Se não fores nascido em Santa Maria, mas souberes de um histórico 3 X 0 do Coloradinho sobre o Vasco da Gama, no campeonato brasileiro de 1982, então és santa-mariense puro sangue. Serás ainda mais da gema se souberes que os gols foram de Robson Centurião, Valdo e Toninho. Serás santa-mariense perpétuo e irretorquível se te vier à cabeça, sem esforço, a escalação completa: Vlamir, Foguinho, Donga, Roberto e Sadi; Hélio, Robson e Valdo; Francisco, Guinga e Toninho.
Perdoem-me os apenas nascidos na Boca do Monte, mas para ser santa-mariense é preciso vestir-se de vento norte, reter nas narinas o aroma de marcela do campo, abrigar-se na esquina do Caixeiral para fugir do minuano encanado na Alberto Pasqualini, pedir uma média no Café Cristal e jogar conversa fora no calçadão da Bozano. O que pode dizer mais sobre o coração do Rio Grande do que um poema de Prado Veppo, santa-mariense de Porto Alegre; uma letra de Antônio Augusto Ferreira, santa-mariense de São Sepé; um quadro de Iberê Camargo, santa-mariense de Restinga Seca; ou um filme de Sérgio Assis Brasil, santa-mariense de São Gabriel?
De tão santa-marienses, esses nossos artistas afamados sabiam que nossas grandes celebridades não são poetas, cineastas ou pintores; são nossos famosos de rua, nossos mendigos de estimação, personagens ressumados pelo afeto dos cidadãos. Se souberes quem foi o Mudinho da Catedral, ou a Velha do Saco, ou o Crocante, então és inegavelmente santa-mariense.
Se entenderes que Acampamento é rua, que Bombril é auditório, que Cadena é arroio, um perfeito santa-mariense és! Se flertaste no ônibus para o campus, se chimarreaste no Itaimbé, se já subiste o Itararé, meu caro, és minhoca da terra. Jantas no Augusto, no sábado? Sobes para Itaara no domingo? Já viste o palco do Treze? Então cantarás, como eu, santa-mariense de Passo Fundo, um parabéns a você, a plenos pulmões, na Saldanha Marinho, com o orgulho provinciano do pertencimento.
Marcelo Canellas
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