terça-feira, 13 de maio de 2014

Um útero para elas..

Ainda que a maioria dos super-heróis seja masculina, as super mamães existem. Talvez não sejam aladas, a
não ser de ternura. Talvez não corram à velocidade da luz, mas disparam em máxima velocidade humana
ante um choro de filho. Talvez não consigam salvar-nos dos alienígenas, mas podem gerar novos seres comprometidos com outro mundo.
Só as mães têm o maior de todos os superpoderes: conseguir em segundos que desapareçam terríveis e enormes problemas de um filho. E sem magia. Simples resultado da imaginação, do tal de instinto materno, de não-sei-o-quê. Tudo do modo mais simples. E usam materiais à mão de qualquer um: palavras, um colo, um olhar, uma comidinha especial, um beijo, um sorriso, um afago, um cafuné, um não-foi-nada-meu-filho.
Estudiosos das emoções já descobriram que a incapacidade de amar dos psicopatas deve-se à falta de vínculos de afeto com suas mães. Mães frias, violentas, imaturas afetivamente, enviam para o mundo filhos com graves problemas emocionais. Porém, mães de mimos exagerados, sabe-se também, formam tiranos, egocêntricos e insensíveis.

Mães são importantes não apenas pela geração. Gerar, por si só, não é relevante. Há quem gera e mata, quem gera e maltrata, quem gera e abandona. Mães são importantes porque todo o amor do mundo, em suas múltiplas expressões, depende da têmpera e do tempero do amor materno.
Por ser esse amor tão importante para o mundo, mais que melosas homenagens, o dia das mães deve ser para a sociedade um momento de reflexão sobre o papel da maternidade na formação dos seres humanos. A maternidade pede um lugar central nas políticas públicas de combate à miséria, de educação, de saúde, de diminuição da violência e da criminalidade.
O abandono de recém-nascidos por mães pobres, que tem chocado a opinião pública, deve ser interpretado como sinal de graves problemas sociais. A morte pelo filho de uma mãe da classe média em São Paulo também traz à luz fragilidades. Não podemos esquecer as mães contemporâneas, operárias, empresárias, advogadas, dividindo, com grande culpa, seu escasso tempo com os filhos.

Mães são heroínas poderosas. Seus beijos e carinhos podem fazer milagres e curar grandes feridas. Mães são rosas, rainhas, merecem jóias, presentes, telefonemas, e até panelas e liquidificadores. Mas, sobretudo, as mães precisam da atenção da sociedade para que seus superpoderes continuem salvando os filhos do futuro, ou o futuro dos filhos. As mães, que protegem os filhos em seu ventre e no mundo, precisam em seu dia um útero aconchegante para si mesmas.


*Pablo Morenno é servidor público federal e escritor. Publicou os seguintes livros: Por que os homens não voam?, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2003. Um menino esquisito, infantil, com CD. Porto Alegre: WS Editor, 2006.Flor de Guernica, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2009. O Menino-peixe & outras histórias verídicas, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2011. Com o livro “Flor de Guernica” recebeu o prêmio de Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores e foi finalista do Prêmio Açorianos em 2010, categoria crônica


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