terça-feira, 31 de julho de 2012

André Rieu no Brasil...

Todos dizem eu te amo...



No tempo em que instantâneo era só o Nescafé, visitar um país pela primeira vez era como... visitar um país pela primeira vez. Novidades tecnológicas eram assimiladas em ritmos diferentes, e o intercâmbio de hábitos e gostos, quando acontecia, processava-se de forma muito mais lenta e irregular. Hoje é possível viajar boa parte do mundo comendo sempre os mesmos sanduíches, frequentando os mesmos shoppings e ouvindo as mesmas músicas nos mesmos aparelhinhos – como se morássemos todos na mesma gigantesca aldeia fofoqueira e previsível.

Eu tinha 19 anos e não conhecia nem São Paulo quando, em 1986, fui passar uma temporada estudando inglês e trabalhando como babá em San Francisco, na Califórnia. Meu saco de espantos transbordou já na primeira semana. Traquitanas que quase ninguém tinha por aqui já eram acessíveis para a classe média de lá (CD player, videocassete, computador...) e havia no ar um último sopro de guerra fria que dava a todos a sensação de que o mundo poderia acabar a qualquer momento – perigo que por aqui nunca tirou o sono de ninguém.

Como babá, meu primeiro estranhamento foi descobrir que as crianças americanas sentavam-se sempre no banco de trás do carro – presas, vejam só, por cintos de segurança. No Brasil, cinto de segurança era aquele negócio que todos os carros tinham e ninguém usava – e crianças não só sentavam no banco da frente do carro como, durante o veraneio, costumavam ocupar também o porta-malas, de preferência dividindo espaço com mais 12 primos.

Outra coisa que me chamava a atenção é que pais e filhos diziam-se “eu te amo” o tempo todo: antes de dormir, na hora de ir para a escola, ao telefone ou mesmo por motivo nenhum. Venho de uma família de origem italiana, barulhenta e afetuosa, e desfrutei de todos os mimos reservados para a única menina da casa, mas não lembro de ter ouvido sequer um “eu te amo” do meu pai ou da minha mãe enquanto eles viveram, nem nos momentos mais sagrados e solenes. Nunca me ocorreu que eles me amassem mais ou menos por isso – provavelmente porque qualquer tipo de amor, e o de pais e filhos mais do que todos, aparece antes em gestos, pequenos cuidados e carinhos do que propriamente nas palavras. O “eu te amo” é um pleonasmo ou não é nada.

Mais de 25 anos se passaram desde aquela minha primeira e inesquecível viagem rumo à idade adulta. Nesse período, usar cinto de segurança e colocar as crianças no banco de trás virou hábito, o videocassete entrou e saiu das casas e até os brasileiros começaram a se preocupar com o fim do mundo (ainda que por outros motivos). Mas uma das mudanças mais sutis de comportamento talvez tenha sido essa de, no intervalo de apenas uma geração, o “eu te amo” ter saltado dos filmes românticos para o dia a dia da maioria das famílias brasileiras. Crianças que passam o dia com babás ou em creches, falando ao celular com a mãe ou o pai no trabalho, são amadas com a urgência da confissão diária – e muitas delas crescem achando que o “eu te amo” é tão banal quanto um “bom-dia” ou um “obrigado”.

É bonitinho e não faz mal a ninguém, e talvez alivie mesmo um pouco a culpa e a saudade dos pais, mas continua valendo o que sempre valeu: o amor que se sente não é necessariamente aquele que se ouve.
 
 ( Cláudia Laitano)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Chegar como a brisa...




Chegar, como brisa que atravessa a janela.

Soprando de leve, as brumas do passado.

Chegar, como o barco.

Trazendo alegrias,

após enfrentar as procelas sombrias.

Chegar, como a saudade.

Que bate, de manso, no coração.

Chegar, como chuva, fininha, mansinha,

criadeira, necessária e tão querida.



Ficar, nas lembranças do passado,

nas estampas do presente,

a retratar nosso ontem no hoje.

Ficar, para sempre.

Na imagem nunca esquecida,

dos que nos são tão queridos.

A vida, é chegar e ficar, para sempre.

Vida nunca será partida.

  (Cecília Meireles)


domingo, 29 de julho de 2012

Mãe é mãe...



Estava numa loja de roupas infantis dia desses e, na fila do caixa, duas mulheres conversavam. A loira disse para a morena: “Com a chegada do frio, não tenho dormido bem”. A morena estranhou (quem não gosta de dormir no inverno?) e perguntou para a amiga o motivo do seu mau sono. “É que levanto várias vezes por noite para cobrir as minhas filhas. Elas vivem se descobrindo durante a madrugada...”.

 

Fiquei ali, quieta no meu canto, mas não segurei um sorriso. Eu também, no frio da noite gaúcha, saio da cama várias vezes por noite. Não tem split que me segure sob as cobertas sem dar uma espiada nos meus meninos. Amor de mãe é isto: levantar durante a noite para conferir se o sono do filho vai bem.

 

Está tudo na santa paz de Deus, a casa paira no silêncio da madrugada – mas a mãe não deixa escapar a possibilidade do edredom jogado ao pé da cama, das mãozinhas frias, do corpinho encolhido num canto do colchão, do resfriado rondando o filhote. E sai do próprio aconchego só para conferir. Com mãos de fada, puxa as cobertas, ajeita o filho e volta para seu próprio sono sem fazer qualquer ruído.

 

Todos nós, grandes ou pequenos, cruzamos com vários tipos de amor ao longo da vida. Amores estão sempre surgindo (devem estar sempre surgindo em vidas saudáveis e dignas). Amigos, parentes, amantes, esposos, filhos. O afeto, em maior ou menor medida, nos cerca e nos acalenta ao longo da existência. Mas, de todos os amores de uma vida, entre todas as pessoas que hão de nos querer bem, a mãe da gente é a única que vai sair da cama – uma, duas, várias vezes por noite – apenas para vigiar nosso sono, protegendo-nos do frio.
 

A mãe, a mãe sem nacionalidade, sem idade, sem profissão; a mãe – essa entidade quase celestial – sai do aconchego da própria cama quentinha e cobre (ou cobriu, ou cobrirá) seu filho no meio da noite, saindo do quarto tão silenciosamente quanto entrou. Amor de mãe é assim: invisível, incansável. Amor de mãe é... amor de mãe.

( Letícia  Wierzchowski)



Cultivo de amor e bondade...







sexta-feira, 27 de julho de 2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tudo é Deus...

                                                       

Na g ota de orvalho,
No encanto da mata,
Na ave que canta,
Na chuva que cai,
No rio que murmura,
Eu sinto ternura,
E exclamo contente
- É obra do Pai!

No vento que sopra,
No raio que risca
O espaço grandioso,
Trazendo o trovão;
Na criança que chora,
No pobre que implora,
Eu noto e aprendo
Sublime lição.

Nos frutos que a terra
Ao homem oferece,
Na bela cigarra
Feliz a cantar,
Na mãe que embala
O filho querido,
Eu sinto encantos,
Belezas sem par.

No manto azulado
De estrelas bordado,
No sol que ilumina
A crentes e ateus,
No mar poderoso
As praias beijando,
Eu sinto a presença
E a força de Deus...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sonia Schmorantz...




Domingo frio, quase agosto,

Os sinos anunciam a hora da missa,

Embalando as nuvens carregadas,

Que andam vagarosas no céu.

No ar sombrio da tarde

O toque do sino é melodia,

Enquanto a chuva fina

É uma pálida cortina.

Chega o agosto, cheio de frio,

Na rua silente, sem caminhantes,

A voz do sino é um soluço,

Misturado ao silêncio da tarde.

Bradam os ventos contra as pedras,

Revoltam-se as ondas do mar,

O olhar afunda-se para além da janela,

Numa complacente espera sem sentido.

Estaria o sino chorando,

Ou fazendo uma prece?
 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Feliz Aniversário...


Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


                                     (Carlos Drummond de Andrade)

Canela - RS




                                         Trenós ... Alpen Park




Aventura e Emoção em Família

                                                                   

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Gina...



Dez anos se passaram desde nosso último encontro. A lembrança que ficou é exatamente a que deveria ser apagada: um corpo fragilizado, uma respiração difícil, um olhar sem brilho e apático e um gemido doloroso. Uma família reunida em torno de uma tremenda dor: a dor da despedida. Tento lembrar outros tempos, dos dias mais felizes e promissores. Os detalhes que recordo são do seu uniforme de ginásio, o cabelo preso por uma tiara branca, a música antiga e romântica tocando baixinho no rádio, enquanto, sentada na poltrona da sala, bordava delicadamente. As aulas do curso noturno. O som do acordeão. A aprovação no concorrido concurso público. As primeiras compras com o primeiro salário. Os presentes, as viagens, as críticas e a constante preocupação com a família. Os planos, os eternos e incessantes planos, que mostravam um espírito aventureiro, onde a inquietude era constante. O amor pelas artes: a pintura, a música, a decoração, a dança... O gosto pelas viagens, pela novidade, pela fotografia, pela psicologia, pela leitura, pela criatividade. Hoje é possível entender a sua necessidade de rapidamente experimentar tudo: seu tempo de vida era inversamente proporcional a sua vontade de viver. Mesmo nos últimos dias, quando sabia o que lhe estava reservado, nunca deixou de fazer planos. Talvez a sua fé espírita lhe apontasse para uma nova oportunidade de vida, ou talvez entendesse que, enquanto planejasse um futuro, ainda estaria usufruindo de um viver. Foi minha mãe substituta e, para meus filhos, foi tia, madrinha e verdadeira avó. Soube me acolher e proteger quando foi necessário. Deixou-me vários ensinamentos como herança. Tivemos muitos desentendimentos, mas com nenhuma outra pessoa tive maior intimidade. Sua generosidade, inclusive com pessoas estranhas, certamente foi seu maior legado. Não tive oportunidade de lhe falar sobre a importância que teve na minha vida, mas talvez isso não tenha sido necessário. Sua mão apertando a minha nos momentos de maior sofrimento, seu pedido de companhia no momento da prece, quando sentiu a proximidade do perigo, foram suficientes para perceber que, mais do que o laço de sangue e os anos de convivência, havia entre nós uma cumplicidade fraterna e um vínculo de afetividade que ultrapassou o sentido da palavra “irmã”.
          (Dete 18/07/2010)





sexta-feira, 20 de julho de 2012

Serena...



Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.


E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.


Henriqueta Lisboa

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Havia um Tempo...



''Havia um tempo de cadeiras
na calçada.
Era um tempo em que
havia mais estrelas.
Tempo em que as crianças
brincavam sob
a claraboia da lua.
E o cachorro da casa era
um grande personagem.
E também o relógio de parede!
Ele não media o tempo,
simplesmente:
ele meditava o tempo.''


Mário Quintana

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O encurtamento das durações...




Quanto tempo leva para superar a dor da perda? Quanto tempo para digerir uma rejeição? Absorver que um sonho terminou? Esquecer uma frustração? Uma mágoa de infância? Um trauma? Uma demissão? Os psicanalistas provavelmente responderão que é preciso respeitar o ritmo de cada um. Há quem seja rápido na retomada da vida, e há os mais lentos, que necessitam de um acompanhamento mais intensivo. Não há como decretar: dois dias, dois meses, dois anos.

Só que a maioria da população não procura psicanalistas. Não têm dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que demore, hoje em dia: não, obrigada.

Que inquietação.

O passado e o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o presente como nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma resposta? Meses por uma solução?

Na vida burocrática, governamental, a demora ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a maior agilidade possível.

Porém, há tranqueiras e tranqueiras.

Você consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não foram essas as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de assimilar mudanças.

Sentimentos não são regidos por megabytes por segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas – é o curso da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.

Diante da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas.

Basta de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro – aquele aguardando a hora certa de voltar.


                                                                (Martha Medeiros)

 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Amor à Florianópolis...




Bendita seja a trilha dos Naufragados,


Bendito seja o bar do Arantes,seus bilhetinhos,sua culinária e energia,


Bendita seja a Costa da Lagoa e o por do sol visto do Restaurante do Jajá,


Bendita a Barra da Lagoa na prainha,


Bendito TAMAR na Barra da Lagoa,


Bendita praia do Matadeiro e o ecológico bar do Marcão,


Bendito Spinoza no mercado,à tardinha,para ver os manezinhos pós-expediente e fazer novos amigos,


Bendito cineminha em qualquer sala Cinemark do Shopping Floripa,


Bendito seja o passeio no Ribeirão da Ilha,


Bendito centrão e a figueira da praça XV e o calçadão ao entardecer,


Bendita feirinha dominical na Lagoa e seus produtos naturebas,


Bendita UFSC e as universidades particulares,onde se pode conhecer gente de todo o Brasil e do mundo inteiro,

Bendito fato de poder subir à serra,ir a Lages e curtir a neve e o povo hospitaleiro,


Benditas massagens,sauna e águas termais públicas de Santo Amaro da Imperatriz,


Bendita e linda Guarda e seu mirante na última pousada,


Bendita praia da Rosa para ver as baleias,


Bendita praia Brava e sua angelitude fora da temporada,


Bendita trilha da Galheta,


Bendita ciclovia na avenida Beira-mar e as lindas gurias de byke,


Benditas exposições e cafezinho no Angeloni,


Bendita lojinha do presídio com suas redes artesanais feitas de madeira,


Bendita Casa Ecológica da UFSC,


Bendito shopizinho da Trindade e o bar da praça à tardinha,


Bendito o Kobrasol e o divino camarão à milanesa do Bocas,


Bendito seja o Morro das Pedras e o botequinho à beiramar,


Bendito "El Mexicano" para dançar e "John Bull" e seus shows maravilhosos,


Bendito casario e casa de artesanato ao lago da igreja em Santo António de Lisboa,assim como todos os artistas de Floripa e o seu imperdível café,


Bendita beleza de Sambaqui,


Bendita quietude da Cachoeira do Bom Jesus,


Bendita peixaria do Negrão,nos Ingleses,


Bendita abundância de comida no restaurante Terezas,em Canasvieiras,


Bendita beleza das imensas rochas na Armação,


Benditas dunas gigantes da Joaquina,


Bendito povo nativo que me acolheu com carinho,


Bendito seja Deus que me permitiu morar aqui,a dez metros do mar,nesta bela e Santa Catarina. 

  Amém.

(James Pizarro)

domingo, 15 de julho de 2012

15 de Julho - Dia Internacional do Homem...




CANÇÃO DOS HOMENS


Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo
- filho, panela ou computador - e venha me dar um beijo como os de antigamente.

Que quando nos sentarmos à mesa para jantar
ela não desfie a ladainha dos seus dissabores domésticos.

E se for uma profissional, que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia.

Que se estou cansado demais para fazer amor,
ela não ironize nem diga que "até que durou muito" o meu desejo ou potência.

Que quando quero fazer amor ela não se recuse demasiadas vezes, nem fique impaciente ou rígida, mas cálida como foi anos atrás.

Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso, ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber.

Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós quando me distancio ou me distraio demais.

Que ela não me humilhe porque estou ficando calvo ou barrigudo, nem comente nossas intimidades com as amigas, como tantas mulheres fazem.

Que quando conto uma piada para ela ou na frente de outros, ela não faça um gesto de enfado dizendo "Essa você já me contou umas mil vezes".

Que ela consiga perceber quando estou preocupado com trabalho, e seja calmamente carinhosa, sem me pressionar para relatar tudo, nem suspeitar de que já não gosto dela.

Que quando preciso ficar um pouco quieto ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute, como se silêncio fosse falta de amor.

Que quando estou com pouco dinheiro ela não me acuse de ter desperdiçado com bobagens em lugar de prover minha família.

Que quando eu saio para o trabalho de manhã ela se despeça com alegria, sabendo que mesmo de longe eu continuo pensando nela.

Que quando estou trabalhando ela não telefone a toda hora para cobrar alguma coisa que esqueci de fazer ou não tive tempo.

Que não se insinue com minha secretária ou colega para descobrir se tenho amante.

Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza e de ternura, me desarmar, me desnudar de alma, sem medo de ser criticado ou censurado: que ela seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz.

Que cuide um pouco de mim como minha mulher, mas não como se eu fosse uma criança tola e ela a mãe, a mãe onipotente, que não me transforme em filho.

Que mesmo com o tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano, ela não perca o jeito terno e divertido que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez.

Que eu não sinta que me tornei desinteressante ou banal para ela, como se só os filhos e as vizinhas merecessem sua atenção e alegria.

E que se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais, ou a machuco consciente ou inconscientemente,

Ela saiba me chamar de volta com aquela ternura que só nela eu descobri, e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse e me tornasse mais feliz, menos solitário, e muito mais humano

                                            (Lya Luft)

sábado, 14 de julho de 2012

Saudade...





Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.
                                                       Bob Marlley



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Mandala...

]

A mandala trabalha os seguintes aspectos pessoais: físico, emocional e energético.
 No aspecto físico, promove-se o bem-estar, o relaxamento e a prevenção do estresse.
 Emocionalmente, pode trabalhar conteúdos oriundos de emoções antigas, atuais ou futuras, pois sinaliza aqueles que irão emergir.
Neste trabalho (mandalas pessoais), é muito comum surgirem traumas passados, que são colocados no desenho de forma sutil, só percebidos por quem souber fazer a leitura do que está sendo sinalizado.
 Esta leitura se faz por meio do traço, da forma, das cores, dos símbolos e de vários outros aspectos que aparecem quando se desenha uma mandala pessoal.
Qualquer pessoa pode se conhecer e se trabalhar com mandalas, tanto com a ajuda de um terapeuta, quanto sozinho. A pessoa pode fazê-lo confeccionando e colorindo mandalas, ou, ainda, meditando .
No aspecto energético, a mandala ativa, energiza e irradia, podendo harmonizar ambientes físico ou pessoal carregados negativamente, ou aura de sofrimento e tristeza.
 Ainda energeticamente, a mandala pode levar a pessoa a contatos com dimensões supraconscientes e ao encontro de um caminho espiritual.
Neste sentido, a mandala foi, e ainda é, muito utilizada para a meditação e para o desenvolvimento e a ampliação da consciência.
 No budismo tibetano os monges fazem-na de areia para depois serem ofertadas às divindades.
É importante saber que para qualquer finalidade que se queira alcançar trabalhando com mandalas tem de se desenvolver a perseverança, a persistência e a força de vontade.


Trabalhar com mandalas é uma forma carinhosa de abrir o coração para a criatividade, a intuição e o amor.  A mandala irá colocar, de forma sutil, no lugar certo aquilo que se encontra fora de lugar.
 Jung diz que “A mandala possui uma eficácia dupla: conservar a ordem psíquica se ela já existe; restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, exerce uma função estimulante e criadora.”

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Oração...



Que você sempre tenha a mente aberta, para jamais estratificar os seus pensamentos em pontos de vista cristalizados no radicalismo.
Que você seja capaz de escutar o que o seu coração quer dizer.
Que você não pise em ninguém e, pelo contrário, estenda a mão para ajudar os seus irmãos em prova.
Que você jamais acalente a mágoa e o ódio, mesmo diante do aguilhão da ingratidão dos homens, porque isso escureceria o seu coração.
Que você não perca a sua inocência primordial, que nada tem a ver com a idade do seu corpo, mas com a sua própria essência espiritual.
Que um Grande Amor habite em seu coração, como um presente do Céu.
Que, mesmo que os dias anteriores tenham sido difíceis, você ainda se levante e venere a luz do novo dia como uma dádiva.
Que você saiba amar, sem se anular e sem se perder e também sem medo de compartilhar o seu coração com o Ser amado.
Que você não dependa de alguém para ser feliz; porém que você saiba que sua viagem pela vida pode ser linda com alguém ao seu lado.
Que, ao envelhecer fisicamente, você tenha a sabedoria de fazer a colheita de tudo de bom que plantou, sem se lamentar...
Que você jamais deixe de sonhar, mas que tenha o discernimento para estar com os pés no chão, sem perder a realidade de vista.
Que você não deixe a arrogância sequestrar a sua simplicidade, e nem que o mal conquiste o seu Ser.
Que você ore com alegria e gratidão, sabendo que a Presença escuta o seu coração.
Que você tenha a coragem de viver um Grande Amor, sem as barreiras do seu ego, e sinta-se honrado(a), por amar e ser amado.
Que você não permita que poder algum do universo, humano ou espiritual, possa roubar sua luz e tirar sua alegria.
Que você, mesmo com o materialismo do mundo tentando asfixiar os seus valores espirituais, jamais traia o seu coração, porque isso seria a maior das perdas.
Que, diante da dor de uma perda, você saia vencedor de si mesmo e continue vivendo com garra e alegria, na força do seu próprio espírito imortal.
Que você ame aos seus filhos, incondicionalmente, assim como a Presença o ama.
Que você beije com gosto, não com carência ou medo, e saiba que toda relação inclui uma fusão de energias entre os parceiros (e que você tenha a sabedoria de se envolver com alguém na luz).
Que, de vez em quando, você se pergunte o que seria de sua vida, se não houvesse boa música no mundo...
Que você saiba que os seus animais de estimação são seus parceiros de viagem (mesmo quando estão velhinhos e adoentados); são presentes da Presença, para alegrar sua vida.
Que você honre aos seus pais e avós e jamais os desampare na velhice.
Que a Luz do Eterno se revele em seu coração e lhe dê a certeza da imortalidade da consciência.
Que, mesmo sem ser poeta, você seja capaz de ver a poesia nas coisas da vida: na alegria das crianças; num lindo pôr de sol; no desabrochar das flores; e no olhar de quem você ama...
Que você olhe para as estrelas, e ainda se emocione com a beleza do zimbório celeste (que repousa nas mãos do Ancião dos Dias).
Que você aprecie um dia ensolarado e agradeça a festa da luz na atmosfera, e saia cantando a vida...
Que você aprecie uma noite enluarada e deixe sua consciência viajar por aí...
Que você voe, em espírito, e comungue com as estrelas, mas, sem deixar de escutar o som dos passos da formiga.
Que você agradeça à Presença, pelos grandes amigos que ela colocou na senda de sua vida...
Que você escute o Oran Mor** em seu coração.
Que os seus olhos brilhem muito quando você ler essas linhas...

P.S.:
Ah, que os nossos corações se encontrem...
Aqui, nessas linhas, por obra e graça da Presença***.
Você, o leitor; e eu, o escritor, escutando, juntos, o Oran Mor...(Wagner Borges)
Com nossos corações
.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Se que volveras...

Cora Coralina




Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.

 Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Lya Luft...


                                                                   
"...Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."



segunda-feira, 9 de julho de 2012

La Forza Della Vita...

Regresso...




Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.

Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.

À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.

Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.

Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.

Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?

Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.

Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.

                                          (Graça Pires)

domingo, 8 de julho de 2012

Feliz Aniversário


 
Existe somente uma idade para a gente ser feliz.


Somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia
bastante para realizá-los,
a despeito de todas as dificuldade
e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida à nossa própria imagem
e semelhança e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores.

Tempo de entusiasmo e coragem em
que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo novo, de novo e de novo,
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE, também conhecida
como AGORA ou JÁ
e tem a duração do instante que passa...

(Mário Quintana)
                                        

sábado, 7 de julho de 2012

Marrocos... A Terra do Sol Poente

                        

                                                       Linda...


                                                        

Desapego...





Caminho para  a Transformação

O maior exemplo de desapego vem das abelhas. Após construírem a colméia, abandonam-na. E não a deixam morta, em ruínas, mas viva e repleta de alimento. Todo mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado sem preocupação com o destino que terá. Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás.


Na VIDA DAS ABELHAS temos uma grande lição. Em geral O homem constrói para si, pensa no valor da Propriedade, tem ambição de conseguir mais bens, sofre e briga quando na iminência de perder o que "lutou" para adquirir.


"Onde estiver nosso coração, ali estarão nossos tesouros..." Assim, não pode haver paz uma vez que pensamentos e sentimentos formem uma tela prendendo o ser ao que ele julga sua propriedade. Essa teia não o deixa alçar vôo para novas moradas. E tal impedimento ocorre em vida ou mesmo após a morte, quando um simples pensamento como "Para quem vai ficar a minha casa?" é capaz de retê-lo em uma etapa que já podia estar superada. Ele fica aprisionado a um plano denso, perde oportunidades de experiências superiores.

Para o homem, tirar a vida de animais e usá-los como alimento é normal. Derrubar árvores para fazer conservas de seu miolo, também. Costuma comprar o que está pronto e adquirir mais do que necessita. Mas as abelhas fabricam o próprio alimento sem nada destruir e, ainda, doam a maior parte dele.


A lição das abelhas vem do seu espírito de doação. Num ato incomum de desapego, abandonam tudo o que levaram a vida para construir. Simplesmente o soltam, sem preocupação se vai para um ou para outro. Deixam o melhor que têm, seja para quem for - o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou de dirigir a doação para alguém da nossa preferência.


Se queremos ser livres, se queremos parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar em nós um único desejo: o de nos transformar. O exercício é ter sempre em mente que nada nem ninguém nos pertence, que não viemos ao mundo para possuir coisas ou pessoas, e que devemos soltá-las. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda. Adquirimos visão mais ampla.

O sofrimento vem quando nos fixamos a algo ou a alguém. O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar. E se não abrimos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?
Fonte: Boletim de SINAIS - nº 6 - Figueira


                                                                                         (Nice Ribeiro)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Lembrança...



Momentos Inesquecíveis
Que nunca acabarão
Pois serão eternamente
lembrados
Muitas gargalhadas...
Muitos abraços...
Momentos que nem o tempo pode apagar
E que estão gravados para sempre em meu  coração!






Saudades, que saudades...


Saudades, que saudades.                                             

Dos tempos que não voltam mais
Saudades do roçado, do carpido (capinado)
Saudades da infância no interior
Daquele tempo em que se dava bênção aos pais, avós, tios, madrinhas... Na verdade, pedia-se as bênçãos destes queridos, e ouvia-se a doce voz, às vezes até emocionada, principalmente da mamãe: “ Deus te abençoooe meu filho.” E como as palavras têm
poder, éramos abençoados, mesmo!
Saudades daquele tempo em que se respeitava aos pais, e assim, aprendíamos a respeitar aos outros. Daquele tempo em que tínhamos que tratar nossos pais, avós, tios... de senhor e senhora, e não de você. Caso contrário, éramos bem corrigidos.
Saudades de quando com apenas uma olhada do pai ou da mãe, já entendíamos o que viria depois que a visita fosse embora.
Saudades do tempo em que a Psicologia em casa tinha outro nome, conforme a região. Era couro, rabo de tatu, vara de marmelo, chibata... E assim nos tornávamos pessoas de bens, trabalhadores, justos, responsáveis e respeitadores.

Saudade, que saudades.

Saudades da professorinha, que tínhamos que chamá-la de professora, ou simplesmente Dona Fulana... Maria, Edite, Olga... e nunca de tia.
Saudades de quando aprendíamos em casa, que tínhamos que respeitar nossos professores, pois eles eram o nosso segundo pai e segunda mãe.
Saudades quando aprendíamos as primeiras letras do ABC. Eram: a, e, i, o, u. Em seguida, tínhamos que aprender primeiro todo o ABC; só então, íamos para o “b a, bá. B é, bé. B i, bi...
Saudades dos bons tempos em que na escola cantávamos o Hino Nacional, Hino à Bandeira, Hino da Independência...
Saudades daquelas chamada Hora Cívica, em que aprendíamos os princípios de cidadania.
Saudades de quando na sala de aula chegava alguém visitante, ficávamos em pé.
Saudades de quando na escola marchávamos como soldados, com nosso uniforme, um guarda-pó branco e um sapato chamado colegial. Quando ouvíamos a voz de comando da professora que dizia: “sentido. Um, dois. Todos... marchando. Um, dois. Um, dois. Um,...” e depois brincávamos (longe dela, é claro) de: um, dois, feijão com arroz. Três, quatro, feijão no prato... e assim por diante.

Saudades, que saudades.

Saudades da velha Constituição Federal (anterior a de 1988), em que o menor podia trabalhar livremente, sem prejudicar os estudos e a infância. Não sobrava tempo para aprender coisas erradas. Quase não existia usuário de drogas.
Saudades do tempo de criança e adolescente, em que trabalhávamos, estudávamos e brincávamos, sem essa de prejudicar a infância. E assim, nos tornávamos homens e mulheres trabalhadores e exemplos a ser seguido.

Saudades, que saudades.

Saudades daquele tempo em que a criminalidade no Brasil era bem baixo, ou quase zero.
Saudades de quando existia os verdadeiros Direitos Humanos para pessoas de bens, e não para bandidos frios e calculistas, assassinos, sequestradores...
Saudades de quando se ouvia falar de assalto à mão armada, parecia coisas de outro mundo. Ficava todo mundo assustado, porque não era corriqueiro, como hoje.

Saudades, que saudades...

(Christiano Nunes)

PS. Alguns versos foram inspirados no poema Pátria Amada Brasil, de Jairo Valio.