sábado, 29 de setembro de 2012

Enya...


Passe adiante...

 
 
Tenho vários DVDs de shows, e houve uma época em que assistia a eles atenta, ou então deixava rodando como som ambiente enquanto fazia outras coisas pela casa. Até que os esqueci de vez. Conhecedor do meu acervo, meu irmão outro dia pediu: posso pegar emprestado uns shows aí da tua coleção? Claro! Ele escolheu quatro e levou com ele. E subitamente me deu uma vontade incontrolável de voltar a assistir àqueles shows. Aqueles quatro, não é estranho?

Logo a vontade passou, mas fiquei com o alerta na cabeça. Me lembrei de uma amiga que uma vez disse que havia comprado um vestido que nunca usara, ele seguia pendurado no guarda-roupa. Um dia ela me mostrou o tal vestido e intimou: “Pega pra ti, me faz esse favor. Jamais vou usar”. Trouxe-o para casa. Muito tempo depois, ela me confidenciou, às gargalhadas, que não havia dormido aquela noite. Passou a ver o vestido com outros olhos. Por que ela não dera uma chance a ele?

Maldita sensação de posse, que faz com que a gente continue apegada ao que deixou de ser relevante. Incluindo relacionamentos.

Uma outra amiga vivia reclamando do namorado, dizia que eles não tinham mais nada em comum e que ela estava pronta para partir para outra. E por que não partia? “Porque não quero deixá-lo dando sopa por aí.” Como é que é?

Ela não terminava com o cara porque não queria que ele tivesse outra namorada, dizia que não suportaria. Reconhecia a mesquinhez da sua atitude, mas, depois de tantos anos juntos, ela ainda não se sentia preparada para admitir que ele não seria mais dela.

DVDs, roupas, amores: claro que não é tudo a mesma coisa, mas o apego irracional se parece. É a velha e surrada história de só darmos valor àquilo que perdemos. Será que existe solução para essa neura? Atribuir ao nosso egoísmo latente talvez seja simplista demais, porém não encontro outra justificativa que explique essa necessidade de “ter” o que já nem levamos mais em consideração.

É preciso abrir espaço. Limpar a papelada das gavetas, doar sapatos e bolsas que estão mofando, passar adiante livros que jamais iremos abrir. É uma forma de perder peso e convidar a tão almejada “vida nova” para assumir o posto que lhe é devido. Fácil? Bref. Um pedaço da nossa história vai embora junto. Somos feitos – também – de ingressos de shows, recortes de jornal, fotos de formatura, bilhetes de amor.

Isso sem falar no medo de não reconhecermos a nós mesmos quando o futuro chegar, de não ter lá na frente emoções tão ricas nos aguardando, de a nostalgia vir a ser mais potente do que a tal “vida nova”.

Qual é a garantia? Um ano para geladeiras, três anos para carros 0km, cinco anos para apartamentos. Pra vida, não tem. É se desapegar e ver no que dá, ou ficar velando para sempre os cadáveres das vontades que passaram.


(Marta Medeiros) 




sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Velha Interrogação...

 
 
Porque o tempo é que flutua,
como um rio de veludo,
sobre todos, sobre tudo...

À sua imagem sonhamos:
de onde vimos? aonde vamos?

E o destino indiferente
vai impelindo a torrente...

Passa a vida? Continua...
Com o tempo quem passa é a gente.
Mas, vida, se nós passamos,
Passa a vida? Continua…                  

de onde vimos? aonde vamos?               (Costa e Silva)



 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fiódor Dostoiévski



Sou um mestre na arte de falar em silêncio.
Toda a minha vida falei calando-me
e vivi em mim mesmo tragédias inteiras
sem pronunciar uma palavra.




quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Pai - Um Semeador...




O  semeador é um visionário. Ao jogar as sementes no solo, antecipadamente, sabe o que vai colher. Rega-as, livra-as das pestes daninhas para não comprometer seu desenvolvimento. Preocupa-se com as condições para que as plantas venham a dar bons frutos.

Assim é o pai, um eterno semeador. Um orientador convicto, um incansável conselheiro. Um mestre que lança no solo da vida conceitos para a melhor formação dos filhos. Seleciona as sementes da concepção de valores, de educação, de princípios éticos, de respeito e de tantas outras para a formação de bons cidadãos. É verdade que a referência é de pais cidadãos, como a grande maioria o é, não dos que vivem à margem dos valores sociais.
Pais portadores de sonhos, que às vezes falham por idealizarem seus filhos. Procuram preservá-los das armadilhas da vida. Orgulham-se por se sentirem pais heróis, sem se darem conta de que tudo é passageiro. Nas suas mentes, pairam nuvens de dias repletos de felicidade sucesso e gratidão. Alimentam a certeza de que seus descendentes são os melhores entre os demais. Mundo de sonhos e ilusões! O ser humano é singular, mas vive no plural.
A realidade, muitas e na maioria das vezes, é ingrata e implacável. Quando os filhos buscam sua independência, afastam-se dos “heróis” para trilhar seu próprio caminho. Aos pais, a roda da vida lhes apresenta a dura realidade: frustrações, sonhos que não se realizaram, namoros, profissão, estudos, amizades, independência e mais e mais! O arquiteto dos sonhos vê seu castelo ruir. Surge o desespero de ver tantas horas, tantas palavras, sem refletirem seus intentos. Sentem-se frustrados, substituídos por amizades desconhecidas.
O papel de pai passa a ser substituído por amigos, mas nem sempre bons amigos! Suas sempre crianças, agora adolescentes, lançam seus voos em busca da “liberdade”, de novos horizontes, de desafios. Sabem que podem dar-se mal, mas aventuram-se. Por outro lado, seus progenitores alimentam a insegurança de que seus “infantis” não estão preparados para todas as adversidades da vida. Mas é a vida, um eterno crescimento.
É bem verdade que a fase de criança e adolescência não tem mais o romantismo de antes. A dinâmica de hoje afastou muito os laços familiares. A mudança entre gerações é na velocidade luz, e nem todos conseguem assimilar as diferenças. Isto pode vir a definhar gradativamente e até falecer a relação entre pais e filhos.
Fica a saudade dos tempos em que os padrões eram rígidos, as palavras eram ordens absolutas, as chineladas nada mais eram que meios para educar e estabelecer limites. Nossos pais semeavam e sabiam o que iriam colher. Nos dias atuais, semeamos sem saber quais serão. Nossos filhos estão à mercê de uma sociedade violenta, insegura, contaminada de pessoas das piores estirpes, e o pior, em todas as camadas sociais. Nosso consolo é que neste caldeirão ainda existem boas referências, quer seja de pais, quer seja de filhos. Que a semeadura produza uma colheita farta e um banquete familiar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Solidão...



Solidão: uma palavra que habitualmente soa como negativa, que causa medo, porque remete à imagem de um pântano desolado, a uma situação fechada, de isolamento, até mesmo de reclusão na prisão. Quando se afirma que alguém está sozinho, diz-se isso com um sentimento de pena, de compaixão. Gabriel Marcel chegou a confessar: "Não há a não ser um sofrimento: o estar só", bem sabendo que muitos homens e muitas mulheres estão condenados a sofrer essa situação. E Victor Hugo escreveu laconicamente: "O inferno está todo nesta palavra: solidão".

Mais do que solidão, devemos, porém, falar de solidões, no plural, porque muitas são as formas nas quais a solidão pode aparecer, e de fato aparece, nas nossas vidas. Acima de tudo, há uma solidão a ser lida como uma espécie de destino, isto é, a solidão em que nos precipitamos em um certo ponto da vida, quando a morte nos arranca aqueles que nos permitiam não ficar sozinhos.

Essa é, por exemplo, a solidão do órfão que, perdendo a mãe ou o pai, não tem mais ao seu lado aquela presença que era a carne, a vida da qual viera, não tem mais aquela referência ao "tu" que o tinha acompanhado na sua vinda ao mundo. Tempos atrás, a solidão do órfão era um tema da literatura, principalmente para a dos jovens, um tema atestado de modo quase obsessivo; hoje, ao invés, ele foi removido, como se não se registrasse mais a morte de algum pai, que determina para o filho, criança ou adolescente, uma situação de triste solidão.

Solidão ligada a uma perda também é a de quem está privado do seu amante/amado. Eugenio Montale escrevia na morte da esposa: "Eu desci, dando-te o braço, ao menos um milhão de escadas / e agora que tu não estás, é o vazio a cada degrau". Sim, nessa solidão-destino, só se pode gemer, chorar, lamentar: o pranto é a única coisa necessária e parece também ser o único remédio possível.

Uma outra solidão negativa é a do isolamento. Às vezes, muitas vezes a partir de inícios silenciosos e escondidos, acontece de estarmos sozinhos, isolados, porque todos estão longe, porque não estamos mais perto de ninguém. A manifestação extrema dessa solidão é a prisão, onde somos jogados para longe da vida, dos afetos, do escorrer cotidiano da existência.

Hoje, porém, de fato, muitos aportam nesse isolamento mesmo sem chegar a essa situação limite: chegam a ela principalmente por causa de "um mundo em fuga" (
Anthony Giddens), de uma sociedade marcada pela velocização, em que o indivíduo não tem mais tempo para dar aos outros a sua própria presença.

Parece impossível, mas essa distância nasce dos próprios filhos, dos próprios entes queridos, e a estranheza se afirma porque os laços se mostram frágeis e são facilmente afrouxados ou mesmo truncados. É o estado em que se encontram muitos idosos, pensionistas, inválidos e doentes, abandonados em parte ou totalmente por aqueles que, empenhados em viver, não têm mais o cuidado por aqueles que não conseguem "permanecer na vida", "correr" como eles. Esses idosos estão – se poderia dizer – sob prisão domiciliar, porque estão impedidos pela sua condição física de se moverem como antigamente.

Depois, há a solidão de quem vive o sentimento da estranheza: esta é sobretudo um mal-estar psicológico e intelectual. Tal solidão é mais rara e é uma enfermidade que aflige pessoas na posse de uma certa educação, de uma certa cultura. Não se trata de apatia ou de falta de interesses, mas sim de uma rejeição do que está ao redor, do ar que se respira. É um sentimento estranho aos outros. Este, em resumo, é a solidão de quem pensa que os outros são o inferno... E depois há as solidões fecundas.

Estar só, saber estar só é uma conquista que exige esforço, exercício, audácia. Sem a solidão e sem o silêncio, como poderíamos conhecer a nós mesmos, escavar em nós mesmos, enxertar conscientemente em nós mesmos germes de comunhão?

Mas é preciso a coragem de se retirar, de fazer anacorese, de se afastar do cotidiano, do próprio empenho, dos próprios vínculos: e isso não para renegá-los, mas sim para se distanciar do que saiu de nós, do que foi gerado por nós, mas não está dentro de nós.

É um sair do turbilhão cotidiano para se afirmar: "Senta-te e vai'', dizia um padre do deserto. É nessa fase da solidão assumida que a música, a leitura, a vista de uma imagem, a contemplação de uma planta ou de uma pedra são eloquentes, nos fazem perguntas, acenam a respostas, nos fazem tremer de alegria, nos fazem chorar... "Beata solitudo, sola beatitudo!", gritava Bernardo de Claraval.


 (Enzo Bianchi)

domingo, 23 de setembro de 2012

Sto. Antônio de Lisboa - Floripa...Festa do Divino

                                                                  



                                                                 

sábado, 22 de setembro de 2012

Rainer M.Rilke

 
 
(...) ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração
e procurar amar as próprias perguntas como quartos fechados
ou livros escritos num idioma estrangeiro.
Não busque por enquanto respostas que não lhes podem ser dadas,
porque não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo.
Viva por enquanto as perguntas.
Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longínquo,
consiga viver a resposta.
 
Fragmentos de " Cartas a um jovem  poeta"


 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Imagine...




Se o homem pensasse como os animais...

 
 

Se o homem pensasse como o pássaro...
festejaria cada amanhecer com uma linda canção.
Se o homem pensasse como o cavalo...
ultrapassaria os obstáculos com classe, firmeza e determinação.
Se o homem pensasse como o cão...
faria do amor uma constante troca de carinho, lealdade e fidelidade.
Se o homem pensasse como o gato...
teria calma e equilíbrio em qualquer dificuldade.
Se o homem pensasse como a abelha...
constataria que nada se constrói sozinho.
Se o homem pensasse como a formiga
veria que trabalho e sucesso trilham o mesmo caminho
Se o homem pensasse como a baleia...
veria a importância do poder da solidariedade.
Se o homem tivesse a pureza e a simplicidade de ser dos animais...
a paz mundial deixaria de ser um sonho e seria uma realidade



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma velha sem concessões...

 
 
 
Eu não preciso usar tatuagens para mostrar que sou jovem, ou provar que sou moderna e estou atualizada. Até porque não sou nem jovem, nem moderna, dependendo do sentido que a maioria dá a moderna, pois, apesar de usado frequentemente como argumento para justificar “mas tudo mudou”, com raras exceções quem o usa sabe definir o que seja. Minhas tatuagens não aparecem na superfície da pele porque estão na alma e no coração e não há idade que as apague.

Eu não preciso ir a bailes de terceira idade para provar que vivo ou sei viver. Até porque continuo dançando sozinha ou acompanhada e com as netas. Ensaio para um musical que pretendo fazer e, se não o fizer, não importa, pois o bom mesmo é a combinação.

Não preciso gostar de todas as invenções eletrônicas para provar que estou atualizada, em consonância com o progresso. Não preciso saber manipular um celular para mostrar que aprendi alguma coisa na vida e não estou ultrapassada.

Não preciso saber lidar com o computador, ou utilizar todos os recursos desse instrumento para me comunicar com as pessoas ou com o mundo. Todo recurso que não tenha cheiros, toques, alegrias e contradições não é uma comunicação humana. Com a internet, transformo seres em imagens virtuais, mas o que preciso é de gente com cabeça, tronco e membros, alma e coração!

Eu quero estar no lugar em que estou, uma mulher de 71 anos, sem mais nem menos, pois a velhice é a idade da essência, não da circunstância. Quero estar onde estou, porque não posso negar os anos vividos, as coisas conquistadas, as dificuldades para me reconhecer e aceitar, as dores que tanto me ensinaram, as vivências maravilhosas no exercício da profissão e foi com ela que aprendi a ficar feliz com o crescimento alheio.

Eu sou uma velha e não é substituindo a palavra por eufemismos baratos que deixarei de sê-lo; os demais é que mudem suas concepções, pois, ao querer substituir as palavras por outras, revelam que a imagem é negativa. Pois, então, o que deve mudar são as cabeças, pois, se estas não mudarem, não é substituindo os termos da equação que mudarão os resultados.

Aliás, quando meus alunos dizem gentilmente que não sou velha, deslocam-me para a categoria dos jovens e com isso não terão na velhice quem lhes sirva de modelo. E, depois, gosto da minha categoria, a categoria antiga, até porque ela goza das seguintes qualidades:

1. Tem uma escala de valores, isto é, tem ética; não confunde ética com moral; 2. Tem moral, respeita as regras no momento eleitas pela sociedade; 3. Sabe o significado das palavras gratidão e respeito; 4. Não expõe seu afeto em público e se deixa seduzir pelo amor; e 5. Tem brilho no olhar. Pra que mudar?
                                                (Nayr Tesser)
*PROFESSORA

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Feliz Aniversário...

  
 
 
Doce encantamento, o mundo,
 
o carinho, a paz
 
cabem num abraço!
 
 
 
 


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

De Alma Escancarada...

 
 
construção das relações pessoais é regida por atitudes e comportamentos muito claros e permanentes, e que determinam se os vínculos vão ser solidificados ou implodidos.

Neste sentido, o sofrimento talvez seja o balizador mais competente e inflexível. Isso porque não há exercício de aproximação entre duas pessoas mais eficiente do que a solidariedade no desespero, nem instrumento de aversão mais áspero do que o descompasso afetivo.

Carl Gustav Jung já recomendava: “aprenda todas a teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, porque é da sintonia afetiva dessa relação que se estabelecerá uma interação emocional para ser lembrada com carinho ou desprezo”.

A maioria das pessoas tem uma vida tão pobre de emoções que uma doença grave, uma passagem pela terapia intensiva ou uma cirurgia de grande porte têm grande chance de serem rememoradas como um marco emocional na vida daquele indivíduo.

Se isso funciona assim, cuidado, meu doutor, ao se aproximar de alguém que sofre, pois você será catalogado no arquivo emocional daquele paciente conforme sua atitude afetiva. E esta classificação não admite revisões.

Quando um médico apressado diz ao paciente no corredor que ele tem um tumor e que depois passará no quarto para conversar sobre o seu caso, esta relação está definitiva e irreparavelmente rota porque foi negada a solenidade proporcional ao momento crítico da vida emocional daquele pobre paciente.

E que ninguém seja ingênuo de supor que esta ruptura possa ser consertada.

Para alguém fragilizado pela doença e terrificado pela fantasia da morte, não há atropelamento afetivo mais doloroso e inesquecível do que a desconsideração.

No extremo oposto, a recepção solidária e carinhosa de dúvidas e medos, angústias e fantasias, tristezas e esperanças, estabelece o vínculo mais sólido e definitivo que se possa imaginar. E todos estes ingredientes estão ali, comprimidos naquele abraço prolongado depois da primeira consulta.

Esta exposição de afeto é que dá ao médico a rara oportunidade, entre todas as profissões, de conhecer verdadeiramente as pessoas em pouco tempo de convívio, visto que premidas pelo sofrimento e pela ameaça da morte, nunca têm animo nem motivação para aparentarem, e desnudas de disfarce, elas simplesmente são.

Esse intercâmbio afetivo intenso, apesar da fugacidade do encontro, enseja a oportunidade – para que aproveitemos ou não – de nos tornarmos especialistas em gente, essa matéria-prima que se renova a cada novo personagem, com sua história pessoal, às vezes caótica, às vezes pungente, mas sempre rica, única e intransferível.
 
 (J.J.Camargo)

* Médico

 

domingo, 16 de setembro de 2012

Sou o que serei

                                                                         

Às vezes me abandono inteiramente a saudades
estranhas
E viajo por terras incríveis, incríveis.
Outras vezes porém qualquer coisa à-toa –
O uivo de um cão na noite morta,
O apito de um trem cortando o silêncio,
Uma paisagem matinal,
Uma canção qualquer surpreendida na rua –
Qualquer coisa acorda em mim coisas perdidas no tempo
E há no meu ser uma unidade tão perfeita
Que perco a noção da hora presente, e então

Sou o que fui.
           E sou o que serei            
 
   ( Augusto Frederico Schmidt)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Linda


Descobre-te como mulher

Com a leveza de uma menina

Olha-te no espelho, abra um sorriso.

Olha dentro dos teus belos olhos

Vê essa chama que te compreende

Esse desejo de gritar

Essa ternura que te acalma



Precisas de um consolo que tu mesmo guarda

De uma alegria que de teu próprio peito brota

É essa breve solidão tua melhor amiga

Que te escuta calada e seca teu pranto. 

  (Laerte Pedroso)


 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A essência humana...




"Cabe ao homem compreender que o solo fértil onde tudo que se planta dá, pode secar. Que o chão que dá frutos e flores pode dar ervas daninhas. Que a caça se dispersa e a terra da fartura pode se transformar na terra da penúria e da destruição.
O homem precisa entender que de sua boa convivência com a natureza depende sua subsistência e que ...
a destruição da natureza é sua própria destruição, pois a sua essência é a natureza, a sua origem e o seu fim."

Mensagem a um desconhecido...

 
 
 
Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.

Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado  


          (Cecília Meirelles)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cora Coralina...

 
 
 
Poeta, não é somente o que escreve
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado de uma
rima à autenticidade de um verso.

 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Felicidades... Rodrigo!

 
 
 
"Anota aí para o seu futuro:
 
desapegar das pessoas,
se importar menos,
não se abalar por nada e ninguém.
 
Correr atrás daquilo que faça seu coração vibrar,
ficar perto de quem te quer bem.
Correr atrás dos seus sonhos, se amar mais.
 
Esquecer tudo aquilo que te faça mal".
 
(Caio Fernando Abreu)


sábado, 8 de setembro de 2012

Quando dividir é somar...



Provavelmente, a solidariedade vem logo depois da gratidão na escala dos sentimentos humanos mais nobres

Exercitada em condições de pobreza, doença e desespero por sobrevivência, ela transcende todos os limites do imaginável e se sublima.

A união solidária dos que estão agrupados por sofrimento cria uma irmandade que emociona pela capacidade ilimitada de dividir o pouco que alguns têm,  mas que parece muito aos olhos dos que não têm nada.

É encantadora, por exemplo, a fraternidade das crianças com " fibrose cística ", cujas famílias praticam um auxílio mútuo com a naturalidade de quem descobriu que todas as mazelas , quando compartilhadas, ficam menores.

Quando comecei a trabalhar com transplante,  por falta de experiência,  intuí que os pacientes em lista de espera invejariam os colegas chamados para a cirurgia. Doce engano:

há uma autêntica euforia pelo companheiro que conseguiu . Para mim, esta alegria genuína é prova indiscutível de que os homens são intrinsecamente bons, ainda que os maus,  poucos mas barulhentos,  estimulem a falsa impressão de que a espécia humana está em decadência

Outra descoberta : os mais pobres, por entenderem a solidariedade como um pré - requisito para a sobrevivência , e também por exercitarem - na desde a infância , se mantêm assim por toda a vida, e se dispõem a ajudar com uma espontaneidade que comove.

Consultem as agendas dos Bancos de Sangue, e ,descobrirão que a maioria dos doadores são pessoas pobres,  encantadas com a idéia de ajudar desconhecidos, que nunca terão sequer a oportunidade de agradecer-lhes.

Acompanhem os mutirões de ajuda aos flagelados, e encontrarão legiões de miseráveis mobilizados pelo encanto da solidariedade, não importando quem seja o ajudado

A doação de órgão para transplante intervivos escancara uma diferença:  com raras exceções, o paciente rico, senão dispuser de mãe ou pai para a doação estará perdido.

Entre os pobres, é comum que meia dúzia de parentes se disponha a doar.

Há neste comportamento, uma enternecedora compensação. O afeto e a generosidade substituem com vantagem as benesses que o dinheiro descobriu que não pode comprar. 

                      (J.J.Camargo)

Relax...






sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mães modernas e conectadas...


 
 

"Calma, eu sou uma só!"
Essa resposta, típica das mulheres, no fundo no fundo não tem um pingo de verdade.
Cada mulher acumula um infinito número de papéis pessoais e sociais com grande talento.
De mãe, esposa, dona de casa e profissional de mercado, todas elas têm um pouco. Sem falar dos desempenhos de melhor amiga, filha dedicada, professora particular dos filhos, síndica competente e conselheira do marido. Porém, nos últimos tempos, elas andam cada vez mais eficientes. A mesma mãezona que pergunta se o filho está levando um casaquinho quando ele sai para a balada é a executiva que lê as notícias pela internet. A dona de casa prendada, capaz de fazer lindas peças em crochê, é a mesma que convida a filha para ir ao teatro e compra as entradas pelo celular 3G. A poderosa diretora,que a noite prepara o jantar da filharada com a ajuda dos seus maravilhosos eletrodomésticos,também adora conversar com as amigas pelo skype.
Antenadas por natureza, elas andam apaixonadas pelas inovações tecnológicas que lhes permitem ser ainda mais onipresentes, ainda que continuem a repetir
“Calma, eu sou uma só!”

 (Ruza Amon)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Novos Ventos: A vida começa aos 50...




Dominó, jogo de damas, canastra, paciência ou ainda, utilizar das habilidades manuais em artesanato e fazer pequenos consertos caseiros. Para aqueles que já ultrapassaram os 50 anos de idade eram alternativas mais comuns para passar o tempo.
Mas quem disse que estas pessoas querem passar o tempo?
Não. Nada disso. Na verdade todos nós queremos viver plenamente o tempo e marcá-lo com a nossa presença.
Vivemos o tempo em que os cinqüentenários estão em idade produtiva. Foi-se a era do descaso e da conversa na roda de amigos para os homens de meia idade. Dizem os especialistas em genética que o homem centenário já nasceu e ele viverá esta vida secular em sua plenitude e com saúde até o final dos seus dias. Em sendo assim, nada melhor do que darmos início a uma preparação para os novos moldes de expectativa da vida.
Neste contexto, seria difícil imaginar vivermos durante 100 anos, e 50 deles, ficarmos desocupados, ou pior, passar meio século tão somente preocupado com aquilo que não temos para fazer.
Diante desta nova realidade, sugestivamente, creio que o ser humano deva fazer algumas adaptações no estilo de vida, por exemplo; só aprender a andar de bicicleta quando, na comemoração de seus 51 aniversário. Para os homens, o alistamento militar obrigatório a partir dos 68 anos, pois assim teriam exercícios físicos diariamente, alimentação balanceada e grupos de amigos com muita camaradagem.
As mulheres fariam um segundo debut aos 65 anos e, apresentariam para a sociedade, além das formas curvilíneas de seus corpos e das marcas faciais de suas experiências, a prole que dela derivou.
Obviamente, a festa duraria dias , pois além do par escolhido, para a valsa, a debutante dançaria com o pai, o filho, o neto, o bisneto...
É claro que as hipóteses acima mencionadas são fictícias e servem apenas para aguçar o imaginário. Porém, devemos pensar em alternativas para viver na plenitude todos os dias de nossas vidas. Aos 50 anos de idade é preciso despertar a consciência de que temos mais meio século para viver e marcar a nossa passagem.




(Flávio Gonçalves)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

My Way...


Meu Jeito



E agora o fim está próximo
E portanto encaro o desafio final
Meu amigo, direi claramente
Irei expor o meu caso do qual estou certo

Eu tenho vivido uma vida completa
Viajei por cada e todas as rodovias
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito

Arrependimetos, eu tive alguns
Mas aí, novamente, pouquíssimos para mencionar
Eu fiz o que eu devia ter feito
E passei por tudo consciente, sem exceção

Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito

Sim, em certos momentos, tenho certeza que tu sabias
Que eu mordia mais do que eu podia mastigar
Todavia fora tudo apenas quando restavam dúvidas
Eu engolia e cuspia fora

Eu enfrentei a tudo e de pé firme continuei
E fiz tudo do meu jeito

Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive a minha parte nas derrotas
E agora conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido

E pensar que eu fiz tudo isto
E devo dizer, sem muita tímidez
Ah não, ah não, não eu
Eu fiz tudo do meu jeito

E para que serve um homem, o que ele possui?
Senão ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguém de joelhos

Os registros mostram, eu recebi as pancadas
E fiz tudo do meu jeito


Carlos Drummond de Andrade...

 
 
"A vida necessita de pausas"
 
 
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Filhos...



"Filhos são jóias preciosas de raro valor.
Mas que precisam ser lapidadas
todos os dias."

(Lourenço Neto)


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Vida parte 2...


          

 


Uma menina me perguntou certa vez: a vida da gente melhora da metade para o final? Ela deveria ter uns 14 anos, jovem demais para dividir a existência em duas partes e colocar suas esperanças na segunda. Já eu havia recém feito 40: estava me despedindo do ensaio geral e estreando na Parte 2, ainda sem saber o que estava por vir. Logo, o que responder?

Admiti que considerava encantadora a primeira parte: a virgindade existencial, os primeiros amores, a juventude do corpo, os sonhos projetados para frente, a morte a uma distância teoricamente segura. Não tinha como afirmar se a segunda parte possuiria munição suficiente para superar tanta vitalidade e expectativa, mas, dali onde eu me encontrava, seguia confiante, o futuro não me assustava. Apesar de ter vivido muito bem os primeiros 40, secretamente desejava que a resposta ao questionamento dela fosse um categórico sim.

Hoje aquela menina deve estar em torno dos 24 e ainda não tem sua resposta, mas garanto que anda tão ocupada que isso deixou de importar. Eu, no entanto, avancei um pouquinho na parte 2, porém continuo sem um parecer. Tenho apenas uma intuição.

Menina que não sei o nome: decretar o que é melhor, se a primeira ou a segunda metade da vida, é uma preocupação inútil – não perca tempo com isso. A única coisa que você deve ter em mente é o seguinte: o que fizer na primeira metade terá conseqüências na segunda, para o bem ou para o mal.

Se você for muito seletiva e insegura, acabará transferindo para mais tarde projetos que já poderiam ter sido experimentados. Procure viver as delícias de cada idade, arrisque-se. Se não conseguir, ok: então morra de amor, vá morar sozinha em Londres, entre para uma seita, monte uma banda, tudo isso aos 60, aos 70, e danem-se as convenções.

A maturidade traz ganhos reais. A ansiedade diminui, a teatralidade também: já não vemos sentido em agradar a todos, a opinião alheia deixa de nos influenciar. Essa liberdade de ser quem realmente somos me parece o benefício maior – os jovens não percebem, mas sua liberdade é muito restrita. São pressionados a fazer escolhas tidas como definitivas (casamento, filhos, profissão) e as dúvidas se amontoam.

A sociedade exige eficiência na condução desse script. Depois dos 40, a boa notícia: que sociedade, que nada. Não é ela que banca suas ideias, não é ela que enxuga suas lágrimas, não é ela que conhece suas carências. Você passa, finalmente, a ser dona do seu desejo. Não é pouca coisa.

A segunda metade trará vista cansada, um joelho menos confiável, um rosto não tão viçoso, umas manias bobas, mas o fato de já não haver tempo a desperdiçar nos torna mais focados e até mais aventureiros – pensar demais deixa de ser producente.

Perder a ilusão da eternidade traz, sim, conquistas instantâneas, mas, para isso, é preciso ter cabeça boa, conhecimento e uma forte base moral e ética. E isso você adquire na primeira metade da vida – ou padecerá na última.
(Martha Medeiros) 

domingo, 2 de setembro de 2012

Anjos de quatro patas...


                                                                               
Existem pessoas que não gostam de cães.
Estas, com certeza, nunca tiveram em sua vida um amigo de quatro patas.
Ou, se tiveram, nunca olharam dentro daqueles olhos para perceber quem estava ali.
Um cão é um anjo que vem ao mundo ensinar amor.
Quem mais pode dar amor incondicional,
Amizade sem pedir nada em troca,
Afeição sem esperar retorno,
Proteção sem ganhar nada,
Fidelidade 24h por dia!

Um cão não se afasta mesmo quando você o agride.
Ele retorna cabisbaixo, pedindo desculpas por algo que talvez não fez.
Lambendo suas mãos a suplicar perdão.

Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas) e se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se.

Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão...