sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Abraço...

 
 
 
 
 
 
 
"Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos.
 O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia.
 O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra.
 O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra.
 O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos.
 A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante."
 
 Ana Jácomo


 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O caminho como arquétipo...

 




Tenho especial fascínio por caminhos, especialmente caminhos de roça, que sobem penosamente a montanha e desaparecem na curva da mata. Ou caminhos cobertos de folhas de outono, multicores e emtardes mortiças, pelos quais andava nos meus tempos de estudante, nos Alpes do sul da Alemanha. É que os caminhos estão dentro de nós. E há que se perguntar aos caminhos o porquê das distâncias, porquê, por vezes, são tortuosos, cansativos e difíceis de percorrer. Eles guardam os segredos dos pés dos caminhantes, o peso de sua tristeza, a leveza de sua alegria ao encontrar a pessoa amada.


O caminho constitui um dos arquétipos mais ancestrais da psiqué humana. O ser humano guarda a memória de todo o caminho perseguido pelos 13,7 bilhões de anos do processo de evolução. Especialmente guarda a memória de quando nossos antepassados emergiram: o ramo dos vertebrados, a classe dos mamíferos, a ordem dos primatas, a família dos hominidas, o gênero homo, a espécie sapiens/demens atual.


Por causa desta incomensurável memória, o caminho humano apresenta-se tão complexo e, por vezes, indecifrável. No caminho de cada pessoa trabalham sempre milhões e milhões de experiências de caminhos passados e andados por infindáveis gerações. A tarefa de cada um é prolongar este caminho e fazer o seu caminho de tal forma que melhore e aprofunde o caminho recebido, endireite o torto e legue aos futuros caminhantes, um caminho enriquecido com sua pisada.


Sempre o caminho foi e continua sendo uma experiência de rumo que indica a meta e, simultaneamente, ele é o meio pelo qual se alcança a meta. Sem caminho nos sentimos perdidos, interior e exteriormente. Mergulhamos na escuridão e na confusão. Como hoje, a humanidade, sem rumo e num voo cego, sem bússula e estrelas a orientar as noites ameaçadoras.

Cada ser humano é homo viator, é um caminhante pelas estradas da vida. Como diz o poeta cantante indígena argentino Atahulpa Yupanki, “o ser humano é a Terra que caminha”. Não recebemos a existência pronta. Devemos construí-la. E para isso importa rasgar caminho, a partir epara além dos caminhos andados que nos antecederam. Mesmo assim, o nosso caminho pessoal e particular nunca é dado uma vez por todas. Tem que ser construído com criatividade e destemor. Como diz o poeta espanhol António Machado: “caminhante, não há caminho, se faz caminho caminhando”.



"Cada ser humano é homo viator,

é um caminhante pelas estradas da vida.

Como diz o poeta cantante indígena argentino

Atahulpa Yupanki, “o ser humano é a Terra que caminha”. Não recebemos a existência pronta.

Devemos construí-la."



Efetivamente, estamos sempre a caminho de nós mesmos. Fundamentalmente, ou nos realizamos ou nos perdemos. Por isso, há basicamente dois caminhos como diz o primeiro salmo da Bíblia: o caminho do justo e o caminho do ímpio, o caminho da luz ou o caminho das trevas, o caminho do egoísmo ou o caminho da solidariedade, o caminho do amor ou o caminho da indiferença, o caminho da paz ou o caminho do conflito. Numa palavra: ou o caminho que leva a um fim bom ou o caminho que leva a um abismo.


Mas prestemos a atenção: a condição humana concreta é sempre a coexistência dos dois caminhos e o entrecruzamento entre eles. No bom caminho se esconde também o mau. No mau, o bom. Ambos atravessam nosso coração. Essa é o nosso drama que pode se transformar em crise e até em tragédia.


Como é difícil separar totalmente o joio do trigo, o bom do mau caminho, somos obrigados fazer uma opção fundamental por um deles: pelo bom embora nos custe renúncias e até nos traga desvantagens; mas pelo menos nos dá a paz da consciência e a percepção de fazermos o certo. E há os que optam pelo caminho do mal: este é mais fácil, não impõe nenhum constrangimento, pois vale tudo contanto que traga vantagens. Mas cobra um preço: a acusação da consciência e os riscos de punições e até da eliminação.


Mas a opção fundamental confere a qualidade ética ao caminho humano. Se optamos pelo bom caminho, não serão pequenos passos equivocados ou tropeços que irão destruir o caminho e seu rumo. O que conta realmente frente à consciência e diante d'Aquele que a todos julga com justiça, é esta opção fundamental.


Por esta razão, a tendência dominante na teologia moral cristã é substituir a linguagem de pecado venial ou mortal por outra mais adequada à unidade do caminho humano: fidelidade ou infidelidade à opção fundamental. Não se há de isolar atos e julga-los desconectados da opção fundamental. Trata-se de captar a atitude básica e o projeto de fundo que se traduz em atos e que unifica a direção da vida. Se esta opta pelo bem, com constância e fidelidade, será ela que conferirá maior ou menor bondade aos atos, não obstante os altos e baixos que sempre ocorrem mas que não chegam a destruir o caminho do bem. Este vive no estado de graça. Mas há também os que optaram pelo caminho do mal. Por certo passarão pela severa clínica de Deus caso acolherem misericórdia de suas maldades.


Não há escapatória: temos que escolher que caminho construir e como seguir por ele, sabendo que “viver é perigoso”(G. Rosa). Mas nunca andamos sós. Multidões caminham conosco, solidárias no mesmo destino acompanhadas por Alguém chamado:”Emanuel, Deus conosco”.              (Leonardo Boff)
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tempo cheio de vazio...



 O passado já teve mais valor. O século 19 era pra lá de nostálgico e até mesmo romântico. Havia muita presença da infância nas artes, em especial a poesia, que conheço um pouco mais. As razões para isto são variadas e escapam ao espaço da coluna. Ainda bem, porque me escapam também. Eu sigo buscando e, um dia desses, achei uma delas: a expectativa de vida era menor.

Hoje, a vida é mais longa. Ela chega a ser crônica para o poeta Leminski, mas passa rápido para todos nós. A expressão “matar um leão por dia” lembra que logo esquecemos tudo. “Brasileiro não tem memória”, idem.
Outro aspecto que venho aprendendo tem a ver com a solidez dos encontros e a profundidade dos vínculos. Que hoje sejam mais breves e líquidos, como diz o Bauman, ajuda a entender a necessidade de buscar o novo. Sedentos de afetos, nós não desistimos de encontrar os duradouros e sólidos. Não é ritmo de livro, mas de filme, a Busca Frenética, de Polanski. 



Não se trata de apregoar a aposentadoria, e sim valorizar o vivido para encontrar abrigo na lembrança, enquanto vivemos um drama. O psicanalista Viktor Frankl utilizou esta ideia após a II Grande Guerra. Ele recebia pacientes que acabaram de perder tudo. Antes fosse tudo: perderam todos, filhos, pais, esposa, marido, a família inteira. Frankl fez arte da ciência, valorizando o sentido, no presente, a partir do passado.

A intenção é simples e, ao mesmo tempo, complexa. Se o filho existiu e houve amor, há um bem inalienável, ninguém tira, nem mesmo o futuro, nem mesmo a morte. O poeta John Keats, no passado, escreveu algo parecido: “Uma beleza é um tesouro para sempre”.

E é, embora poucos saibam. A própria poesia acusou o golpe, um século depois: “Em que espelho ficou perdida a minha face?”, perguntou Cecília Meireles, desesperada com a brevidade da existência. Mais desesperados estão hoje os amantes, feridos da mortal certeza de que tudo acabou quando acaba. Como se o presente ou o futuro tivessem muito poder frente ao passado.

Ou pudessem roubar os tesouros da beleza bem guardada, quebrar os espelhos bem olhados e apagar as faces bem vividas. Junta-se a eles a maioria dos pais, machucados pela tristeza de ver os filhos partirem. Ao não levarem fé na recordação, mãe e pai fazem vista grossa para o cofre da memória e acreditam que o ninho está deserto.

Finalmente, surge a legião de quase todos nós, habitantes de um tempo cheio de vazio, carente de mitos e narrativas. Esvaziada a experiência, banalizado o encontro, sequer podemos contá-lo para lembrar. Como viciados, necessitamos de tudo outra vez, imediatamente. Não tem marca, não tem descanso, não tem permanência.


                               ( Celso Gutfreind)




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mãos dadas...



Quando nossas mãos se tocam
Ao caminhar na beira-mar, vem
Logo um gosto de casa, de calor
Das coisas feitas com amor...
Quando nossas mãos se encontram
Há luz no caminho que percorremos
Céu e mar ganham tons de rosa
E o coração fica em paz....
Quando nossas mãos se entrelaçam


O universo conspira em silêncio
Protegendo-nos de todo o mal,
Guardando este amor para sempre...
De mãos dadas você é meu guia,
É uma alma que abraça outra alma,
Para amar e ser amada,
É tarde cinza de inverno
Que se ilumina na beira mar....
 
Sônia Schmorantz

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ravi Shankar...


Cecília Meireles...

 
 
 
Pousa sobre esses espetáculos infatigáveis
uma sonora ou silenciosa canção:
flor do espírito, desinteressada e efêmera.

Por ela, os homens te conhecerão:
por ela, os tempos versáteis saberão
que o mundo ficou mais belo, ainda que inutilmente,
quando por ele andou teu coração.
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sobre a velhice...



“…carrego dentro de mim o que me mata. Falta-me tempo para as frivolidades, tenho nas mãos uma imensa tarefa. Como a realizarei? Vejo que a morte se apressa e a vida foge. Diante dessas duas pressões, ensina-me algum expediente! Faze com que eu não fuja da morte e que a vida não me escape. Exorta-me com relação ao que é difícil; dá-me longevidade contra aquilo que é inevitável. Vem alargar meu tempo, que é tão curto. Ensina-me que a boa vida não se mede pela duração mas como a empregamos. Acontece muitas vezes que uma longa vida não é realmente vivida”. (Sêneca)
 

O jovem almeja viver muito, mas dificilmente se imagina idoso. A juventude parece-lhe eterna e raramente verá no velho diante de si o espelho que reflete a sua imagem futura – isto se tiver a sorte, ou azar, de viver muito, pois a ninguém é garantido atingir a velhice. Os jovens, em geral, sentem-se imortais, a morte parecem-lhes mais apropriada aos que chegaram à terceira idade – recusam-se a pensar na morte e nisto são acompanhados por muitos idosos iludidos com a seqüência do passar dos dias. Alguns até desdenham dos mais velhos – talvez, inconscientemente, seja uma reação de auto-proteção e de recusa do futuro que se anuncia. “Um jovem”, escreve Ernst Bloch, “pode imaginar-se como homem, mas dificilmente como idoso: a manhã aponta para o meio dia, não para a noite. Em si é estranho que o envelhecimento, na medida em que se refere à perda da condição anterior com ou sem razão sentida como mais bela, só comece a ser percebido por volta dos 50anos. Não haveria perda para o jovem que deixa para trás a criança? E não haveria uma perda para o homem quando deixa a florescência da juventude, quando o impulso se atrofia?”



O cinquentenário parece anunciar o movimento de descida. Agora, a vida desce ladeira abaixo. Há o risco de deprimir-se diante da certeza de que a vida esvaece-se a cada dia e a morte parece mais próxima. O otimista reage fazendo de conta que a vida não passou, iludindo-se com o apego à juventude. O dito de que permanecemos jovens em espírito é um engodo. Não há como negar que o tempo passou, as marcas na face, as doenças que irrompem, as dores no corpo, a perda da vitalidade, etc., demonstram-no. “O tempo passa com uma infinita velocidade, e só percebemos bem se olharmos para trás; o passado escapa aos que se absorvem no presente, tal o modo pelo qual essa fuga ocorre sutilmente”, afirma Sêneca.



Não é preciso enganar-se, fazer de conta de que o tempo não passou, nem cair em depressão diante das dificuldades que o avançar da idade impõe. Basta encarar com naturalidade. Começamos a morrer tão logo nascemos, é a dialética da vida. Os jovens não estão isentos do sofrimento e as dores do tempo não são exclusividade dos idosos. “Mas incomoda”, dizes, “ter a morte em vida.” Em primeiro lugar, ela está sempre presente, quer para o velho ou para o jovem – e não se trata aqui de consenso surgido de uma votação. Depois, ninguém é tão velho que não possa reivindicar para si mais um dia. Um dia é um degrau na vida”.



O mais importante na vida não é a longevidade, mas o viver bem. Chegar à velhice não significa necessariamente ter vivido mais, pois aquele que a morte abraçou em tenra idade viveu bem se intensamente. “Que importa, afinal de contas, sair antes ou mais tarde de onde se deve mesmo sair? O essencial não é viver por muito tempo, mas viver plenamente”. Pois, de que adianta ao homem, “oitenta anos passados sem ter feito nada? Ele não morreu tarde, mas ficou morrendo por longo tempo. Viveu oitenta anos, mas viveu mesmo? Importa saber a partir de quando se conta sua morte?”
 



A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que, então, temer a velhice? A morte não escolhe idade, por que temê-la? “É um homem muito feliz e com plena posse de si mesmo o que espera o amanhã sem inquietude. Todo o que diz “já vivi” recebe cotidianamente mais um dia como lucro”.  O amanhã não nos pertence! Portanto, encaremos com alegria ter vivido o que nos foi permitido. Ainda que o tempo imprima marcas indeléveis no corpo e alma que chega aos 50 anos de existência, nos alegremos por cada dia acrescentado ao viver. Afinal, a velhice tem as suas vantagens!
 
                                ( Antonio Ozai da Silva)


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Altar e Feng Shui...


 

            

 


Os altares podem ser feitos nos cantos da espiritualidade/sabedoria e no canto dos amigos. Mas, também podem estar em cantos especiais como varandas, próximos a entradas, em salas de estudo ou meditação. 
 
Imagens - dependem muito da religião, da crença e da espiritualidade de cada um. Os altares podem manter imagens apenas de sua religião. E outros podem ter uma mistura de imagens de várias crenças - desde que se tenha fé. As imagens podem estar presentes em posteres ou esculturas e em geral ficam posicionadas de frente para o ambiente.

Elementos - Muito bom ter no altar a representação dos elementos da natureza: ar, terra, fogo e água. Um sino representa o ar, cristais reprsentam a terra, vela representam o fogo e a água - benta ou não - se auto representa.

Plantas e flores - Ativam boas energias e são símbolos de oferendas.

Incensos - Mirra, olíbano, indianos e tibetanos são ótimos para meditação, relaxamento e concentração. Também são símbolos de ofernda e intensificam os pedidos e preces.

Livros - com mensagens positivas, orações,mantras e afirmações ajudam a começar o dia bem.

O altar pode estar em uma prateleira, uma mesa, um aparador ou um nicho de estante. Coloque uma bela toalha para enfeitar que pode ter as cores da espiritualidade: lilás, roxo, azul e verde. Vale colocar mensagens, pedidos, intenções, fotos. E com certeza boas vibrações estarão na sua casa!!!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O panetone nosso de cada dia...


 

Dos alimentos tradicionalmente consumidos na época do Natal, o Panetone talvez seja o mais característico e o que melhor se identifica para a ocasião. Numa ceia natalina que se
preze não pode faltar este acompanhamento para a carne de peru, para as nozes e as frutas da estação. De sabor docemente diferenciado, com formas arredondadas e mescla de damasco, laranja, figo, maçã e uva passa, traduz o gosto inconfundível da comemoração em família.

Há relatos de que o panetone teria sido inventado no ano de 1395 pelo mestre-cuca Gian Galeazzo Visconti, primeiro duque de Milão. O fato teria acontecido por ocasião de uma festa. Outra versão, é de que foi criado por um padeiro milanês da região da Lombardia no início do século XV. Toni, o padeiro apaixonado por uma moça belíssima, com a intenção de impressionar o sogro, inovou uma receita de pão recheado com frutas criastalizadas.
A novidade fez tanto sucesso que passou a ser chamada de pan di toni.
Se acreditarmos na segunda explicação do surgimento do panetone, que parece ser a mais viável, o pão fermentado deve ter cumprido o seu propósito naquela oportunidade ou, pelo menos deve ter conquistado a apreciação de outras tantas pessoas, dentre elas, inúmeros sogros com lindas filhas, as sogras, cunhados,amigos...
O fato é que, até hoje, a receita secular permanece agradando os consumidores. E, por conta da grande aceitação, o produto se transformou em um símbolo da comemoração natalina. Este pão azedo-adocicado, naturalmente fermentado, ganhou requintes de gotas de chocolate, o “chocotone”, frescor de sorvete o “Sorvetone”, e quem sabe num futuro próximo, para nós gaúchos, entre no mercado um sabor indispensél o “Churrastone”. Uma espécie de panetone para acompanhar o nosso tradicional churrasco. Que tal?
 

      (Flávio Gonçalves)

 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Pais & Filhos

                                                                
                                    
Os bebês invadiram o mundo – ou pelo menos o mundo virtual. Eles são onipresentes nas redes sociais: bebês sorrindo, bebês chorando, bebês de roupa nova, bebês tomando banho. Nunca participamos tanto da primeira infância alheia ou fomos tão detalhadamente informados sobre rotinas que pouco ou nada interessam a quem não é próximo da criança. Sua majestade, o bebê, é provavelmente o ser vivo mais filmado e fotografado do planeta – seguido de perto por gatos fofinhos e a realeza britânica.

Bebês talvez sejam mesmo a face mais luminosa da existência. Onde mais, seja você o Steve Jobs ou o vendedor de maçãs da esquina, seria possível encontrar uma combinação tão magnífica de amor incondicional, possibilidades ilimitadas e futuro a perder de vista? Não é à toa que os pais exibem as fotos de seus filhos nas redes sociais como antigamente se compartilhavam cartões-postais das pirâmides ou da Torre Eiffel.

Sim, eles são lindos, sim, eles são amados, mas, mais do que isso, eles são um instantâneo de um momento de plenitude em meio à inevitável imperfeição de todo o resto. Quem tem um bebê em casa não está pensando no que ele já foi nem sabe ainda o que ele será. O bebê muito desejado é um doce e prolongado presente, nos dois sentidos. E estar “presente no presente”, dizem, é o mais perto da felicidade que a gente consegue alcançar.

No outro extremo desse presente sorridente e absoluto, encontram-se os filhos encarregados de cuidar dos pais no fim da vida. Aqui é o peso do passado, tenha ele sido feliz ou nem tanto, e a angústia em relação ao futuro que tomam conta do dia a dia. O presente torna-se precário – e, em muitos casos, fisicamente doloroso.

Perder os pais, ou a sua lucidez, nos torna órfãos não apenas da companhia deles, mas da alegre inconsequência de nunca pensar muito a sério na própria finitude. (Imaginem que experiência transcendente essa que viveu a filha do Niemeyer, que morreu esta semana, aos 82 anos, deixando o pai vivo e lúcido chorando por ela.)

Ao contrário dos bebês, pais e avós não são exatamente um hit nas redes. Talvez essas cerimônias privadas de adeus não caibam mesmo na superficialidade de um tweet ou de um retrato de celular – embora experiências de dor, por mais diferentes que sejam da nossa própria realidade, nos ensinem muito mais sobre a condição humana do que os momentos de felicidade e plenitude alheios.

Nos últimos dias, foram publicados dois belos textos sobre o assunto – dois relatos corajosos e tocantes de filhos que perderam os pais. O primeiro, na capa da revista Time desta semana, assinado pelo jornalista Joe Klein: “Como Morrer: o que aprendi dos últimos dias dos meus pais”, em que o autor narra como enfrentou a responsabilidade de ter que decidir sobre a vida e a morte dos pais.

O outro, “O Cérebro do Meu Pai”, publicado na revista Piauí de junho e assinado pelo escritor americano Jonathan Franzen – um dos grandes autores da minha geração –, é provavelmente o texto mais comovente e profundo sobre a experiência de conviver com um paciente de Alzheimer que eu já li.

Entre outras coisas, Franzen revela que a excruciante experiência de ver o pai indo-se aos poucos, paradoxalmente, o fortaleceu: “Tornei-me, no geral, um pouco menos medroso. Uma porta ruim se abriu, e descobri que era capaz de atravessá -la.

                                            (Cláudia Laitano)

A melhor versão de nós mesmos....



 

Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores. Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece?

A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior.

Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares, transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida?

Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?

Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?

Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela?

Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas?

Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”?

Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames.



O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão.


sábado, 1 de dezembro de 2012

Música de Antigamente....

 
 
Cecílio, amigo querido, veio me visitar. Conversa vai, conversa vem, ele me contou sobre a sua empregada — governanta de sua casa — mulher madura, de poucas palavras, sempre séria e compenetrada. Pois um dia, precisando sair, o carro pifou justo na hora em que o marido dela tinha vindo buscá-la, ao final do dia de trabalho. Ele lhe ofereceu uma carona no seu carro que não era dos mais novos, oferecimento que o Cecílio alegremente aceitou. Antes da partida, o marido tirou um CD de dentro de uma caixa e o colocou no toca-CDs. O Cecílio se preparou para ouvir uma dupla sertaneja, música que não se afina bem com o seu gosto. Mas logo veio a surpresa e o seu rosto se encheu de espanto. O marido, percebendo o espanto, explicou: “Pois é, a minha mulher acabou gostando daquelas músicas que o senhor escuta o dia inteiro. Curiosa, ela foi ver o nome: Vivaldi... Agora, a gente anda de carro ouvindo Vivaldi... Como é bonito”. O Cecílio, sem querer e sem saber, educou. Na verdade, ele não educou. Foi a governanta que se educou. Estava aberta. Acolheu o novo. E ficou transfigurada, mais bonita, mais rica. E acabou por educar o marido, que também começou a brincar com a música de Vivaldi. Agora, dentre as alegrias que eles tinham, eles tinham uma outra, que nunca haviam experimentado e nem aprendido nas escolas. É, nas escolas não se ensina a gostar de Vivaldi...

NO SEMÁFORO, a mocinha aproximou-se com um folheto imobiliário na mão. Desci o vidro para receber. Aí ela ficou estática — cara de quem tinha visto alma do outro mundo! — e se aproximou um pouco mais da janela aberta. A música que estava tocando lhe dera um susto. Era o concerto de Mendelson para violino e orquestra. Ela nunca ouvira nada parecido. “Eu nunca ouvi música assim. É música muito de antigamente?” As únicas músicas que ela conhecia eram as sertanejas e as bate-estacas... Onde andará ela, a mocinha que, se tivesse tempo, acabaria por gostar de música clássica...



SOFRIMENTO E BELEZA: Nietzsche passou por uma longa experiência de doença nos olhos... Pensou mesmo que iria ficar cego. Esse período de doença o fez pensar pensamentos não programados. Eis o que ele escreveu: “É assim que aquele longo período de doença aparece a mim, agora: como se fosse, eu descobri a vida de novo, incluindo eu mesmo; eu provei todas as coisas boas, mesmos as pequenas, de uma forma como os outros não as provam com facilidade — eu transformei a minha vontade de saúde, de viver, numa filosofia”. “ A minha doença me deu o direito de mudar todos os meus hábitos completamente; ela permitiu, ordenou que eu esquecesse; ela me concedeu a necessidade de ficar quieto, do laser, de esperar e ser paciente. A doença dos meus olhos colocou um fim na obsessão pelos livros... Fui libertado dos livros. Por anos eu não li coisa alguma — o maior benefício que eu jamais conferi a mim mesmo. Somente a minha doença me levou à razão.”

Pode ser que você ainda não tenha se dado conta disto, mas o fato é que todas as coisas belas do mundo são filhas da doença. O homem cria a beleza como bálsamo para o seu medo de morrer. Pessoas que gozam saúde perfeita não criam nada. Se dependesse delas o mundo seria uma mesmice chata. Por que haveriam de criar? A criação é fruto do sofrimento. A se acreditar no poeta Heine, foi para se curar da sua enfermidade que Deus criou o mundo. Deus criou o mundo porque estava doente de amor... Eis o que Deus falou, segundo o poeta: “A doença foi a fonte do meu impulso e do meu esforço criativo; criando, convalesci; criando, fiquei de novo sadio.”  
 
  (Rubem Alves)