domingo, 1 de junho de 2014

Beatles...


Hoje, estão sendo lembrados os 50 anos do lançamento do primeiro álbum dos Beatles, “Please Please
Me”, ocorrido no dia 22 de março de 1963. Estava começando uma era, um estilo, um modo de entender a vida. A música nunca mais seria a mesma. Não se trata de uma frase apenas altissonante ou exagero, mas os Beatles realmente significaram o início de um novo tempo para a música mundial. Eles foram, sem dúvida, os inventores do gênero pop, com seus concertos para multidões de fãs que não se limitam a ouvir a música de seus ídolos, mas também querem emulá-los. Eu os ouvi pela primeira vez na extinta rádio Municipal, onde o inesquecível Dino Rosa apresentava todos os domingos o programa “Os Campeões da Semana” que tocava as músicas de maior sucesso na época. “Love Me Do” era o grande destaque. Depois ingressei no rádio e no programa que apresentava aos domingos, a Grande Parada, os hits dos Beatles apareciam como os favoritos do público. Mas voltemos ao primeiro álbum do quarteto.
O Lp, como eram conhecidos os discos; um “long-play” de 33 rpm (rotações por minuto) e doze polegadas – a explicação se faz necessária para as novas gerações – tradicionalmente era a opção financeira mais vantajosa. Ao planejar o primeiro Lp dos Beatles,George Martin, seu produtor, se defrontou com dois problemas. Primeiro, mesmo com os Beatles tendo alcançado o topo das paradas com os single “Love Me Do” em 1962, a gravadora EMI não estava disposta a gastar mais do que uma ninharia na empreitada; segundo, a agenda de apresentações do grupo deixava pouquíssimo tempo para o trabalho de estúdio. No livro John Lennon A Vida, Philip Norman conta que o quarteto conseguiu completar o Lp numa única sessão de gravação que durou um dia inteiro, sem recorrer a estimulantes além do chá e das pastilhas para a garganta. Oito faixas eram composições de John e Paul, “ I Saw Her Standing There, “ Mysery”, “Do You Want To Know a Secret?” e “There’s a Place”, entre outras; as demais eram suas favoritas e inesperadas versões do cover do pop americano negro. Ouvindo o disco hoje, ainda é possível notar a empolgação da abertura de Paul MacCartney “ One-two,three-FAW”. O que vem depois é puro talento e criatividade. Eles mostram no disco como eram habilidosos , versáteis , experimentais e excêntricos. Começavam a moldar a música que hoje a garotada ouve em seus Ipads,mp-3, celulares, Iphones, etc. Praticamente todas as catorze faixas ainda hoje soam surpreendentemente atuais.
A Taste of Honey traz um vocal de tom jazzístico de Paul. A jovial angústia adolescente se destaca nas canções “There’s a Place” e “ Mysery”. Os Beatles demonstravam no seu primeiro álbum a extraordinária gama de estilos musicais que dominavam. Em “Twist and Shout”, John rouba o show, com uma voz rasgada e contundente. Paul se mostra onipresente e precocemente brilhante, e George também está ali, bem mais do que se considerava à época. Aliás, seu talento só irá se destacar no final da carreira do quarteto. Lennon e MacCartney monopolizaram as atenções.A verdade é que a crescente popularidade do grupo,que a imprensa britânica passou a chamar de Beatlemania, fez com que eles crescessem em sofisticação. Os Beatles vieram a ser percebidos como encarnação de ideais progressistas e sua influência se estendeu até as revoluções sociais e culturais da década de 1960. Sua música embalou um mundo que vivia a guerra do Vietnã,o crescimento das tensões no Oriente Médio entre judeus e árabes que logo levaria à Guerra dos Seis Dias; na América do Sul, Che Guevara buscava estabelecer uma base guerrilheira na Bolívia; aqui no Brasil, Marighella formava a Aliança de Libertação Nacional e partia para a ideia de luta armada contra o regime militar. Era um mundo em ebulição,que os Beatles retrataram em suas canções de forma genial. Eles não convocavam para se tomar as ruas, mas antes faziam sátiras sobre todos os jovens revolucionários bem-alimentados com sua impetuosa vontade de “mudar o mundo”. Ainda hoje, passados 50 anos do lançamento do seu primeiro álbum, os Beatles conseguem exercer um verdadeiro fascínio sobre as novas gerações. Hoje, portanto, é dia de tomar um bom vinho, colocar no toca discos “Please Please Me” – sim toca discos –, para que seja o som autêntico da época, e, curtir John,Paul,George e Ringo. Yeah-yeah-yeah!!!

Do Jornal
O Nacional
Sexta-Feira, 22/03/2013 às 17:15
José Ernani de Almeida


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