quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Felicidade é um condomínio...

                                                                               

A praia é uma oficina de quimeras,uma segunda vida que foi protelada por falta de horário e oportunidade.
Ninguém é sua profissão quando entra num condomínio na orla gaúcha.
Empresário não é empresário,advogado não é advogado, dentista
não é dentista.A mudança se deve ao temperamento do que resultado da
aparência. Não é porque os moradores estão de bermudas, camisetas, roupas
de verão.
Ao passar pelo portão, eles se tornam o que sonhavam ser quando crianças.
Ou que não conseguiram ser quando adultos. Recuperam o tempo perdido.
Não sei se é efeito da maresia ou da liberdade das férias. Acontece alguma
mágica, são vítimas de alguma bomba de gás  felicitante.
Uma casa no litoral desperta vontades secretas, reprimidas,ambições escondidas.
 Tudo o que não teve chance de ser feito brotam as margens marítimas.
O livro adiado toma forma, as cores habitam as telas brancas.
Não é mais o sustento da família que manda, não é mais o emprego que manda,
não é mais a obrigação financeira  que manda. O que prevalece é a liberdade
vocacional, o desejo de aprender novas habilidades.
Aquele que nunca nadou decide mergulhar não prendendo o nariz, aquele
com curiosidade em jogar capoeira se arrisca no berimbau, aquele que recusava
subir em uma bicicleta rompe o medo do desequilíbrio.
Quem era casmurro fica alegre quem era silencioso fica loquaz, quem era preguiçoso fica esportista.
Reconciliações são possíveis, resgates de identidade são comuns à beira-mar.
 Pai que não tinha folga para brincar estará em cima de uma boia de jacaré, surpreendendo
suas crianças com ataques imaginários.
Mãe, sem brecha para a família,convidará sua filha para longas caminhadas ao entardecer.
Haverá transformações incríveis,mutações generosas.
Impregnadas de calma, distanciadas da pressão da rotina, as pessoas se ampliam,se modificam, se 
aperfeiçoam.
Correspondem às suas expectativas,não mais aos anseios dos outros.
Você pode enxergar cabelereiro montando seu jardim, podando plantas
e colecionando orquídeas. Você pode enxergar engenheiro envolvido em
marcenaria na garagem, aplainando aviões e carros de madeira.
 Você pode enxergar fonoaudióloga conferindo estrelas em um telescópio na varanda.
Você pode enxergar economista costurando bordas em toalhas de mesa.
Aquela profissão, capricho ou atividade que jamais ganhava atenção é finalmente realizada.
 Aquele amor ou amizade em segundo plano tem agora espaço para crescer.
A praia é uma casa de câmbio.
Troca-se tempo por tranquilidade.
Fabrício Carpinejar

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