Talvez aconteça em qualquer outra parte do mundo. Talvez pelo Brasil afora, mas isto é o que menos importa.
Importa é que aconteça aqui em nosso Estado. Aqui onde nos jactamos de possuir uma qualidade de vida ímpar (ou será que também isso se perdeu pelos tempos?). Aqui onde possuímos o mais lindo pôr-do-sol, onde temos o melhor teatro, os times mais organizados (alguém acredita?), os melhores políticos (será?). Bom, se temos tudo isto, por que o nosso Estado anda tão mal das pernas?
Lembremos alguns fatos.
O cais do porto. A ideia surgiu em 1987 quando o Simon, eleito Governador, esteve em Nova York e visitou o Píer 17. De lá até aqui são apenas 25 anos e o cais ainda não foi remodelado graças a grande capacidade que os nossos políticos têm de julgarem que os projetos alheios são sempre danosos e que apenas os próprios são dignos de valor.
Teatro da OSPA. O projeto foi aprovado no Governo Brito (fiz parte do corpo de jurados). Poderia estar pronto a esta altura não fosse, mais uma vez, o acima exposto. Aliás, o maestro Karabtchevsky deixou Porto Alegre alegando ser esta a única cidade que ele conhecia que se manifestava contra uma sede para sua própria Orquestra Sinfônica.
Revitalização da orla. No mínimo, que eu lembre, este assunto vem sendo tratado desde que o Collares foi Prefeito. Há sempre quem mande contra. Há sempre quem conteste. Agora se anuncia um novo projeto sob o comando do Escritório de Arquitetura do Jaime Lerner. De imediato, um profundo conhecedor local se arvora em solicitar que não se criem quiosques ou bares, pois se poderia degradar o Guaíba. Mas gente, alguém já se atreveu a chegar próximo ao Guaíba, onde ele ainda não é privatizado, e constatar a imundície local?
A segunda ponte. A ponte atual que cruza o Guaíba foi inaugurada no primeiro governo do Meneghetti. Alguém ainda recorda da baita festa que se fez? Há quanto tempo se fala em uma segunda travessia? Mas ninguém se entende: uns defendem as PPAs, outros querem que o governo banque para evitar o pedágio. Há quem seja ingênuo a ponto de acreditar que, seja qual for a solução, ela não será pedagiada? Nesta lengalenga o tempo passa e, finalmente, quando a segunda ponte for concluída estaremos no tempo de uma terceira.
O novo (velho) aeroporto Salgado Filho. Falar da retirada da Vila Dique para o aumento da pista e da implantação do sistema antineblina virou conversa de lavadeiras de tanto que já lemos e ouvimos as doutas autoridades sobre o assunto. Passados todos estes anos (quantos?) agora se levanta a hipótese de que o terreno onde se daria o aumento da pista não é conveniente. Mas nenhum inteligente se deu conta disto há quinze anos? Alguém sabe explicar por que, neste período todo de inércia e incompetência, se adquiriu o equipamento antineblina que agora já é considerado obsoleto? Quanto custou? Quem deu a ordem? Alguém ressarciu o prejuízo? Pois descubro, através da imprensa, que os projetos para o Salgado Filho (há tanto anunciados) esbarram na burocracia e em constantes reagendamentos de prazos, colocando em risco a pretensão do Estado de contar com um aeroporto maior até a Copa. No momento se fala que o Estado busca investidores para projeto alternativo (novo aeroporto), mas se alerta que o prazo para erguer um novo terminal será de, pelo menos, dez anos.
E olha que não falamos da ERS-10 e da RS-118, obras de Santa Engrácia que nunca têm fim apesar das reiteradas promessas de nossos (in)competentes políticos.
É pra rir ou chorar?
(Sérgio Napp)