quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tristeza não tem fim, felicidade sim...



A pouco tempo assisti a mais uma reportagem sobre autismo, este tema que tanto me interessa e que, oportunamente, vem ocupando um grande espaço na mídia. Mas, uma cena me chocou e se instalou em minha mente e desassossegou meu coração. Um menino com 8 anos, idade próxima de meu filho, levanta-se continuamente na madrugada para tomar banho e deita-se nu após cada ducha. É contido pelo pai para que permaneça na cama, e após muito grito e resistência, acaba adormecendo por um breve período.   Seus pais estão destroçados pela desesperança e cansaço, suas falas e seus rostos exprimem toda a dor que consome suas vidas.
Sei que períodos difíceis estão presentes na história de todos nós, mas sei também que as dificuldades tornam-se mais cruéis e intransponíveis em famílias desassistidas financeiramente e sem amparo informativo e profissional. A pobreza aliada à desinformação transforma o doente mental em um ser primitivo e de complicada socialização.
Cenas de indivíduos enjaulados já chocaram muitos de nós e provocaram revolta. Neste instante deve haver pessoas encarceradas em cubículos em vários cantos deste país. Esta situação lamentável e dramática existirá enquanto a informação não penetrar em todos os lares e permanecermos com tão poucos profissionais qualificados no diagnóstico e tratamento das enfermidades mentais.
As horas, os dias, os meses, os anos passam. Momentos felizes, tempos de tormenta, calmaria, desespero. Ciclicamente, nós, pais de autistas, vivemos. Mas em meio a esta instabilidade que nos assola continuamente, queremos enxergar oportunidades para nossos filhos e, solidariamente, a todas as famílias que trilham o mesmo caminho que o nosso.
Não podemos prever se amanhã nosso filho falará, trabalhará ou viverá de maneira independente. Mas, exigimos respeito. Não somente um sorriso e um olhar de compaixão, e sim, serviços dignos. Um diagnóstico precoce realizado por pediatras treinados, tratamentos de estimulação e acesso à medicamentos. Escolas aptas a receber e educar nossas crianças diferentes, sejam elas instituições regulares ou especiais.
Sim, queremos poder optar pela estrutura de ensino que se adapta e contribui com o desenvolvimento de nosso filho, de acordo com a severidade de sua doença e com o momento que ele vive.
Quando uma criança é inserida na escola regular precocemente, ou seja, na educação infantil, a chance de sucesso em sua inclusão é bastante elevada, pois ela se adapta à esta realidade, sente-se confiante neste ambiente, e mesmo passando por períodos de crise inerentes à doença, tem o auxílio dos colegas que crescem aprendendo a conviver com suas diferenças. Os professores são incentivados a especializarem-se no atendimento à criança com deficiência, e desenvolve-se um laço afetivo mais sólido entre funcionários e o aluno especial.
Mas como inserir repentinamente em uma escola regular, um adolescente que cresceu em uma instituição especializada, que só conhece esta realidade, possui uma rotina estruturada e tranquilizadora, com amigos iguais à ele e professores capacitados neste modelo de ensino?
Como podem querer simplesmente fechar as portas de todas escolas especiais?
Ao invés de ampliarem os locais de atendimento, restringem a uma única opção ditatorial e simplista. É como se reduzissem o tratamento medicamentoso de todos os autistas a um único fármaco.
Realmente, desta maneira, outras cenas comoventes e desestabilizadoras invadirão nossos olhos e corações, e será cada vez mais difícil encontrar um pouco de alegria em nosso carrossel de emoções.

Silvia Sperling Canabarro.

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