segunda-feira, 7 de julho de 2014

Poesia... Florianópolis!


Mais uma poesia sobre a bela Ilha da Magia, retratando a nostalgia de outros tempos através dos versos de Pedro Bertolino.
Florianópolis
O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão
era apenas
Morro do Antão.
A Ponte Hercílio Luz
tinha trilhos de pranchão
e um guarda sempre de plantão (…)
O ônibus
parava na Alfândega
e não se chamava terminal
era apenas ponto final (…)
A chuva
Molhava a gente
nas noites de carnaval.
O Job sabia de tudo
frequentava o senadinho
e sacaneava aquele mudo
do café do seu Foguinho (…)
A Dona Traça
se pintava
na Figueira da Praça
todas as manhãs.
As lavadeiras de Sambaqui
pareciam margaridas
deixando as ruas floridas
com seu ti-ti-ti.
Desciam na Catedral
de um ônibus quase sem bancos
e levavam na cabeça
aqueles seus sacos brancos.
Com as duas mãos soltas
cumpriam desenvoltas
seu rito matinal.
Eram marias
Marias de carnaval
levando na patroa
as roupas do varal.
O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão.
Era apenas
Morro do Antão

sábado, 5 de julho de 2014

Rubem Alves...


Olhe, há tristezas de dois tipos. Primeiro, são as tristezas diurnas, quando o mundo está iluminado pelo sol. Tristezas para as quais há razões. Fico triste porque o meu cãozinho morreu, porque meu filho está doente, porque crianças esfarrapadas e magras me pedem uma moedinha no semáforo, porque o amor se desfez. Para essas tristezas há razões. Quem não sente essas tristezas está doente e precisaria de terapia para aprender a ficar triste. Tristeza é parte da vida. Ela é reação natural da alma diante da perda de algo que se ama. O mundo está luminoso e claro - mas há algo, uma perda, que faz tudo ficar triste.

Segundo, são as tristezas de crepúsculo. O crepúsculo é triste, naturalmente. Não, não há perda nenhuma. Tudo está certo. Não há razões para ficar triste. A despeito disso, no crepúsculo a gente fica. Talvez porque o crepúsculo seja uma metáfora do que é a vida: a beleza efêmera das cores que vão mergulhando no escuro da noite.

A alma é um cenário. Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca, inundada de alegria. Por vezes, ela é como um pôr de sol, triste e nostálgico. A vida é assim. Mas, se é manhã brilhante o tempo todo, alguma coisa está errada. Tristeza é preciso. A tristeza torna as pessoas mais ternas. Se é crepúsculo o tempo todo, alguma coisa não está bem. Alegria é preciso. Alegria é a chama que dá vontade de viver.

Rubem Alves

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Velhice...




 Se meu andar é hesitante e minhas mãos trêmulas, ampare-me…

Se minha audição não é boa e tenho de me esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure entender-me…

Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento é escasso, ajude-me com paciência…...

Se minhas mãos tremem e derrubam comida na mesa ou no chão, por favor não se irrite, tentei fazer o melhor que pude…

Se você me encontrar na rua, não faça de conta que não me viu, pare para conversar comigo, sinto-me tão só…

Se você na sua sensibilidade me vê triste e só, simplesmente partilhe um sorriso e seja solidário…

Se lhe contei pela terceira vez a mesma “história” num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me…

Se me comporto como criança, cerque-me de carinho…

Se estou com medo da morte e tento negá-la, ajude-me na preparação para o adeus…

Se estou doente e sou um peso em sua vida, não me abandone, um dia você terá a minha idade…

A única coisa que desejo neste meu final da jornada, é um pouco de respeito e de amor…

Um pouco… Do muito que te dei um dia !

(autor desconhecido)

Quando nosso animalzinho de estimação morre...





Quem já não passou pela doída tristeza de perder seu cão, gato, papagaio ou passarinho cantador?
Adultos ou crianças, não há quem não sinta a perplexidade diante da morte real. Real sim, porque as mortes que povoam os filmes e os vídeos games são ficções irreais e se tornaram objeto de prazer.
Que tamanha contradição e que confusão não se cria na cabeça das crianças que estão se habituando a cenas fictícias de morte, sem contudo compreenderem a mortalidade como um ciclo natural da vida que precisa ser enfrentado por todos nós.
Embora a morte esteja escancarada, banalizada na TV e nos games, o assunto não é tratado seriamente com as crianças e adolescentes. Mesmo os adultos fogem da reflexão sobre o inevitável enfrentamento da terminalidade do corpo físico, seja de si, de outras pessoas, de animais domésticos aos quais nos apegamos.
Especialistas em tanatologia (estudo da morte  e do morrer) alertam que as crianças não devem ser poupadas desta conscientização e de vivenciar os sentimentos de perda. Há livros infantis (servem também para adultos) que abordam em linguagem simples  o processo da finitude biológica.
Quando adquirimos um animalzinho devemos preparar as crianças explicando que aquele ser tem um tempo determinado de existência, que poderá durar alguns dias, meses ou anos.
Ensinar as crianças e adolescentes a amar os animais de estimação sem apego é uma boa oportunidade para que nós adultos também aprendamos amar sem apego, reconhecendo a transitoriedade de tudo e de todos.
O veterinário Nicolino F. Lauletta também defende esta postura e sempre que possível conscientiza seus clientes, principalmente as crianças, sobre os cuidados que se deve ter com os animais para a preservação da vida sem perder de vista a inevitável condição transitória dos seres.
Quantos adultos e crianças não ficam doentes quando morre um animal de estimação?
É natural que se fique triste, que se chore, que deparemos com um grande vazio e sintamos a perda.
Mas, quando temos a consciência da transitoriedade do corpo físico de pessoas e animais podemos enfrentar com  mais compreensão e serenidade sem grande desequilíbrio.
Exercitar esta conscientização desde a aquisição do animalzinho é uma maneira de preparar as crianças para poupar sofrimentos excessivos nos momentos de  perda. Quando a morte ocorre deve-se permitir que as crianças realizem os rituais de luto: o que fazer com o corpo do animal, como guardar lembranças dele etc.
Se você leitor, não sabe como lidar com estas situações pode começar a obter algum conhecimento. Há muitas obras, vídeos de especialistas que tratam do assunto. O conhecimento abre horizontes, proporciona um viver e morrer com qualidade. 
  

Algumas obras infantis:
·         A História de uma folha – Léo Buscaglia  - Ed. Record
·         Conversando sobre a morte – Carla L. C Hisatugo – Casa do Psicólogo
·         Tempos de Vida – B Mellonie e R Ingpen – Global Editora
·         Ficar Triste não é Ruim – Michaelene Mundy- Ed. Paulus
·         Quando alguém muito especial morre – Marge Heergaard – Ed. Artmed
·         medo da sementinha  - Rubem Alves – Ed. Paulus
·         A montanha encantada dos gansos selvagens  - Rubem Alves – Ed.  Paulus
·         Menina Nina – Ziraldo – Ed.  Melhoramentos
dia em que o passarinho não cantou – Luciana Mazorra e Valéria Tinoco – Ed. Livro Pleno



 Revista Atitude - 19 ( MG)

Como a arca de Noé... ou quase!


 

Não é querer que alguém transforme a sua casa numa arca, tal como Noé, mas que ter alguns bichinhos de estimação em casa fazem a gente mais feliz, isso sim é certo. Claro que não é preciso agir como salvador das espécies e reunir todos os exemplares do reino animal na sua humilde residência. Mas um gatinho, um cachorro, um peixe.

É claro que não se pode esperar que todos tenham a  mesma capacidade de entender os animais, como tinha São Francisco de Assis. Porém, para uma boa convivência e prazer mútuo com aqueles que elegemos como companhia, são indispensáveis; o respeito, o carinho e a atenção.

É cada vez mais comum vermos as pessoas manterem uma relação de amizade com criaturas diferentes da sua espécie. Dispensar alguns momentos aos bichinhos de estimação não se  trata de um hobby, mas uma opção e modo de viver . Imagine nos dias nublados do inverno gaúcho, acordar com o trinado melodioso de um canário belga, ou despertar com o cantarolar de uma calopsita, de um periquito e até mesmo o pedido enrolado dum papagaio, cheio de graça dizendo “louro quer café”.

E o que dizer do cãozinho fiel que não está nem aí pro mercado de ações, investimentos, taxas de juros e demais problemas que atormentam os seres humanos e que, ao ver você chegar em casa, saltita de alegria e abana o rabo para os problemas da humanidade, porque para ele, o que importa é fazer você feliz e ser feliz ao seu lado.

E os gatos. Ah, os felinos parecem terem desenvolvido uma habilidade notável na convivência com os humanos. Além de demonstrarem com ninguém o carinho através de ronronados e esfregar de pêlos em nossas pernas, encaram firmemente o fundo de nossos olhos, como se pudessem entender as mais profundas ansiedades e, no seu silêncio nos transmitem a compreensão e serenidade.

Estas criaturas de estimação ocupam um lugar especial em nossas vidas, são companheiros disponíveis, amigos fiéis e incondicionais.
E o que nos pedem em troca? - Quase nada. Além da possibilidade de conviver, da responsabilidade de alimentá-los e de retribuirmos
o carinho que eles nos dão.

(Taís Rizzotto)

Minha alma tem pressa...

 
 
"Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
 minha alma tem pressa".
 
 Rubem Alves                               

Família...

 
 
Família é refúgio e oásis, aconchego e segurança, afeto e companheirismo.
 É uma roupa seca após a chuva, um chocolate quente no inverno, um copo d´água após a caminhada.
Família é identidade, aprovação, cumplicidade, conexão.
 É repouso e apoio, cuidado e abraço, é útero, seio.

É preciso amor para ser família, porque família é dedicação.
Na cozinha e no gesto, família é alimento que nutre, carinho que sacia.
Família é suprimento, ponto de referência, envolvimento, coesão.
Família é direção.
Na sala e na palavra, família é reunião, festa, boas vindas.
É preciso estar aberto para ser família, porque família é agregação.

Família não se compra, não se escolhe, não se inventa.
 Família é presente, dádiva, mimo.
É presença, plantão, atendimento de urgência.
 Família é união.
É preciso altruísmo para ser família, porque família é abnegação.
Família é aceitar, acolher, esquecer, retroceder.
 No quarto e no coração, família é aquecer, proteger 

Sara dos Anjos