das rodas, do rasgo do freio e do latido esganiçado, Miguel correu para socorrê-lo. Mesmo abatido, mesmo morrendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver seu dono.
Destroçado, encolhido na frieza das pedras, fez um esforço colossal de mexer o rabo para festejar as mãos de Miguel em sua cabeça.
Apesar de ferido e sangrando, alheio a sua condição agonizante, mexeu o rabo, esta mão prodigiosa que o cachorro tem além das patas, esta antena do coração, esta risada do corpo.
Mesmo soltando seu último suspiro, mesmo desesperadamente doendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver o Miguel próximo.
Mesmo no pior momento de sua vida, ele encontrou um instante de felicidade e ternura, e acenou com o rabo, quis demonstrar para Miguel que o amava.
Mexeu o rabo de agradecimento. Mexeu o rabo de comoção. Mexeu o rabo, como sempre mexeu o rabo, quando Miguel chegava do trabalho e perguntava pelo seu nome pelos corredores. Nada mudaria seu hábito de mexer o rabo. Nada arrancaria dele o gesto puro e repetido dia a dia.
Nem o fim impediu sua declaração. Nem a falta de ar, o medo, a angústia de não estar mais entre nós para sempre.
Ficou mais feliz de ver Miguel do que triste de morrer.
Ele é um exemplo de como não ser tragado pela infelicidade.
O quanto não devemos nos afundar na angústia, seremos maiores do que as fatalidades e os reveses, pois poderemos agradecer o que somos e o que recebemos.
Ainda que nossa vida esteja perdida, temos uma chance de eternizá-la ao nos entregar para a amizade do outro.
Miguel mexeu os olhos em resposta. Sem ter certeza se estava rindo pelo carinho surpreendente de seu cão naquele momento ou chorando pelo acidente trágico.
As lágrimas escorriam, ao mesmo tempo, de contentamento envergonhado e de dor exagerada.
Não conseguia separar os sentimentos.
Isto é a grandeza do humano, a imprevisibilidade do amor, que também mora na alma dos cachorros.

Carpinejar

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Nossa Senhora do Brasil...


Roseana Murray...

Ler um gato é muito diferente do que ler um cachorro.

 O gato é um texto que se esquiva, se esconde entre duas

 auroras, na fronteira entre o mágico e o irreal.

 O gato é sinuoso, seu texto é macio, é poesia, nunca se

deixa apreender por inteiro.

 O gato é escorregadio, vive nas entrelinhas.

Para ler um cachorro não se precisa de óculos especiais
.
 Seu texto é escrito em maiúscula, diz claro e em bom tom o

 que pensa e a que veio.

O cachorro é prosa, o gato é música, é poesia.



sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bibiana Benites...



As pessoas conhecem a nossa versão, o nosso lado, as 

nossas queixas, mas não a nossa essência.

 Pouca gente

 sabe como a gente convive por dentro, sente, e é de

 verdade.


Apenas nós levamos na bagagem da vida a nossa melhor 



parte, e o nosso mais bonito lado: o de dentro.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Angel...


As Rosas...


Rosas que desabrochais, 
Como os primeiros amores, 
Aos suaves resplendores 
          Matinais; 

Em vão ostentais, em vão, 
A vossa graça suprema; 
De pouco vale; é o diadema 
          Da ilusão. 

Em vão encheis de aroma o ar da tarde; 
Em vão abris o seio úmido e fresco 
Do sol nascente aos beijos amorosos; 
Em vão ornais a fronte à meiga virgem; 
Em vão, como penhor de puro afeto, 
          Como um elo das almas, 
Passais do seio amante ao seio amante; 
          Lá bate a hora infausta 
Em que é força morrer; as folhas lindas 
Perdem o viço da manhã primeira, 
          As graças e o perfume. 
Rosas que sois então? – Restos perdidos, 
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha 
Brisa do inverno ou mão indiferente. 

          Tal é o vosso destino, 
          Ó filhas da natureza; 
          Em que vos pese à beleza, 
                   Pereceis; 
          Mas, não... Se a mão de um poeta 
          Vos cultiva agora, ó rosas, 
          Mais vivas, mais jubilosas, 
                   Floresceis. 

Machado de Assis, in 'Crisálidas' 

Mário Quintana...



                                                    Plante seu jardim e decore sua alma,

                                        ao invés de esperar que alguém lhe traga flores!"

                                              

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

28 de Novembro... Dia de Ação de Graças!

O dia amanheceu branquinho nesse feriado de thanksgiving, o Dia de Ação de Graças americano. Há quatro dedos de neve acumulada no solo duro e nos telhados inclinados, e isso que estamos apenas no outono do Hemisfério Norte. Foi o suficiente para o meu filho se encantar com a paisagem, e eu também. É frio, mas é bonito.



Gosto disso, de haver um dia dedicado a agradecer às coisas boas da vida. São muitas, realmente. Poderia ficar até a noite aqui, olhando pela grande janela francesa da minha sala, vendo a natureza e a cidade que se ergue em meio a ela, ambas oscilando entre o severo e o exuberante, poderia ficar aqui até escurecer, agradecendo. A vida é boa.

Mas a vida não é reta, de forma alguma. Está sempre acontecendo, sempre no gerúndio e sempre fazendo curvas inesperadas. E eu... eu não fico pronto nunca. Todos os dias descubro defeitos a corrigir e contemplo o infinito do que falta a aprender. E quem garante que estou avançando? Quem garante que é uma evolução? Posso muito bem estar piorando, em vez de melhorar.

Penso nisso enquanto observo os esquilos correndo pelos galhos nus das árvores. Vou resistir a tecer qualquer imagem que compare a minha existência à atividade dos esquilos ou à visão da neve derretendo, seja o que for que esteja diante de mim. Nem consigo pensar muito tempo na minha própria vida, logo penso no Brasil.

Sim, estou num mundo distante, num cenário nada tropical, mas penso no Brasil. Não por nostalgia, não por patriotismo, nada disso. É que razoável parcela das graças que me foram dadas e pelas quais jogo minhas mãos para o céu estão aí, no Brasil: são as pessoas. As minhas relações afetivas.

Então, me questiono: o Brasil estará melhorando?

O Brasil também vive no gerúndio e, quando olho para a educação básica e fundamental, para a saúde e para a segurança, que são as áreas de responsabilidade dos governos, quando olho para esse lado, estremeço: aí, o Brasil só piorou.

Mas, institucionalmente, o Brasil mudou para melhor. Hoje nós brasileiros compreendemos a democracia como um bem em si e nossas ideias do que é ou não é ético estão mais claras. Já não aceitamos certos arranjos do passado até recente. E isso não foi obra de governo algum. Nossos governos, de Collor para cá, tiveram certos méritos e muitas falhas, mas a verdadeira evolução se deu na consciência social. 

A independência da imprensa, do Ministério Público e da Polícia Federal, as leis anticorrupção e o instituto da delação premiada, tudo isso é fruto de conquistas da sociedade, não é benevolência de líderes abençoados. Os brasileiros exigiram mudanças nesse setor da vida pública, e elas ocorreram.

Agora, nas próximas semanas ou meses, o Brasil estremecerá quando os detalhes das investigações sobre a corrupção na sua maior empresa forem revelados. Os nomes dos políticos envolvidos, enfim, serão divulgados. E, nesse momento, veremos o nível da nossa evolução. Muitos querem nos fazer participar de um campeonato de corrupção. Quem rouba mais? Governo ou oposição? Roubou-se mais agora ou antes? Não é o que está em disputa. Não há disputa. O que há é uma  oportunidade quase religiosa de se redimir pela expiação. É corrupto? Puna-se. Seja quem for, de onde for.

Ficou comprovado que o governo do PT é corrupto? Tirem esse governo e ponham outro em seu lugar, como já foi feito. O outro, digamos, do PMDB de Temer, comprovou-se que também se corrompeu? Tirem-no e o substituam por um novo. O novo, sei lá, do PSDB de Aécio, mostrou-se igualmente corrupto? Tirem-no também, sem vacilação. E vamos tirando e vamos trocando. Haveremos de encontrar os honestos. Mas sempre mantendo a regra constitucional, a lisura democrática e, se não for comprovada irregularidade, que fique como está.

Ah, é uma bela oportunidade de evoluir. Temos de dar graças a essa chance. Porque, sim, o Brasil está melhorando. Decerto que está. Queria, agora, olhar para essa manhã gelada lá fora e pensar que eu também.

David Coimbra

A Vida Continua...


"Hoje, de algum lugar longe dessas terras, há um doce olhar só pra você.
 Um olhar especial, de alguém especial, de distantes origens. Um olhar de um justo coração que pulsa só a vida, que sorri porque ama plenamente, sem julgamentos, preconceitos nem prisões.

Hoje, como ontem, longe desses céus, há um encantado olhar só pra você.
 Nesse olhar vai para você a magia da luz, a simplicidade do perdão, a força para comungar com a vida, a esperança de dias mais radiantes de paz.
Hoje, de algum lugar dentro de você, alguém que já o amou muito e ainda o ama, diz para você que valeu a pena ter estado nessas terras, sob estes céus, falando de união, paz, amor e perdão.
 Poder sentir a força que faz você sorrir, e continuar o caminho, que um dia aquele doce olhar iniciou pra você. Tudo isso, só para você saber que: 

A VIDA CONTINUA...



Envelhecer...




A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer.
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer.
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer.
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer.
Não quero morrer, pois quero ver
como será que deve ser envelhecer.
Eu quero é viver pra ver qual é,
e dizer venha pra o que vai acontecer.
Eu quero que o tapete voe
no meio da sala de estar,
eu quero que a panela de pressão pressione
e que a pia comece a pingar.
Eu quero que a sirene soe
e me faça levantar do sofá,
eu quero pôr Rita Pavone
no ringtone do meu celular.
Eu quero estar no meio do ciclone
pra poder aproveitar,
e quando eu esquecer meu próprio nome
que me chamem de velho gagá!
Pois ser eternamente adolescente nada é mais démodé!
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer.
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender.
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr!

Arnaldo Antunes

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Nádia Santos...

O tempo hoje me visitou, e com sua sapiência, me confortou

e abraçou,

 pedindo fé e paciência...





Silenciar...



Silenciar é tratar as palavras com delicadeza.

Em nosso mundo barulhento, o silêncio é uma forma de 

doçura.

Um carinho que fazemos aos outros para lhes dizer que,

apesar de tudo, mesmo sem nada dizer,

continuamos aqui.



José Castelo.

Caixa...



Carregamos pela vida afora
os cheiros dos encontros raros,
dos acontecimentos,
da nossa primeira casa,

do quintal, se houve quintal,
da mãe na cozinha,
dos sonhos quando acordamos.
Se houvesse uma caixa
para guardá-los, seriam
nosso tesouro.
E então, em dias de saudade,
abriríamos nossa caixa
e mergulharíamos
como num túnel do tempo.

- Roseana Murray
Em Cinco Sentidos e Outros

Realidade II


Realidade...


Doce Ternura...

                                                                                                           

Avance a cada dia para adquirir a maturidade da vida.
Não deixe que os anos de sua vida corram e sua cabeça e o seu coração fiquem estacionados no tempo. Abrace as decepções e mágoas, como oportunidades de revisão e superação na vida, não fique parado nos sofrimentos de ontem e não permita que aquilo que te machucou e até feriu assuma o comando dos seus afetos. Ninguém pode fazer mais mal ao seu coração do que você mesmo. Os outros podem até decepcionarem e contrariarem suas expectativas, quem decide se levo a diante ou se supero as feridas da vida sou eu mesmo. Não existe superação sem decisão interior,assim como não existe um novo caminho se eu não me decido andar por uma nova estrada. Então, eu decidi cuidar do meu coração, porque quero viver intensamente todos os dias da minha vida . Por isso não me permito viver mastigando os erros do passado, as magoas que me feriram e os projetos que não se realizaram. Eu prefiro viver um dia de cada vez, sabendo que hoje não precisa ser igual a ontem e nem o amanhã igual a todos os outros dias. Eu me permito chorar, ficar chateado, ressentido e até triste porque não quero que estes sejam os ingredientes principais para saborear na minha vida. Eu me permito ser fraco, porque o orgulho me faz cego. Porém eu quero avançar de modo a não ficar parado nos meus erros, a não estacionar no pouco que já fiz, e a não ficar olhando só para frente e se esquecer de viver o hoje


 ( By Roger Arante)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O apego que faz sofrer...


Sofremos muito nesta vida porque gastamos muito tempo correndo atrás de coisas 
transitórias, que não satisfazem o nosso coração. Só o que está acima de nós pode nos 
satisfazer, não o que está abaixo, a matéria e as paixões.

Deus dispôs tudo neste mundo de modo que nada fosse durável para sempre. Qual seria o
 desígnio de Deus nisso?

Cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, acordar, 
tomar banho, alimentar-nos, etc.

Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria 
manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos 
pulmões. Todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter.
 Tudo é transitório nesta vida… nada imperecível.

Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se abre logo estará 
murcha, Todo dia que nasce logo se esvai… e assim tudo passa, tudo é transitório.

Compra-se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele
 estará bastante rodado e desgastado… e assim por diante.

Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro?

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A 
marca da vida é a renovação.

A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que Deus nos quer dar 
de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida
 duradoura, eterna, perene, muito melhor.

Santo Agostinho perguntava: “De que vale viver bem, se eu não puder viver para sempre?

Se não entendermos e não aceitarmos esta realidade, sofreremos muito nesta vida, pois
 estaremos o tempo todo, a vida toda, lutando desesperadamente contra esta lei 
inexorável: 
tudo passa.


Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, ouça Deus dizer: “Não se prenda a 
esta vida transitória. Prepare-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e
 nada precisará ser renovado dia a dia.”

Isto mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma
 bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não
 lhe pertence.

Muito sofre quem se apega a este mundo e às criaturas, achando que não vai ter fim, e 
pensando que aqui poderá ter toda a felicidade, ou que poderá construir o céu na terra
.
Aquele que se apega às coisas e a este mundo, sente que a cada passo, as coisas são 
como que arrancadas das suas mãos pela vida. Então, quanto menos apego melhor. 
Quanto menos você se apegar às coisas e às pessoas, menos você sofrerá. Mais livre 
será.

Com a precariedade da vida e de tudo o que nos cerca, Deus nos ensina, diária e
 constantemente, que tudo passa e que não adianta querer construir o céu aqui nesta terra
.

Prof Felipe Aquino

(trecho retirado do livro: Sofrendo na Fé – Editora Cléofas)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cristiane Lisboa



Envelhecer tem sido uma epifania. 
Uma boniteza, uma calma, uma preguiça de urgências, corridas, descompassos, mapas.
 Compreende-se candura, desapego, o valor de um não...
 Alargam-se as estantes, o coração esparrama um pouco pelas frestas das cicatrizes. 
Estas, se acomodam melhor. Procura-se menos...