sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Livro Sem Fim... Rubem Alves



 Rubem Alves, no seu livro "Livro Sem Fim"  (2002), faz uma distinção sobre a feira das utilidades, isto é, as coisas que nos são úteis, e a feira das fruições, as coisas que simplesmente usufruímos por prazer....


"Objetos da 'Feira da Fruição', inúteis: canto gregoriano, um pôr- do -sol, o cheiro do orégano, o perfume do jasmim, uma sonata de Mozart, um poema de Fernando Pessoa, um arco-íris, uma taça de vinho, uma moda de viola, um refresco de pitanga, um gole de pinga, um pião rodando no chão, um papagaio empinado no céu, uma boneca, um nenezinho, papo-furado, uma piada, um palhaço, um mágico, um cachorro, a constelação de Orion, uma tela de Vermeer ou Monet, um cafuné, um beijo, o vôo de uma gaivota, o barulho do mar, um quebra-cabeça...
 Não servem para nada. Não são ferramentas. Por que os amamos?
 Porque nos dão prazer e alegria.(...) 

Na Feira das Utilidades moram os cientistas, isto é, aqueles que transformam os objetos em Palavras.

 Moram os técnicos, isto é, aqueles que transformam palavras em objetos...

 Na feira das Fruições moram os sábios, os degustadores, aqueles que transformam os objetos em partes do seu próprio corpo.


 Degusto: não exercito poder sobre o objeto. Abando-no-me a ele. Entrego-me. Deixo que ele faça amor com o meu corpo.

 Saborear e degustar são experiências amorosas. Não desejo conhecer, ocular e intelectualmente, um objeto distante do corpo , para assim poder exercer poder sobre ele.
 Como Barthes expressa : 'nada de poder, 'o máximo de sabor': o meu propósito é experimentar o objeto com o meu corpo. 
Conhecer o objeto por aquilo que ele faz comigo. Ele entra em mim".
Prefiro ir à feira das fruições, e você?

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