sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Somente quando for ontem novamente...


                                                                                                     
André Midani, executivo francês e diretor da Gravadora Philips à época, apresentou uma sugestão trazida do México para Nelson Motta e Daniel Filho: contratar trilha sonora específica para as novelas da TV Globo com o intuito de fidelizar o público para uma emissora que ainda não era líder de audiência. E tudo iniciou com Véu de Noiva em que Antônio Adolfo-Tibério Gaspar desfilaram Teletema, na voz de Regininha e de Caetano, a música Irene, na voz de Elis. Então as músicas escolhidas para a trama revelaram-se uma explosão de sucesso e a Som Livre abraçou todo o projeto. Na década de 70 as parcerias musicais se auto-afirmaram com Antônio Carlos-Jocafi, Roberto-Erasmo, Paulo Coelho-Raul, Zé Rodrix-Tavito, Marcos-Paulo Sergio Valle, Baden Powell-Paulo Sergio Pinheiro, Nelson Motta-Guto Graça Mello. Em 1973, na novela O Bem Amado, de Dias Gomes toda a trilha sonora foi assinada por Toquinho-Vinícius, com pitadas para cultura religiosa com matizes africanos.
De modo que minha geração dançou e namorou sob a batuta das músicas de novelas. O presente ideal para a primeira namorada foi um compacto duplo da novela Os Ossos do Barão que tinha Wess e Dori Ghezzi (Tu Nella Mia Vita), Clifford T Ward (Gaye), Dave MaClean (Me and You) e Stylistics (You Make Me Feel Brand New). Amado ,né?

Mais adiante descobrimos Agnetha, Bjorn, Benny, Anni Frid ou Frida(Abba) de estrondosos sucessos elaborados por Benny-Bjorn e elevados às alturas pela maciez das vozes de suas esposas, a loira Agnetha e a não tão loira Frida. Foi numa manhã de 1976 que José Ernani mostrou na Planalto a música I do, I do, I do, I do, I do e eu, que estava estudando para uma prova de anatomia, fiquei encantado. Depois de Abba, Bee Gees, Bread, Michael Jackson, The Stylistics, Cat Stevens, Elton John e Barry Manilow nunca mais fomos os mesmos. Mas, também tinha Paulinho da Viola, Agepê, Martinho, Renato Terra, José Augusto, Fábio Júnior, Guilhermes Arantes e Lamounier...

Um dia Abba acabou. Agnetha que tinha casado antes dos vinte anos com Bjorn e era mãe e não suportava mais o ritmo das excursões, gravações, histerias de fãs e o cerceamento na vida sócio-familiar. Não entendia o glamour estendido a simples pessoas que compunham e cantavam. Ela somente desejava ser uma pacata mãe e levar a vida simples de uma mulher bem casada e sua vida era o inverso disso tudo. Resistiram, banda e casamento, até onde deu até que a diva explodiu: o que houve com a minha vida ? Não quero ser sucesso, quero ser feliz, perdi minha juventude, meu marido e meu gosto pelas coisas!!! E caiu fora para nosso desalento e para a nossa saudade.

Muitas vezes parece que nossos melhores momentos moram no passado e é para lá que desejaríamos retornar. Às vezes pegamos no sono leve das grandes recordações e enternecemos, sentimos o perfume das grandes estações, voltamos a ser as crianças-adolescentes que nunca deveriam nos abandonar até que alguém venha nos despertar. Não, não me acorde agora, por favor. Acorde-me somente quando for ontem novamente.

Somos todos muito diferentes e nossos melhores momentos não deveriam estar nem no passado e nem no futuro. O presente, este momento, é o que temos. Não há outro jeito. Se não toda mais Andante Andante vamos de Lepo Lepo.
Jorge Anunciação                                 

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