quinta-feira, 9 de abril de 2015

Gabi... 19 anos de saudades!




Um anjo vem todas as noites: 
senta-se ao pé de mim, e passa 
sobre meu coração a asa mansa, 
como se fosse meu melhor amigo. 
Esse fantasma que chega e me abraça 
(asas cobrindo a ferida do flanco) 
é todo o amor que resta 
entre ti e mim, e está comigo. 


Lya Luft

domingo, 5 de abril de 2015

Vida Interior...

Devo à formação católica grande parte da minha vida interior. Sem as missas, não sei se teria 
desenvolvido a imaginação. Logo que comecei a frequentar a igreja, as celebrações mudaram do latim para o português, mas bem poderiam ter continuado assim, para mim seguiu soando grego. Como não entendia o ritual, as rezas prosseguiam alheias. Só restava me entreter com as janelas e os pensamentos.
Não sei se meu órgão da fé é avariado ou a se ideia de um deus zangado, ressentido e exigindo adoração nunca me fez sentido. O fato é que sempre estava na missa dividido. Tentava me conectar com aquela solenidade e não conseguia, então devaneava.
Experimentei várias fases de distração: a matemática, quando contava as pessoas multiplicando o número de bancos pela média dos ocupantes, ou calculava quantas lajotas havia no piso, ou ainda buscava descobrir a altura do teto comparando com animais de que conhecia o tamanho. A fase artística era difícil, pois sempre achei a iconografia das igrejas católicas com um pé no sinistro.
Exceção feita às poucas missas a que fui na catedral de Santa Maria, de belíssima decoração. Minha alma volúvel se deslumbrava com as pinturas de Locatelli e ali fui o mais próximo do bom católico, vencido não pela fé, e sim pela estética. 

Tive também a fase da pura viagem, tédio total: nessa, simplesmente inventava histórias, conduzia as fantasias aleatórias para filmes mentais. Antecipava os cowboys justiceiros que me aguardavam na matinê, ou os piratas na sua procura obstinada por tesouros.
Mas por que ia à missa se resistia a ela? Porque me mandavam e eu obedecia, seguia os passos dos pais. Minha mãe dentro da igreja junto comigo e meu pai no fundo, às vezes saindo para fumar. Ficava no meio-termo, dentro como minha mãe e com a cabeça lá fora como meu pai.
Da cerimônia, gostava apenas da hora do Pai Nosso, a única oração que conhecia de cor e minha deixa para entrar de verdade na missa, sabendo que já estava agradavelmente no fim. As missas a que assistia com as minhas avós transmitiam uma sensação diferente. A fé delas parecia mais genuína e contagiante e transformava minha eventual companhia em alta e nobre missão. De qualquer forma, mesmo sem elas, nunca achei que perdia meu tempo. Afinal, aquela era a minha religião, ainda que pela metade. Eu não acreditava, só que a missa fazia parte fundamental do mundo dos meus sonhos.
Saía da igreja de alma leve, como quem tira botas apertadas, como quem lava e seca seus pecados logo cedo e a perspectiva da próxima só em uma semana. A luz forte da manhã de domingo prometia um dia livre e feliz. Havia uma inexplicável alegria extra, vá que Deus fosse tão generoso que abençoasse até os ateus distraídos.



Mário Corso

Meus Velhos...

                           

Fabrício Carpinejar

Meu amor pelos pais hoje é silencioso.
Não me interessa mais ser compreendido, ter razão, confirmar a inteligência. Não busco ganhar discussões, convencê-los de minhas ideias.
Não me sento rebelde à mesa, não parto da sala de jantar enfurecido com os sermões. Não puxo temas como aborto e pena de morte. Não me desgasto com política e futebol. Não fico em cima para mudar seus votos e denunciar seu conservadorismo. Eu me retiro da minha vaidade, por um breve tempo, para admirá-los envelhecendo e guardá-los em mim.
Às vezes pergunto que novela é aquela que está passando na televisão para, em seguida, retomar minha quietude. Outras vezes, nos intervalos comerciais, comento notícias rápidas sobre a saúde dos netos.
Esqueço o mundo, e também me esqueço. Não me importo se aprovam e desaprovam a minha nova mulher, se concordam e discordam com o meu estilo de vida.
Não compro briga, não vendo briga. Eles mal reparam em minha presença, não lembram que estou próximo, desapareço pela casa.
Não preciso que me digam que me amam e que se desculpem por alguma falha. Meus pais passam a ser unicamente meus pais. Não melhores, nem piores: meus pais. Não projeto minhas expectativas, não reivindico a fonte das frustrações. Sequer identifico traços de seus antigos ofícios. Parece que nasceram pais. São tão somente meus velhos e eu sou o filho deles.
Dedico um longo olhar atento e vigilante. Dedilho os lábios em oração. Torno-me menos carente e mais útil.
Acompanho os dois a um passo deles, jamais denunciando que estou seguindo.
Eu me preocupo em ajeitá-los com os dois travesseiros, em oferecer o braço para descerem do carro, em limpar o canto de suas bocas após uma refeição, em descalçar seus pés, em preparar um chimarrão e buscar água gelada na cozinha, em pagar as contas dos restaurantes, em ajudá-los a tirar o pulôver sem raspar o rosto.
Minha voz converte-se em gesto. Não quero sensibilizá-los além da conta. Acabaram as revoluções, os momentos de brabeza entre nós, anulamos as diferenças.
Não falo com meus pais. É um esforço meticuloso de mímica e de cuidado.
Tenho medo de irritá-los, tenho medo de estragar a nossa amizade, e que não dê mais tempo para a nossa reconciliação.

Páscoa 2015...


É tempo de permitirmos que o amor e os bons sentimentos renasçam
em nossos corações e, que tenhamos consciência de nossos atos e pensamentos, buscando sempre o nosso melhor, para que isso reflita em harmonia e amor em nossas vida!
Feliz e Abençoada Páscoa!

Páscoa em família... 2015



Que aprendamos a renascer...
Para as coisas boas, para os sentimentos bons.
Para os momentos de felicidade.
Para a fraternidade entre os amigos.
Para a alegria entre os bons de coração.
Que aprendamos a renascer, e a deixar os bons sentimentos renascerem mais vívidos e fortes em cada um de nós.
Essa é a oportunidade de rever nossos planos, nosso mundo e universo particular.
Aquela rara hora de tranquilidade e sossego que encontrarmos para analisar nossos sonhos sob a perspectiva de uma nova esperança que surge a cada novo dia.
Páscoa significa renascimento, e é por isso que existem aqueles ovos de páscoa que são distribuídos como uma simbologia muito próxima ao nascimento, à alvorada de uma nova caminhada.
Que possamos reviver cada dia de uma vida nova; todo simples momento de paz interior que raramente conseguimos alcançar.
E que aprendamos a dividir essa paz para os nossos, até mesmo para quem está longe ou quem nem conhecemos.
É hora de falar da boa notícia: você é o único que pode acreditar - e manter viva a chama da fé - de que novos dias virão.
Feliz Páscoa a todos aqueles de bom coração e a todos que precisarem do nosso abraço e do nosso cuidado.






Crônica de Páscoa...


Papai, o que é Páscoa?                           

-Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!

-Igual ao Natal?
-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

-Ressurreição?
-É, ressurreição. Marta, vem cá!

-Sim?
-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.

-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
-O Espírito Santo também é Deus?

-É sim.
-E Minas Gerais?

-Sacrilégio!!!
-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
-Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

-Coelho bota ovo?
-Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

-Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
-Era... era melhor, sim... ou então urubu.

-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
-Que dia ele morreu?

-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
-Que dia e que mês?

-(???)
-Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.

-Um dia depois!
-Não, três dias depois.

-Então morreu na Quarta-feira.
-Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!

-Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
-É que hoje é Sábado de Aleluia e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

-O Judas traiu Jesus no Sábado?
-Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!

-Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
-Ui...

-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
-Cristo. Jesus Cristo.

-Só?
-Que eu saiba sim, por quê?

-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
-Ai coitada!

-Coitada de quem?
-Da sua professora de catecismo!

Fonte: Luís Fernando Veríssimo 

Carolina Salcides...





De algum jeito a vida, todos os dias, nos manda um sinal ou alguém que cruze nosso caminho para nos dar força para persistir, para nos dar coragem ou inspiração. Ou simplesmente para nos fazer rir ou descontrair. Um simples café, uma palavra, uma música, um anúncio. A vida manda sinais e sopra para quem observa com o coração." 


Carolina Salcides

Sobre as sardas...

                                                                                       
São defeitos?
Antes são mapas
Acertos de rotas
Ilhas dispostas num mar calmo
Charmes
Toques de arte do sol

Imperfeições?
Antes são estrelas, mapas astrais
Constelações
Filhas ultra – violetas
De um Deus faminto
Princesas de um universo extinto
Mau gosto?
Antes são contrapontos
Doses antimonotonia, equação
Que te fazem mais interessante
Mesmo que os tolos e os caretas
digam que não

Marcelo Moro