Ninguém é perfeito, principalmente aqueles a quem amamos. Não é fácil convencermo-nos de que o amor é um modo de aceitar os defeitos dos outros. Com o tempo, a transparência do amor revela aquilo mesmo que o amor escondia. Então os atritos começam.
A sabedoria popular diz que o amor é cego. Não concordo. O amor é um óculos para olhar o outro e o mundo. Colorido no início, translúcido depois. A escolha da cor das lentes é tarefa nossa. Escolhemos segundo as preferências. Por isso, nada de culpar o outro e o mundo. Quanto mais maduros, mais transparente será o cristal. É aceitável começar com lentes cor-de-rosa, passar pelo azul, vermelho, preto, amarelo.
À medida do amadurecer, chegarão as lentes à transparência. Após, começará um gradativo aumento de grau. O outro e o mundo deixam de ser coloridos para ser reais. Não é hora de descartar os óculos em favor de outros novos, crendo que os antigos perderam a validade. Melhor é aceitar o processo da maturidade como natural. A troca dos óculos não trocará o outro nem o mundo.
Quem olha o outro e o mundo com óculos não pode esquecer que também é observado. Se não com óculos, com binóculos ou telescópio. Estar no mundo é sempre uma experiência compartilhada. Amar é um exercício de reciprocidade.
A hora da transparência é hora de sentar-se. Se estivermos inseguros quanto ao que vemos, não é sensato atropelar-se, debater-se como peixe na rede. O desespero agrava a armadilha. Melhor é deter-se, acomodar-se, passar um pano nas lentes, tentar avaliar melhor o espaço onde nos movemos. O outro, embora com defeitos à mostra, pode ser ouvido e respeitado. O mundo, nem tão colorido quanto imaginávamos, poderá ser descoberto em outras belezas.
Lembre-se, adaptar-se à claridade é um dos primeiros exercícios do bebê. Por isso, amar sempre é vir à luz. Mas, no caso do amor, não é a mãe que sofre para nos dar à luz. No caso do amor, é a própria vida quem nos pare. E a vida nunca nos poupa da dor necessária.
(Pablo Moreno)
A sabedoria popular diz que o amor é cego. Não concordo. O amor é um óculos para olhar o outro e o mundo. Colorido no início, translúcido depois. A escolha da cor das lentes é tarefa nossa. Escolhemos segundo as preferências. Por isso, nada de culpar o outro e o mundo. Quanto mais maduros, mais transparente será o cristal. É aceitável começar com lentes cor-de-rosa, passar pelo azul, vermelho, preto, amarelo.
À medida do amadurecer, chegarão as lentes à transparência. Após, começará um gradativo aumento de grau. O outro e o mundo deixam de ser coloridos para ser reais. Não é hora de descartar os óculos em favor de outros novos, crendo que os antigos perderam a validade. Melhor é aceitar o processo da maturidade como natural. A troca dos óculos não trocará o outro nem o mundo.
Quem olha o outro e o mundo com óculos não pode esquecer que também é observado. Se não com óculos, com binóculos ou telescópio. Estar no mundo é sempre uma experiência compartilhada. Amar é um exercício de reciprocidade.
A hora da transparência é hora de sentar-se. Se estivermos inseguros quanto ao que vemos, não é sensato atropelar-se, debater-se como peixe na rede. O desespero agrava a armadilha. Melhor é deter-se, acomodar-se, passar um pano nas lentes, tentar avaliar melhor o espaço onde nos movemos. O outro, embora com defeitos à mostra, pode ser ouvido e respeitado. O mundo, nem tão colorido quanto imaginávamos, poderá ser descoberto em outras belezas.
Lembre-se, adaptar-se à claridade é um dos primeiros exercícios do bebê. Por isso, amar sempre é vir à luz. Mas, no caso do amor, não é a mãe que sofre para nos dar à luz. No caso do amor, é a própria vida quem nos pare. E a vida nunca nos poupa da dor necessária.
(Pablo Moreno)
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