sábado, 28 de janeiro de 2012

Nossos Gatos..

 
Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
— se somem — é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.
            ( Nelson Ascher )

Para Meus Filhos...



Na quietude de sua solidão
No silêncio mais longo
É que estarei presente.
Na claridade das manhãs
Na carícia apaixonada do vento
Eu me revelarei.
Quando a sua cabeça repousar
E num momento fugaz
Estiver isolada de todo pensamento
Esse vazio serei eu ao seu lado
Com muito amor, muito amor!
                                                 (Beatriz Whitaker)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Velha Rabugenta, uma menina...

Quando uma velha senhora morreu na seção para o tratamento de doenças da velhice em uma pequena clínica perto de Dundee, na Escócia, todos estavam convencidos de que ela não havia deixado nada de valor.
Então, quando as enfermeiras verificaram seus poucos pertences, elas encontraram um poema. Sua qualidade e conteúdo impressionaram todas as pessoas, e todas as enfermeiras queriam uma cópia do mesmo.
Uma delas levou uma cópia para a Irlanda.
A única herança que a velha deixou a seus sucessores foi publicado na edição de Natal da notícia da União para a Saúde Mental na Irlanda do Norte. Este poema simples, mas eloquente, também foi apresentado com slides. Portanto, esta velha senhora da Escócia, sem posses materiais para deixar o mundo, é a autora deste poema "anônimo" que circula na Internet.
Que veem amigas?
Que veem?
Que pensam quando me olham?
Uma velha rabugenta, não muito inteligente, de hábitos incertos, com seus olhos sonhadores fixos ao longe?
A velha que cospe comida, que não responde ao tentar ser convencida “De, fazer
um pequeno esforço?"
A velha, que vocês acreditam que não se dá conta das coisas que vocês fazem e que continuamente perde a sua escova ou o sapato ?
A velha, que contra sua vontade, mas humildemente lhes permite a fazer o que queiram, que me banhem e me alimentem só para o dia passar mais depressa...
É isso que vocês acham?
É isso que vocês vêem?
Se assim for, abram os olhos, amigas, porque isso que vocês veem não sou eu!
Vou lhes dizer quem sou, quando estou sentada aqui, tão tranqüila como me ordenaram.
Sou uma menina de 10 anos, que tem pai e mãe, irmãos e irmãs que se amam.
Sou uma jovenzinha de 16 anos. Com asas nos pés, e que sonha encontrar seu amado.
Sou uma noiva aos 20, que o coração salta nas lembranças, quando fiz a promessa que me uniu até o fim de meus dias com o AMOR de minha vida.
Sou ainda uma moça com 25 anos, que tem seus filhos, que precisam que eu os guie.
Tenho um lugar seguro e feliz!
Sou a mulher com 30 anos, onde os filhos crescem rápido, e estamos unidos com laços que deveriam durar para sempre.
Quando tenho 40 anos meus filhos já cresceram e não estão em casa. Mas ao meu lado está meu marido que me acalenta quando estou triste.
Aos 50, mais uma vez, comigo deixam os bebês, meus netos, e de novo tenho a alegria das crianças, meus entes queridos junto a mim
Aos 60 anos, sobre mim nuvens escuras aparecem, meu marido está morto; e quando olho meu futuro me arrepio toda de terror.
Os meus filhos se foram, e agora tem os seus próprios filhos...
Então penso em tudo o que aconteceu e no amor que conheci.
Agora sou uma velha.
Que cruel é a natureza.
A velhice é uma piada que transforma um ser humano em um alienado.
O corpo murcha. Os atrativos e a força desaparecem.
Ali, onde uma vez teve um coração, agora há uma pedra.
No entanto, nestas ruínas, a menina de 16 anos ainda está viva.
E o meu coração cansado, ainda está repleto de sentimentos vivos e conhecidos.
Recordo os dias felizes e tristes.
Em meus pensamentos volto a amar e a viver o meu passado.
Penso em todos esses anos que se foram, ao mesmo tempo poucos, mas que passaram muito rápido, e aceito o inevitável... Que nada pode durar para sempre...
Por isso, abram seus olhos e vejam: diante de vocês não está uma velha mal-humorada. Diante de vocês estou apenas “EU”. Uma menina, mulher e senhora, viva!... E com todos os sentimentos de uma vida...

                                                ( Autor desconhecido )

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vamos Colorir a Vida...


Deus:
Meu respeito.
Sei que não é direito escrever
só pra fazer reclamação.
E por isso então
que desta vez
venho propor ajuda.
Está tudo conturbado
em tudo quanto é canto,
pra tudo quanto  é lado.
Ou é o canto que dá errado,
ou é o lado que não muda.
Decidi fazer a minha parte:
colorir a vida
com as cores que tenho.
Uma dose de empenho,
mais um tanto de arte.
Eu estendo a cor
sobre o tablado da desilusão.
Amarro a ponta
para que, esticada,
seja como um bordão
de uma dança improvisada.
Quero homenagear a esperança que resta,
convidar o mundo todo a vir à festa.
Se seu regulamento permitir bailar,
venha conosco.
Teremos muito gosto em receber
o autor de todas essas fitas
que me  propus combinar
para tornar a sorte mais bonita.
Busquei-as naquele arco colorido
com que  Você pinta o céu,
saído das tintas da paleta.
Desculpe se meu ato é atrevido,
mas, se não for assim,
essa vida vai ficando branca e preta

(Flora Figueiredo)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Lista de Gratidão...


No frescor do novo ano, dá vontade de fazer uma pausa e refletir. Refletir sobre o que deu certo no ano passado, o que aprendemos daquilo que deu errado, e sonhar com o porvir. Todavia, tenho outra sugestão para nossas reflexões no início deste ano. Fazer uma lista de gratidão.

Geralmente passamos pela vida num contínuo deslumbramento, inconscientes das dádivas que estão sendo despejadas sobre nós - até que as perdemos. Como o monge beneditino vienense David Steindl-Rast lamenta, "uma queda de energia nos faz conscientes da dádiva da eletricidade, uma torção no tornozelo nos faz apreciar o caminhar, uma noite insone, o sono. Perdemos tanto da vida por nos dar conta de suas dádivas somente quando somos repentinamente privados delas!".

Não reparamos nelas porque a impregnante bruma de ingratidão que paira sobre a sociedade embaça nossa visão. Não importa o que tenhamos agora, nunca é o suficiente. Certa vez, por exemplo, perguntaram ao multimilionário Howard Hughes quanto dinheiro poderia fazê-lo feliz, e ele respondeu: "Apenas um pouco mais".

O dramaturgo americano Thornton Wilder tentou nos lembrar de todas as coisas da vida que não valorizamos. As coisas simples. Em sua peça Nossa Cidade, ganhadora do Prêmio Pulitzer, uma cena profundamente tocante se dá num cemitério, onde fantasmas consolam a jovem heroína que havia recentemente falecido durante o parto. Emily, ainda ansiando por sua vida recém-perdida, deseja reviver um dia comum de sua existência que se foi. Esse seu desejo é atendido, mas sua experiência se torna dolorosa demais para que ela possa suportar.

"Se a única oração que você fizer durante toda sua vida for 'obrigado', isso já será o bastante"

"Eu não me dei conta", dizia ela, "de tudo que estava acontecendo e nunca reparei... Adeus, mundo. Adeus, Mãe. Adeus, Pai. Adeus, tique-taque dos relógios e girassóis da mamãe. E comida e café. E vestidos passados e banhos quentes... E dormir e acordar. Ó terra, você é por demais maravilhosa para que alguém realmente se dê conta de ti." A agonia que ela experimenta diante de sua agora inútil nova percepção da vida a traz de volta ao cemitério, onde ela se pergunta até que ponto as pessoas percebem de fato a vida enquanto a vivem. Como um dos personagens afirma: "Os santos e os poetas, talvez, em alguma medida".

Então, que tal fazermos isso agora mesmo? Lembrar de coisas nas quais normalmente nunca reparamos. Fazer uma lista de gratidão. Algumas pessoas juram que manter um diário de gratidão tem o poder de transformar nossa vida. Ao final do dia, elas anotam de três a cinco coisas às quais elas são gratas. Até mesmo só uma coisa ou pessoa basta. Pesquisas na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas que mantêm uma prática diária de gratidão têm maiores níveis de entusiasmo, determinação, atenção e energia - e mais proteção cardíaca. Como uma mulher escreveu no final de sua lista: "Obrigada pela gratidão. Ela nos faz sentir bem por sermos gratos às coisas".

Vamos, então, fazer isso, nem que seja uma vez só, no início deste auspicioso ano novo. Talvez se torne um hábito. Como o místico alemão Meister Eckhart escreveu: "Se a única oração que você fizer durante toda sua vida for 'obrigado', isso já será o bastante".

Eu estou fazendo minha lista (de fato, esses itens estão em minha lista diariamente). Sou grata pela magia do Cosmos que guia cada passo de minha vida. Sou grata pelo cantar dos pássaros que me desperta de manhã e pelos grilos que me fazem dormir à noite. Sou grata por todas as preciosas jóias de pessoas que estão a minha volta. E, finalmente, sou grata por morar no Brasil, país onde, de todos os lugares que já conheci, vivem as pessoas que têm o maior coração.

E você, o que vai colocar em sua lista?            ( Susan Andrews)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Aos Nossos Filhos...


Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim
E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim
Quando lavarem a mágoa
Quando lavarem a alma
Quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim.    
      
(Ivan Lins)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

13 anos sem "Seu G"... Nosso pai amado.





.Ele pode ser descrito como uma pessoa simples, sem instrução formal, mas sempre bem informado. Muito amoroso com suas filhas, a quem todos chamavam de “as filhas do Jerônimo”. Cinco filhas. Todas mulheres que encheram sua vida de maneira absoluta, pois, ao contrário de muitas famílias de minha geração, ele é quem permanecia em casa, mantendo um pequeno armazém, enquanto minha mãe saia para lecionar. Meu pai é lembrado por todos que o conheceram pelo seu senso de humor. Ele era simpaticamente irônico. Gostava de música e lembro seus ensaios de passos de dança para nos fazer rir. Brincou com as pessoas até o fim, inclusive com as enfermeiras no hospital. Meu pai morreu como criança. O mal de Alzheimer o fez regredir intelectualmente e isso, de certa forma, fez com ele se ligasse ainda mais às suas filhas, que passaram a ser suas mães. Lembro dele nos cuidando em momentos de doenças infantis. Ele tinha uma vocação inata para a Medicina. Gostava de ler sobre isso e tinha alguns livros de medicina natural. Fazia eu ler as bulas dos remédios e conhecia uma diversidade de chás que costumava recomendar e fornecer gratuitamente para todos que lhe procuravam. Ele era um ecologista, mesmo sem saber, era mestre em economizar. Gostava de frutas, gostava de caminhar, do ar livre, dos animais, de crianças e respeitava demais sua família. Tinha muitos defeitos, mas não lembro mais de nenhum. Tenho muitas saudades do “seu” Jerônimo. Gosto de manter comigo a imagem de seu santo homônimo. Procurei inclusive saber sobre a vida deste famoso tradutor da Bíblia. Descobri que tinha uma inteligência excepcional, estava à frente de seu tempo ( final dos anos 300 ) e deveria ser considerado o protetor dos pesquisadores, pois a sua vida foi dedicada a essa atividade. No candomblé sua imagem também é venerada. É relacionado a Xangô, entidade ligada às questões da justiça, do intelecto e do direito. Reconheço nestes atributos muitas características de meu pai.Mas afinal, o que é um pai? Os estudiosos das relações familiares apontam seu papel legal, social, econômico e afetivo. Dissertam sobre sua função e importância, e consideram que a relação paterna repousa num dado cultural. Para mim, “seu” Jerônimo foi um exemplo de pai: muitas vezes severo e exigente, mas amoroso, brincalhão e terno. Sua imagem nunca sairá da minha memória que é estimulada ainda mais pelo cheiro da erva-mate, das plantas medicinais, pelo gosto da jabuticaba e pelo som das músicas que cantava e dançava, nos fazendo rir. 

(Lembranças de Bila)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Saudades da minha Infância...

 

                     Saudades  de  tempos  distantes...


                   Pessoas especiais
                   lugares mágicos
                   cheiros e prazeres

                   Recordações de um tempo lindo
                   sonhos de criança
                   dias de esperança

                   Saudades da minha infância
                   simplicidade, brincadeiras,
                   momentos encantados
                   cenas incocáveis de dias felizes

                   Na galeria de minha memória,
                   surgem intermináveis recordações
                   todas elas repletas  de ...
                   Amor, Saudades, Emoção.

                 
               

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sobre o Tempo e as Jabuticabas...



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que, apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos a limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Confia...

                                                  
    ... O vento que soprava célebre parecia
dizer-me:
       - Confia!
         O perfume das flores, de passagem por
mim, apelava em silêncio:
       - Não te detenhas!
         As constelações faiscantes pendendo da
altura, davam-me a impressão de acenos  da
Luz  Eterna, concitando-me sem palavras:
       - Luta e aperfeiçoa-te !
       A plenitude do teu amor brilhará também
um dia...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Animais...

                             
             No semblante de um animal que não fala,
      há todo um discurso que só um espírito sábio
      é capaz de entender.

                       Provérbio  Indiano

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mulher Feminina...



                   Mulheres são sensíveis, femininas e meigas
                   Sensibilidade não é sinônimo de fraqueza ,
                   É ser forte e determinada
                  É ter  sentimentos, coisas simples... tocam

                 Feminilidade não é frescura
                 São duas coisas bem distantes
                 Feminina é a mulher que ama

                 É vaidosa
                E não é vulgar, chama atenção por ser discreta
                E não por tentar aparecer

                                   Femininas
                                  Meigas
                                 Sensíveis
                                Personalidades tão simples...

            Lindas ... por dentro e por fora.

                                   ( Paty  Padilha )

              
           

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cheiro de Poesia..



                                Eu caminhava entre árvores
                                E espremia nos dedos

                                O mundo cipreste, roçando
                                um acridoce olfato

                                Ao silêncio de meu nariz
                                Ali entre cúmplices imagens,

                                Onde o vento me sabe
                                E o sem-fundo do lago me diz,

                               No frescor do mais contido sumo,
                               Cheirei a poesia, assim do nada,

                                E caminhei sobre as águas,
                                O naufrágio por um triz


                                           ( Fernando Campanella)

Eu sei, mas não devia.


Eu sei que a gente se acostuma.  Mas não devia...


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina   Colasanti)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Plante seu jardim, decore sua alma...


             Aprende que não importa em quantos pedaços
seu coração foi partido, o mundo não pára a fim de que
você o conserte.
           Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
           Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em
vez de esperar que alguém lhe traga flores 

                                              (William Shakespeare)
                                                           

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sabedoria...


Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu.  
   
(Lya Luft)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Abraço é confissão...


 

"Odeio abraço falso, como aquele beijo de frígida, no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço."(...) Até abraçar desaprendemos. Ninguém mais abraça com vontade. Com sinceridade de velório.

Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode virar colo. Alento tenso, que pode virar despedida.

É pelo abraço que testo o caráter do outro. Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da criatura.

Não sou porta para bater. 
Nem madeira para espantar azar.

Abraço com toquinho é hipócrita. 
É abraço de Judas. De traidor. 
O sujeito mal encosta a pele e quer se afastar. 
Pede espaço porque não suporta os pecados dos pensamentos.

Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho.

Abraço não pode ser rápido senão é empurrão. Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho.

Abraço é para atravessar o nosso corpo. Ir para a margem oposta. Nadar para ilha e subir ao topo da pedra pela gratidão de sopro.

Sou adepto a inventar abraços. Criar abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. 
Um idioma de abraços.

O meu é o de cadeira de balanço. Giro nas pontas dos pés. Não largo, os primeiros minutos são para sufocar, 
os demais servem para o enlaçado se recuperar do susto.

Não entendo onde terminará o abraço. Se a pessoa vai chorar ou vai rir. Abraço é confissão.

Dez minutinhos de sol e de liberdade."

(Fabrício Carpinejar)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Parabéns Moniquinha...


Chegou o grande dia, Senhor, chegou o dia da despedida.
Do troféu. O troféu é o nosso diploma.
Galgamos o cume de um monte de onde se descortinam vários caminhos.
Caminhos que serão percorridos de acordo com a vocação e as escolhas de cada um.

Chegou o dia do fim. O dia do começo.
E, como em todas as formaturas é dia de gratidão.
Gratidão a ti meu, Deus. Autor da vida e de tudo o que existe.
Gratidão aos pais, professores, funcionários, amigos.
E todas essas pessoas que foram afinando as vozes
para que o corpo pudesse entoar sua canção.

A canção esta pronta. É só começar o espetáculo.
A cada espaço de tempo, um sinal era tocado
para que as pessoas se preparassem para o momento da estréia.
A estréia é hoje. Tudo já foi ensaiado.
É claro que sempre falta um detalhe aqui ou ali.
 Mas tudo está pronto para começar.

E a vida aguarda os novos artistas.
E o mundo está sedento do talento desses jovens
que saem da gruta sem medo de enfrentar as feras que surgiram pelo caminho.
Estão armados. Porque ter medo? Armados de valores,de conhecimento, de amor.
Armados para derrotar o que deve ser derrotado
e fazer tremular, no mais alto mastro, a bandeira da vida, iluminada com o sinal da paz.

O tempo passou rápido demais. No começo, movia-se devagar.
Os primeiro dias. Os primeiros contatos, tudo era novidade.
Cada novo momento parecia difícil de ser aprendido.
As notas foram ganhando sonoridade.
O som agradável foi contagiando toda a escola.
E os estudantes foram crescendo, tal qual aurora que todos os rincões do mundo.

E essa luz que vinha das conversas, dos risos, das pequenas discussões
que faziam da escola um espaço de magia.
E todo o reino era tomado por um sentimento único de esperança.
Alias, no reino encantado da escola,
os príncipes e princesas tem o dever de ensinar a sonhar.

Apenas isso e nada mais. E isso já é o bastante.
O sonho está mais vivo do que nunca neste dia.
A caverna já cumpriu sua missão.
Não é possível mais viver em seus seguros espaços.
É preciso sair para o mundo.
É preciso deixar na caverna tantos momentos lindos que marcaram nossa história.
 Toda cumplicidade dos maestros que lá estavam
e que anunciavam a luz que nos aguardava.

É preciso levar da caverna os sentimentos corretos.
A determinação de não nos acomodarmos com o que esta acontecendo de errado.
Aprendemos que nunca deveríamos negligenciar os nossos valores, os nossos ideais.
E seremos fieis a essa vocação.

Hoje é o dia da formatura.
E a emoção desse dia tem de ser um marco que nos proteja
do crime da acomodação e da apatia.
Que a juventude que temos seja eterna,
e que desejo de mudar o mundo saia da utopia e habite a realidade.
Esta é a nossa oração. Este é nosso interno amoroso.
Estamos prontos. Saudosos de um passado recente. Mas prontos.

Podem abrir as cortinas.
O espetáculo vai começar.
 Proteja-nos, Senhor nesta e em todas as nossas apresentações.
 Não podemos desanimar. Assim seja!

(Gabriel Chalita)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Viver a Vida com Intensidade...


                          A vida é curta, quebre as regras...
                          perdoe rapidamente...
                          beije demoradamente...
                          ame verdadeiramente...
                          ria incontrolavelmente  e,
                          e nunca deixe de sorrir  -
                          por mais estranho que se-
                          ja o motivo.

                         A vida pode não ser a festa
                         que esperávamos, mas en-
                         quanto estamos aqui,devemos
                         dançar.
                                                  (Chico Xavier)
    

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Guardados de Infância.


                   Compro gavetas, armários, cômodas e baús.
                   Preciso guardar minha infância: 
                   os jogos de amarelinha, os segredos que me
                   contaram lá no fundo do quintal.

                  Preciso guardar minhas lembranças:
                 as viagens que não fiz, 
                 ciranda, cirandinha
                 e o gosto de aventura que havia nas manhãs

                Preciso guardar meus talismãs:
                o anel que tu me destes,
                o amor que tu me tinhas
                e as histórias que eu vivi.
                                                          (Roseana Murray)     
      
        

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bela Lagoa dos Patos...


Bela Lagoa dos Patos...

Lago Verde Azul

Um medo de andar solito, ouvindo vozes e gritos
E até do barco um apito, na sua imaginação.
Olhos esbugalhados, do moleque assustado,
Olhando aquele mar bravo,
Ora doce, ora salgado, num temporal de verão.

Sem camisa na beirada, bombachita arremangada
Botou petiço na estrada, quando a areia lhe guasqueou.
Sentiu um arrepio, com aquele ar frio que o açude e rio,
E as águas que ele viu não lhe provocou.

Coqueiro e figueira dos matos
E a bela Lagoa dos Patos,
Ó verdadeiro tesouro.
Lago Verde e Azul,
Que na América do Sul
Deus botou pra bebedouro.

Tempos que ainda tinha, o bailado da tainha
Quando o boto vinha com gaivota revoada.
E entre outros animais, no meio dos juncais
Surgiam patos baguais e hoje não se vê mais,
Este símbolo da aguada.

Nas noites de lua cheia, a gente sentava na areia
Para ver se ouvia a sereia, entre as ondas cantando.
E hoje eu volto ali, no lugar em que vivi
Onde nasci quando guri,
E olho a lagoa em ti, e me enxergo chorando.


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sai Baba





                       As  preces devem emanar do coração, onde DEUS
         habita, e não da cabeça, onde as doutrinas e as dúvidas
         se chocam...            
                                            (Sai Baba)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os Pais Envelhecem...


Talvez a mais rica, forte e profunda
experiência da caminhada humana seja
a de ter um filho.
Plena de emoções, por vezes
angustiantes, ser pai ou mãe é provar
os limites que constituem o sal e
o mel do ato de amar alguém.
Quando nascem, os filhos comovem
por sua fragilidade, seus imensos
olhos, sua inocência e graça.
Basta vê-los para que o coração se
alargue em riso e cor.
Um sorriso é capaz
de abrir as portas de um paraíso.
Eles chegam à nossa vida com
promessas de amor incondicional.
Dependem de
nosso amor, dos cuidados que temos.
E retribuem com gestos que
enternecem.
Mas os anos passam e os filhos crescem.
Escolhem seus próprios caminhos,
parceiros e profissões.
Trilham novos rumos, afastam-se
da matriz.
O tempo se encarrega da formação
de novas famílias.
Os netos nascem.
Envelhecemos.
E, então, algo começa a mudar.
Os filhos já não têm pelos pais aquela
atitude de antes.
Parece que agora só
os ouvem para fazer críticas,
reclamar, apontar falhas.
Já não brilha mais nos olhos deles
aquela admiração da infância e isso
é uma dor imensa para os pais.
Por mais que disfarcem, todo pai e mãe
percebem as mínimas faíscas no olho de
um filho.
É quando pais, idosos, dizem para
si mesmos:
Que fiz eu? Por que o encanto acabou?
Por que meu filho já não me tem como
seu herói particular?
Apenas passaram-se alguns anos e
parece que foram esquecidos os
cuidados e a sabedoria que antes
era referência para tudo na vida.
Aos poucos, a atitude dos filhos se
torna cada vez mas impertinente.
Praticamente não ouvem mais
os conselhos.
A cada dia demonstram mais impaciência.
Acham que os pais têm opiniões
superadas, antigas.
Pior é quando implicam com as manias,
os hábitos antigos, as velhas músicas.
E tentam fazer os velhos pais se
adaptarem aos novos tempos,
aos novos costumes.
Quanto mais envelhecem os pais, mais
os filhos assumem o controle.
Quando eles estão bem idosos, já não
decidem o que querem fazer ou o
que desejam comer e beber.
Raramente são ouvidos, quando
tentam fazer algo diferente.
Passeios, comida, roupas,
médicos - tudo passa a
ser decidido pelos filhos.
E, no entanto, os pais estão
apenas idosos.
Mas continuam em plena posse
da mente.
Por que então desrespeitá-los?
Por que tratá-los como se fossem
inúteis ou crianças sem discernimento?
Sim, é o que a maioria dos filhos faz.
Dá ordens aos pais, trata-os como se
não tivessem opinião ou capacidade
de decisão.
E, no entanto, no fundo daqueles olhos
cercados de rugas, há tanto amor.
Naquelas mãos trêmulas, há sempre
um gesto que abençoa, acaricia.
* * *
A cada dia que nasce, lembre-se, está
mais perto o dia da separação.
Um dia, o velho pai já não estará aqui.
O cheiro familiar da mãe estará ausente.
As roupas favoritas para sempre
dobradas sobre a cama, os chinelos em
um canto qualquer da casa.
Então, valorize o tempo de agora
com os pais idosos.
Paciência com eles
quando se recusam a tomar os
remédios, quando falam
interminavelmente sobre
doenças, quando se queixam de tudo.
Abrace-os apenas, enxugue suas lágrimas
ouça suas histórias (mesmo que
sejam repetidas)e dê-lhes
atenção, afeto...
Acredite: dentro daquele velho coração
brotarão todas as flores da esperança
e da alegria.
              

domingo, 1 de janeiro de 2012

Prece Irlandesa...

                          
                           Que a estrada se abra à sua frente
                           Que o vento sopre levemente em suas costas
                           Que o sol brilhe morno e suave em sua face
                           Que a chuva caia de mansinho em seus campos
                           E, que até o momento de reencontrarmos ...
                           Deus lhe guarde na palma de suas mãos.