quarta-feira, 9 de julho de 2014

No meu tempo...

                                                                 


 A expressão "no meu tempo" revela muita coisa. Quem se pensa fora do tempo presente, já começou a morrer. Quem está vivo tem o seu tempo agora, como todo mundo.
Pois, no jogo inaugural da Copa do Mundo, tive vontade de dizer: "no meu tempo" blá, blá, blá. Resisti,mas não estou conseguindo me segurar.
Vou mudar a expressão para "quando eu era jovem". Parece-me mais apropriado para fazer algumas considerações. Estou louca pra dizer que naquele tempo fomos educados para a submissão e não para o respeito. Tínhamos medo de quase tudo, dos pais, das professoras, dos padres, dos médicos, das autoridades. Fomos educados para submeter ou para a sermos submissos. Aquelas pessoas nos influenciaram de forma definitiva. Era deles que recebíamos os exemplos e as referências de vida. Éramos mantidos basicamente sob controle.
Mas de alguma forma nossos pais e professores conseguiram despertar no nosso espírito um sentimento nacionalista muito forte. Os meus contemporâneos têm saudade dos atos cívicos, das formações de filas nas escolas, de cantar o Hino Nacional sem inventar bossas e estilos, por ser extremamente proibido. Perfilávamo-nos com o peito estufado e deixávamos o ufanismo nacional nos invadir. Portanto, não vou dizer ter sido essa educação repressora e acrítica, a responsável por deixar-me apta a condenar a forma com que xingaram a Presidente Dilma, no primeiro dia da Copa do Mundo.
Devo-o ao que vivi com meus pais, que cuidavam dos seus pais velhos, dos parentes do interior vindos para consultar  na cidade, dos hóspedes acolhidos para que pudessem estudar. Foi o cuidado e o respeito com todos e não só pela família nuclear, que consolidaram em mim a visão de que seja dignidade humana.
Vivemos dentro de casa o exercício da solidariedade, o olhar generoso para com os que precisavam de ajuda.
Havia na nossa casa algumas proibições bem definidas, mas a principal era a de não deixar de ajudar quem precisasse. As grosserias com as nossas avós eram impensáveis, por que não as conhecíamos. Ofender as pessoas era coisa que passava ao largo das nossas ações. O cardápio humano nos era oferecido com clareza e o consumíamos com naturalidade.
A deselegância no trato com as pessoas eu sinto ser um desvio ético. Tenho pena dos que, na abertura da Copa, desrespeitaram uma mulher idosa, ser humano, autoridade, um símbolo tal qual a Bandeira. Fiquei triste, raivosa, decepcionada com uma parcela de povo que, historicamente sempre teve tudo, mas acho, não tiveram vovô, vovó, história familiar, sacrifício para cuidar das pessoas e dificuldade para comprar o que era preciso para tal.
Gosto dos transgressores, dos movimento sociais que empunham bandeiras, gritam suas reivindicações.
Admiro as manifestações populares, admiro quem tem coragem de não dobrar-se e de organizar movimentos visíveis e audíveis com muita força.
Por isso, não acho legítimo chamar aquele bando de mal educados de manifestantes. Isto seria subestimar a nossa inteligência. Manifestante é aquele que sabe o que reivindica e visa idéias e não pessoas.
Ainda estou com vergonha dos impropérios que alguns (muitos) tiveram a coragem de proferir.


Sueli Gehlen Frosi                                      

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