quinta-feira, 13 de março de 2014

Voar é preciso...



No ponto mais alto de uma rocha, a águia construiu seu ninho. Lá embaixo ficava a planície, no
alto as nuvens e as estrelas. Foram longos dias de paciência e um dia, três pequenas águias romperam a casca do ovo e ficaram fascinadas pela luz. Os dias iam passando e os pais traziam, com pontualidade, o alimento. E, à noite, as penas aveludadas da mãe garantiam o calor e a tranqüilidade, evitando o vento frio e a neve. Para os filhotes, esta vida poderia durar sempre. E, de alguma maneira, assim pensavam seus pais. Mas chegou o dia do empurrão.
A águia empurrou, com ternura e firmeza, seus filhotes para a beirada do ninho. Seu coração se acelerou, com emoções conflitantes, ao mesmo tempo em que sentiu a resistência dos filhotes, com medo de cair. Lá embaixo estava o abismo. Se as asas não funcionarem, os filhotes morrerão, rolando de pedra em pedra até o sopé da gigantesca rocha. Sua missão estava prestes a terminar. Faltava a tarefa final: o empurrão. Ela se encheu de coragem. Enquanto os filhotes não aprenderem a voar, não descobrirão o privilégio de nascer águia. O empurrão era o melhor presente que ela poderia oferecer-lhes. Era seu supremo gesto de amar. Então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram.
A águia em seu instinto cego fez aquilo que os pais devem fazer em sua racionalidade. O lar é o ninho da ternura, do amor e da aprendizagem. Mas chega um dia que a excessiva proteção compromete o futuro dos filhos. Coitados, são tão inexperientes, pensam alguns pais. E os filhos ficam dormitando no comodismo, enquanto a vida passa. Eles nunca vão aprender a voar. A racionalidade deve vencer o medo e os filhos precisam encontrar seu próprio espaço, tomar em suas mãos o destino.
Por vezes o coração, sobretudo materno, raciocina mal. Como a águia, os pais devem empurrar seus filhos. Águias adultas não podem ficar dormitando no ninho a vida inteira. Elas nasceram para serem águias e não galinhas. Somente tentando tomamos consciência do enorme poder que temos. Os limites humanos sempre podem ser superados. Até mesmo aquilo que parece impossível pode ser feito. Educar é também empurrar, a seu tempo, os filhos para fora do ninho. E eles voarão.
(Texto de Aldo Colombo)

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