Gama Vestibulares está completando quarenta anos de história e fiz parte dela. Ali, onde hoje é a Loja Pompéia, convivi com grandes pessoas, colegas e professores, numa época de sonhos e expectativas. Fazer cursinho pré-vestibular era quase sinônimo de aprovação. Só que era, e ainda é, caro e na época proibitivo para o orçamento de minha família. Fantasiava-se sobre os professores. Gaston era hilário, Romero era preciso, Adil e Barquete davam banho em Biologia. Tínhamos Osvandré (o primeiro aluno Gama, mais um lenda desse ícone) em geografia, Korb em literatura, José Ernani em história, a linda Jussara em Matemática e estar ali, naquele mágico ambiente, era sonho de consumo. Eu, que fiz o intensivo (meio ano) sempre era o terceiro a chegar às aulas. Antes de mim estavam postados à porta os irmãos Emerson e Dênis Machado, que viriam a ser meus colegas de faculdade. Dênis chegou à aula com o disco da Rita Lee intitulado Esse Tal de Rock Enrow, bem assim. Lembro bem de Edgar Garcia, do gringo Biasuz, filho do Ivo e de Voltaire Borges. Voltaire durante uma aula do Ernani, olhou meio enviesado para mim e iniciou uma frase que faria qualquer um voar: eu queria estar agora aonde está meu pensamento...e, aí andei dez mil quilômetros em milionésimos de segundos e implorei que ele terminasse a reflexão, onde andaria seu pensamento? Ele repetiu, eu queria estar agora aonde está meu pensamento...Passo Fundo, Sananduva, Santana do Livramento.
Os melhores alunos eram dois que vinham de Carazinho e que queriam fazer Engenharia Eletrônica. Eram os gênios, gabaritavam tudo e estavam acima dos mortais. A plebe se dividia: os que estudavam muito queriam Medicina e Odonto; os filhos de advogados miravam em Direito tal qual os filhos de agricultores que tentariam Agronomia. Eu era da turma dos sonhadores e a gente queria coisas que nem entendia. A gente queria Oceanologia, Engenharia Química, Zootecnia e eu escolhera Engenharia Florestal. Tinha, não me levem a mal, os que nada queriam com o pastel e que competiriam em Educação Física.
Eu estudava por fora, lia os livros do Mauá: Menegotto (biologia), Vítor Segundo Mandelli (inglês), Edson de Oliveira (português), lia ecologia e também José Fogaça.
Duas semanas após o início das aulas em agosto de 1975 fizemos uma prova geral de 100 questões. Paulo Barquete entrou na sala e disse que listaria o nome dos que passariam no vestibular. Leu o meu nome e o nome de minha namorada à época, entre dezenas de outros. Estava honrando o dinheiro de meu pai.
Queria fazer Florestal e sou médico, minha namorada fez Agronomia e foi trabalhar no banco do Brasil. Não sei dos outros, mas sei dos sonhos. Parabéns alunos e professores de um mágico local que deixou história. Parabéns Romero.
Eu estudava por fora, lia os livros do Mauá: Menegotto (biologia), Vítor Segundo Mandelli (inglês), Edson de Oliveira (português), lia ecologia e também José Fogaça.
Duas semanas após o início das aulas em agosto de 1975 fizemos uma prova geral de 100 questões. Paulo Barquete entrou na sala e disse que listaria o nome dos que passariam no vestibular. Leu o meu nome e o nome de minha namorada à época, entre dezenas de outros. Estava honrando o dinheiro de meu pai.
Queria fazer Florestal e sou médico, minha namorada fez Agronomia e foi trabalhar no banco do Brasil. Não sei dos outros, mas sei dos sonhos. Parabéns alunos e professores de um mágico local que deixou história. Parabéns Romero.
Há, por obrigação e para que se evite a injustiça de deixar de mencionar colegas e professores significaram em nossas existências concluir as impressões sobre o momento mágico pré-vestibular e o Gama Vestibulares.
A primeira vez que fui ao Gama foi para colher informações. Lá estampava-se Osvandré, imortalizado, sorridente e autoconfiante, em um out-door. Bem bolado porque transmitia a energia necessária para iniciar a grande empreitada de estudos. Eduardo Fernandes apontou-me um cara que estava ao balcão com raquete de tênis e disse: é esse o cara que vai sair da Banda do Conceição e que tu vais substituir. Era Tadeu Feres, hoje ecografista e gineco consagrado. Pensei que somente um maluco para abandonar a banda. Logo mais tarde, ao sair do cursinho e ir ensaiar com a banda, ao lado de Clóvis Frainer e de minha namorada, lembro como se fora há um minuto que o radiozinho daquela sapataria sublimava bem alto Michael Jackson em One Day in Your Life. Trilha musical Gama. Legal, não é?
Matriculei-me basicamente para compreender matemática, física e química. Anete De Césaro substituiu a professora Jussara para dar aulas de matemática com a mesma competência profissional, mas não aos nossos suspiros juvenis. Saletinha emprestava um inigualável carinho e mimo familiar tão necessários a quem enfrenta incertezas e Ivo Vieira, professor de química, hoje médico, ensinou técnica de raciocínio memorável. Na última aula decretou: se tu estudaste de acordo com o combinado vai a dica. Se levares mais de quinze segundos para montar a fórmula é porque lestes a questão de maneira errada. Bingo, de vinte e cinco questões de química gabaritei dezenove na UPF.
De Santa Maria vinha como reforço para química orgânica um professor do qual não recordo o nome. Uma de suas aulas foi dada no Colégio Bom Conselho num sábado de primavera. No intervalo lembro bem o som ambiente: Moro Onde Não Mora Ninguém, de Agepê. Em outra ocasião, num domingo de manhã, após aula no auditório do NPOR, caminhei pela Uruguai em direção a casa da namorada Zuza e encontrei Beto, que chamavam de Beto Louco, na baixada próximo ao Beco do Susin. Perguntou-me o que eu fazia com livros em pleno domingo. Disse-lhe que estava em aula. Aula aos domingos? Depois dizem que eu é que sou louco, completou.
Meus estudos ao vestibular começaram solitariamente, em casa: biologia, depois português de Ceres e Alcides Sartori, depois o material do Mauá e do Integral. Quando em agosto de 75 ingressei no Gama já havia lido quase tudo. O cursinho, por si só não aprova ninguém. Perceba, caro amigo e amiga, que a vida do garoto da vila tinha estudo e lazer, novela, música, namorada e banda do colégio.
Fui aprovado em Santa Maria em Engenharia Florestal e em Medicina aqui na terrinha. Não houve grandes comemorações, eu me sentia confiante na aprovação, havia me preparado para isso. Queria Florestal, sou médico. O por que dessa troca preciso conter em outra oportunidade.
Cursinho é sedução, é hipnose e é encanto. Havia a mágica da juventude, havia os caras que davam aula e que faziam a gente acreditar que era possível e que só dependia da gente. Tinha amigos que se fizeram eternos, tinha gente que não conseguiu a aprovação, tinha amigos compenetrados e havia os hilários. Tinha, também, Paulo Bacchi de Sarandi, irmão da Sílvia e Raquel, que parou o trânsito de Santa Maria sob torrencial chuva naquele início de 1976 quando as provas terminaram e a quem dedico essa crônica, em homenagem a seu eterno sorriso e sua imorredoura juventude. Ao Paulo Bacchi, o cara que parou o trânsito de Santa Maria e que gritava com todos nós, a plenos pulmões: Gama, Gama, Gama...
(Jorge Anunciação)
Matriculei-me basicamente para compreender matemática, física e química. Anete De Césaro substituiu a professora Jussara para dar aulas de matemática com a mesma competência profissional, mas não aos nossos suspiros juvenis. Saletinha emprestava um inigualável carinho e mimo familiar tão necessários a quem enfrenta incertezas e Ivo Vieira, professor de química, hoje médico, ensinou técnica de raciocínio memorável. Na última aula decretou: se tu estudaste de acordo com o combinado vai a dica. Se levares mais de quinze segundos para montar a fórmula é porque lestes a questão de maneira errada. Bingo, de vinte e cinco questões de química gabaritei dezenove na UPF.
De Santa Maria vinha como reforço para química orgânica um professor do qual não recordo o nome. Uma de suas aulas foi dada no Colégio Bom Conselho num sábado de primavera. No intervalo lembro bem o som ambiente: Moro Onde Não Mora Ninguém, de Agepê. Em outra ocasião, num domingo de manhã, após aula no auditório do NPOR, caminhei pela Uruguai em direção a casa da namorada Zuza e encontrei Beto, que chamavam de Beto Louco, na baixada próximo ao Beco do Susin. Perguntou-me o que eu fazia com livros em pleno domingo. Disse-lhe que estava em aula. Aula aos domingos? Depois dizem que eu é que sou louco, completou.
Meus estudos ao vestibular começaram solitariamente, em casa: biologia, depois português de Ceres e Alcides Sartori, depois o material do Mauá e do Integral. Quando em agosto de 75 ingressei no Gama já havia lido quase tudo. O cursinho, por si só não aprova ninguém. Perceba, caro amigo e amiga, que a vida do garoto da vila tinha estudo e lazer, novela, música, namorada e banda do colégio.
Fui aprovado em Santa Maria em Engenharia Florestal e em Medicina aqui na terrinha. Não houve grandes comemorações, eu me sentia confiante na aprovação, havia me preparado para isso. Queria Florestal, sou médico. O por que dessa troca preciso conter em outra oportunidade.
Cursinho é sedução, é hipnose e é encanto. Havia a mágica da juventude, havia os caras que davam aula e que faziam a gente acreditar que era possível e que só dependia da gente. Tinha amigos que se fizeram eternos, tinha gente que não conseguiu a aprovação, tinha amigos compenetrados e havia os hilários. Tinha, também, Paulo Bacchi de Sarandi, irmão da Sílvia e Raquel, que parou o trânsito de Santa Maria sob torrencial chuva naquele início de 1976 quando as provas terminaram e a quem dedico essa crônica, em homenagem a seu eterno sorriso e sua imorredoura juventude. Ao Paulo Bacchi, o cara que parou o trânsito de Santa Maria e que gritava com todos nós, a plenos pulmões: Gama, Gama, Gama...
(Jorge Anunciação)
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