domingo, 2 de junho de 2013

Minha cadelinha deficiente...

 
 
Foi encontrada no meio dos carros, no estacionamento de um ginásio de futebol. Não sei se estava perdida ou abandonada, mas já era uma jovem cadelinha com pelo dourado e brilhante. Meu marido a trouxe para casa porque tinha grande risco de ser atropelada naquele local. Se “aquerenciou” rapidamente na nossa casa. Também muito rapidamente demonstrou sua forte personalidade, sempre muito atenta e defensora de seu espaço. Rapidamente ganhou o respeito dos outros cães. E foi assim com mais de uma geração deles, porque ela sobreviveu a muitos outros animais de estimação.
Muito cedo, na primeira vez em que a levamos no veterinário, soubemos que aos poucos deixaria de caminhar, por ter uma lesão na coluna. Porém, nunca desistiu de se movimentar sozinha. Primeiro usando apenas as patas da frente. Fraturou nessa prática um dos membros dianteiros e a sua cauda. Depois perdeu o movimento de um de seus bracinhos e os ossinhos de uma das patas também se quebraram pelo grande esforço que fazia nas suas tentativas. Passou então a rolar sobre si e foi assim até o final de sua vida. Sobreviveu a uma cirurgia para a retirada de um tumor contra todas as expectativas dos profissionais que lhe atenderam, e manteve-se viva por mais de quinze anos, para surpresa de todos que a conheciam.


 Assim era a Sacha, minha companheirinha incansável. Acostumei a tê-la do meu lado em todos os momentos: quando trabalhava no escritório, quando cozinhava, quando estava pelo pátio, e até quando ia dormir, num canto do quarto de onde ela podia me ver. Sempre a carregava com a sua caminha, seu potinho de água e ali ela permanecia inteiramente relaxada, observando atentamente a tudo, e reagindo quando algum dos outros cães se aproximava.  Quando chegavam visitas ela latia e tentava se aproximar e participar de tudo, especialmente quando era algum “conhecido”, a quem ela fazia questão de cumprimentar.


O tempo, porém a venceu. Seus olhos antes tão curiosos e atentos passaram a expressar medo e desconhecimento, como se não mais soubesse onde estava. Apesar de abraçá-la e lhe falar com carinho, não mais conseguia acalmá-la. As dores se acentuaram, ela passou a beber muita água e demonstrar uma ansiedade e uma angústia que nos fazia sofrer junto.  O câncer, que já tinha voltado a se manifestar na pele e na sua boca, passou para o pulmão. Nada mais pode ser feito a não ser permitir sua partida.



Aquela bolinha de pelo dourado e aqueles olhinhos vivos e atentos já não mais nos acompanham, pelo menos nesse plano terrestre. Desejo sinceramente que ela esteja em um lindo lugar aonde tenha conseguido voltar a correr, latir, defender seu território com a saúde e a vitalidade de quando nós a encontramos. Nós, neste lado ainda, conservaremos a lembrança de uma pequena cadelinha dourada que viveu exclusivamente para a família que a acolheu, que lhe amou e recebeu como pagamento o seu amor e devoção incondicional.   

    (Bernadete Santos)
 

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