domingo, 29 de julho de 2012

Mãe é mãe...



Estava numa loja de roupas infantis dia desses e, na fila do caixa, duas mulheres conversavam. A loira disse para a morena: “Com a chegada do frio, não tenho dormido bem”. A morena estranhou (quem não gosta de dormir no inverno?) e perguntou para a amiga o motivo do seu mau sono. “É que levanto várias vezes por noite para cobrir as minhas filhas. Elas vivem se descobrindo durante a madrugada...”.

 

Fiquei ali, quieta no meu canto, mas não segurei um sorriso. Eu também, no frio da noite gaúcha, saio da cama várias vezes por noite. Não tem split que me segure sob as cobertas sem dar uma espiada nos meus meninos. Amor de mãe é isto: levantar durante a noite para conferir se o sono do filho vai bem.

 

Está tudo na santa paz de Deus, a casa paira no silêncio da madrugada – mas a mãe não deixa escapar a possibilidade do edredom jogado ao pé da cama, das mãozinhas frias, do corpinho encolhido num canto do colchão, do resfriado rondando o filhote. E sai do próprio aconchego só para conferir. Com mãos de fada, puxa as cobertas, ajeita o filho e volta para seu próprio sono sem fazer qualquer ruído.

 

Todos nós, grandes ou pequenos, cruzamos com vários tipos de amor ao longo da vida. Amores estão sempre surgindo (devem estar sempre surgindo em vidas saudáveis e dignas). Amigos, parentes, amantes, esposos, filhos. O afeto, em maior ou menor medida, nos cerca e nos acalenta ao longo da existência. Mas, de todos os amores de uma vida, entre todas as pessoas que hão de nos querer bem, a mãe da gente é a única que vai sair da cama – uma, duas, várias vezes por noite – apenas para vigiar nosso sono, protegendo-nos do frio.
 

A mãe, a mãe sem nacionalidade, sem idade, sem profissão; a mãe – essa entidade quase celestial – sai do aconchego da própria cama quentinha e cobre (ou cobriu, ou cobrirá) seu filho no meio da noite, saindo do quarto tão silenciosamente quanto entrou. Amor de mãe é assim: invisível, incansável. Amor de mãe é... amor de mãe.

( Letícia  Wierzchowski)



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