UMA MENINA CHAMADA CONSCIÊNCIA
Ela completou 50 anos, dia 29 de setembro, mas será sempre menina – e será também eterna, creio, pois vem resistindo ao tempo e ao desencanto de seu criador. Falo de Mafalda, a genial personagem do cartunista argentino Quino, uma garotinha de seis anos que reúne lucidez, inteligência, ironia, humanismo e faz o leitor pensar e sorrir amarelo em apenas quatro quadrinhos. Mafalda é tudo de bom.
Conheci-a na década de 1970, quando visitei a Argentina pela primeira vez, em viagem de trabalho. Na época, o escriba aqui passava a sanduíches para poupar os trocados da diária. Mas o encontro com Mafalda abalou a minha poupança: deixei tudo na banca de jornal em troca de uma coleção de 10 revistas que aumentaram o peso da minha bagagem na volta. Mas valeu a pena. Ainda me lembro de pérolas da Guerra Fria, como a tirinha em que a professora de matemática anunciava para os alunos:
– Hoje vamos estudar o pentágono.
E Mafalda, com seu senso de justiça saindo pelos poros do dedo levantado:
– E amanhã o Kremlin?
Quino parou de desenhar Mafalda em 1973, mas a garota e sua turminha já tinham ganhado vida própria e conquistado o mundo. Impossível não simpatizar com aquelas crianças que interpretavam tão bem sentimentos universais:
Mafalda, questionadora dos políticos e dos poderosos, crítica das injustiças e inimiga da sopa; Filipe, angustiado com as obrigações escolares; Manolo, obcecado por negócios e pelos lucros do armazém do pai; Susanita, fútil, egoísta e invejosa; Miguelito, ingênuo e hesitante; Libertad, pequena e corajosa como a liberdade; Guile, o irmãozinho da heroína, concentrado no seu aprendizado de mundo, e mais os adultos, sempre entre o espanto e a perplexidade.
Nilson Souza
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