domingo, 18 de janeiro de 2015

Cegos e Cozinheiros...

                                                                                 


As pessoas cegas e os cozinheiros têm mais afinidades do que se acredita.
 Ambos precisam da previsibilidade, do olfato e dos barulhos mínimos.
 Na casa de um cego, mudar um único móvel de lugar provoca uma fatalidade ou um tempo imerso no aprendizado no escuro, uma redescoberta de espaço.
 No espaço de um cozinheiro, mudar os ingredientes, as vasilhas e os azeites de lugar, torna urgente e necessário reaprender o que se sabe e através disso, como o cego, encontrar um novo jeito, sabor, caminho. 
Somente os cegos e os cozinheiros sabem que os cheiros têm a alma mais profunda do que o gosto e que é só através dele que podemos distinguir o doce do azedo, e o amargo do picante. 
Também somente os cegos e os cozinheiros compreendem quando o fogo quer ficar só, e escutam o canto das bolhas de fervuras.
 Porque são apenas eles que sabem porque na escrita braile uma linha continua é uma grande interrogação, que acaba exatamente quando se precisa.


Cristiane Lisbôa.

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