segunda-feira, 4 de maio de 2015

Primeiras lembranças de minha infância...

                                                         

Tento recordar de fatos significativos de minha infância, mas é muito difícil relacionar as lembranças como fatos concretos. Algumas, mais marcantes, são as relacionadas aos primeiros anos escolares, em especial a escada de madeira na escola primária; o velho piano no refeitório, onde a professora de música nos ensinava a cantar os hinos; a vez em que ganhei um livrinho infantil, “Aladim e a lâmpada maravilhosa”, como prêmio pelo bom comportamento (na verdade eu não abria a boca de tanta timidez). Lembro dos passeios na velha “caminhonete” verde de meu pai, ajudando a entregar mercadorias. Recordo de ouvir no rádio, às 4 horas da tarde, a “Hora da Estorinha”, de também acompanhar pelo rádio, aos domingos pela manhã, o programa “Clube do titio”, onde, não sei explicar como, nem porquê, eu e minha irmã cantamos juntas “A garota do baile”, do Roberto Carlos, recebendo como prêmio um urso azul, de plástico. Recordo das gemadas e pipocas que comíamos à tarde e das brincadeiras na frente de casa até anoitecer, com as crianças da vizinhança. Porém, o fato mais importante de minha infância foi uma viagem à Porto Alegre, de trem maria-fumaça. Saímos de Passo Fundo e pernoitamos em Santa Maria. Uma viagem de mais ou menos 12 horas, o que hoje se faz em três horas de carro. Lembro da fumaça preta que víamos saindo da chaminé nas curvas da estrada de ferro e das paradas nas pequenas estações, onde carregavam carvão (ou lenha?) como combustível. Em Porto Alegre foi onde, pela primeira vez, cheguei perto de um aparelho de televisão. A dona da casa me alertou que não colocasse a mão, porque na tela saia um “fogo”, que me queimaria. Também foi em Porto Alegre que tive a chance de andar de bonde. Recordo muito bem do seu ruído e balanço. São lembranças meio confusas, talvez com uma pitada da imaginação infantil, mas deixam uma sensação boa, de inocência e de alegria pelas descobertas. Às vezes pergunto para as pessoas qual a sua primeira memória da infância, e percebo o grande esforço para recordar. A minha primeira memória é de um homem dançando na rua, com roupas íntimas, um guarda-chuva aberto e muita gente olhando. Imagino ser a comemoração da conquista da copa de 1962 (naquela época eu teria quatro anos). Porém, a mais antiga imagem que tenho gravada é da borda do telhado da antiga casa de madeira em que nasci. Era de madeira trabalhada, no estilo germânico e de cor amarela. Essa é a lembrança mais estranha, pois nessa casa ficamos apenas por mais um ano após eu nascer, e ela foi demolida logo depois. É inexplicável, mas a forma e os detalhes que descrevo são confirmados pelos mais velhos. A mente humana é muito intrigante. Lembro de fatos, cores, estampas, tecidos, sons e, principalmente, cheiros de minha infância. Essa memória é agradável, especialmente quando algum familiar nos faz recordar algo que já estava apagado de nosso cérebro. Talvez aí esteja um dos grandes sentidos da família: o de poder compartilhar a vida passada, além de poder contar com esse companheirismo para o futuro. Afinal, para você, qual é a sua primeira lembrança?

Bernadete Schleder dos Santos

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