quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Caixa de Costura...

Foto: CAIXA DE COSTURA 
Venho costurando minha vida 
com linhas de saudade. 
Procuro equilibrar-lhes a cor 
para que o resultado final não seja triste. 
Por vezes, é o cinza que insiste; 
por vezes, impera o marrom. 
Ainda bem que tem saudade bonita; 
mudo o tom, amarro fitas, 
busco a outra ponta do novelo; 
intercalo a trama em amarelo. 
A saudade é assim mesmo, 
tecelã do tempo. 
Quando menos se espera, 
arremata o momento,leva embora, 
deixa a porta encostada, o cadarço de fora, 
e nunca avisa a hora de voltar. 
Ainda hei de costurar com verde florescente 
e, se a saudade chegar autoritariamente, 
vai se sentir enfraquecida. 
Enquanto procuro a cor, 
vou costurando a vida, 
sem saber qual vai ser o resultado. 
Caso ele não fique combinado, 
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha, 
que essa culpa roxa não é minha. 
É uma artimanha branca do passado. 



© FLORA FIGUEIREDO 
In O Trem Que Traz a Noite, 2000


                                                             Venho costurando minha vida
com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor
para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste;
por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita;
mudo o tom, amarro fitas,
busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo,
tecelã do tempo.
Quando menos se espera,
arremata o momento,leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente
e, se a saudade chegar autoritariamente,
vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor,
vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado,
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,
que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado.

Flora Figueiredo
In O Trem que traz a noite 

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