quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Clarice Lispector...
"Sejamos como a primavera, que renasce cada dia mais bela...
Exatamente porque nunca são as mesmas flores".
Charles Chaplin...
“Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus.
Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim”.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus.
Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim”.
domingo, 27 de outubro de 2013
Bernadete ...
A amargura nos faz morrer lentamente,
nos afasta dos demais e nos cobre com um manto de solidão.
A tristeza é mais doce .
Ela desperta a compaixão, a solidariedade e nos une.
Ela desperta a compaixão, a solidariedade e nos une.
Estar simplesmente triste não significa acomodação.
Das nossas convicções é que temos que tirar forças para lutar,
e não da raiva que pode nos cegar
e não da raiva que pode nos cegar
A maior homenagem que podemos prestar aos nossos afetos que partiram,
é viver da forma que eles gostavam de nos ver.
é viver da forma que eles gostavam de nos ver.
É preciso acreditar que a vida ainda é bela e ainda pode ser feliz,
simplesmente porque a
simplesmente porque a
única referência que temos de beleza e de felicidade,
foi nos dada por ela.
foi nos dada por ela.
sábado, 26 de outubro de 2013
Caio Fernando Abreu...
Tudo aquilo que eu aprendi com a vida, tudo o que eu ganhei com o tempo e que vento nenhum leva.
Guardo as memórias que me trazem riso, as pessoas que tocaram minha alma e que, de alguma forma, me mudaram pra melhor.
Guardo as memórias que me trazem riso, as pessoas que tocaram minha alma e que, de alguma forma, me mudaram pra melhor.
Guardo também a infância toda tingida de giz.
Tinha jeito de arco-íris a minha".
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Fernando Campanella...
amigos transcendem as horas.
São filamentos, extensões de anjos que abraçam a terra de pólo a pólo , e por cujas mediação e presença nossos 'ombros suportam o mundo".
Querida mamãe...
Esta noite acordei estranhando o silêncio. Não havia barulho algum e pensei que o mundo tinha até acabado e você esquecido de mim. Coloquei a boca no trombone e você apareceu. Ainda bem. Fiquei tão feliz no calor do seu peito que acabei pegando no sono antes de mamar tudo o que precisava. Quando percebi que você ia me colocar no berço, chorei de novo. Mas não tente negar, você estava com pressa para ir dormir outra vez.
Você me deu de mamar novamente, assim, meio apressadinha e depois resolveu trocar a minha fralda. Estava tudo calmo, um silêncio, nós dois juntinhos, tão legal que eu perdi o sono. Você até que foi compreensiva, mas começou a bocejar um pouco e resolveu me fazer dormir. Eu não queria dormir. Talvez precisasse de mais dez minutos ou meia hora, mas você estava mesmo decidida a dormir. Foi ficando bem nervosa e até chamou o papai. Eu não queria o papai e todos fomos ficando muito irritados.
No final das contas, acordei a casa inteira cinco vezes. Pela manhã, nossa família estava com cara de quem saiu do baile. Acho que estraguei tudo. Imagina, você que chegou a dizer para o papai que eu estou com problema de sono. Eu não! Você é que vem me dar de mamar com pressa e daí eu sinto que você não quer ficar mais comigo.
Os adultos têm hora certa para tudo, mas eu ainda não entendi essas coisas de relógio e tarefas estafantes que vocês precisam fazer. Quando meu corpo está com o seu, quero ficar do seu lado sem me separar nunquinha. Do alto dos meus 3 meses, ainda não descobri direito que você é uma pessoa e eu sou outra. Um dia eu vou sair por aí, vou telefonar e posso deixá-la doida para saber o que anda fazendo e, então, você vai entender como me sinto agora. Mas não precisamos dessa guerra, mamãe.
Até lá, já podemos nos entender, inclusive através das palavras. Sinto a agústia da separação, pois acabei de passar por essa experiência. Você também, mas vive tudo isso como uma adulra consciente. Eu ainda estou vivendo no inconsciente. Eu não sei andam tudo é tão novo pra mim aqui fora. Mas eu tenho absoluta certeza de que vou aprender tudinho o que você me ensinar através dos seus sentimentos em relação a mim.
Mamãe, você quer um conselho de bebê? Quando eu chorar à noite, não salte logo para o meu quarto desesperada, como se o mundo fosse acabar.
Espere um pouco, respire profundamente, ouça o meu choro até que ele atinja o seu coração. Sinta seu tempo, realmente acorde e venha me pegar. Me abrace devagar, não acenda a luz, fale bem baixinho e me dê o seu peito para eu mamar. Depois que eu arrotar, mais um pouco só de paciência, pois, nós bebês, somos sensíveis aos sentimentos dos adultos. Se eu sentir que você está com pressa, sou capaz de armar o maior barraco, mas se você esperar até o meu segundo suspiro, quando meus olhos ficam bem fechados, minhas mãos e pernas bem molenguinhas, aí sim você pode me colocar no berço que eu não acordo antes de sentir fome outra vez. À medida que você desenvolver sua paciência, mamãe, eu estarei desenvolvendo minha tranquilidade e nós não teremos mais noites desagradáveis. Apenas noites de mamãe e bebê, que um dia passam, como tudo na vida.
Sempre seu, gu-gu dá-dá!
(Texto distribuído no Curso de Gestantes da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, Curitiba, PR)
Texto de Claudia Rodrigues autora do livro "Mamães mais que Perfeitas"
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Da Tristeza...
"Vai passar, tu sabes que vai passar.
Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?
O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada
"impulso vital"
Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como
" estou contente outra vez".
Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Monalisa Macedo...
Que os caminhos são tortos mas a chegada é certa.
Que há coisas bonitas esperando lá na frente, se a gente acredita.
E eu acredito! Vivo de acreditar.
E acredito, que o que importa mesmo, não são as pedras que encontro pelo caminho,
mas sim, as flores, que carrego comigo.
Dentro do coração."
A dor da perda de uma filha...
No dia 17 de novembro de 1995, no velório de minha filha Ana Luisa, nascida em São Paulo no dia 10 de dezembro de 1976, eu não queria acreditar que estivesse vivendo aquilo de verdade.
No dia seguinte, saí para comprar alguns presentes de Natal. Afinal, meus outros seis filhos ainda estavam ali e precisavam da mãe. Mas eu parecia um zumbi. Numa loja, me senti mal. Tontura, fraqueza, parecia que meu peito iria explodir, que eu não iria aguentar tanta dor. Pedi à vendedora que me deixasse sentar um pouco. Eu estava quase sufocando, as lágrimas queriam saltar de meus olhos. Mas eu não queria chorar. Queria esconder minha dor, fazer de conta que aquilo não havia acontecido comigo. Bebi água, respirei fundo e saí ainda zonza.
Eu sempre acreditei que iria terminar de criar minha filha, como todos os outros. Que iria vê-la formar-se em veterinária. Vê-la casada, com filhos. Achava que teria sempre a Aninha ao meu lado. Um dia, ela me contou que quando era pequena e eu saía pra trabalhar, ela sentia medo de que eu não voltasse. Por isso ficava sempre na porta de casa me olhando até eu sumir de sua vista. Por isso vivia grudada em mim. Imagino que ela já pressentia ainda criança, que iríamos nos separar cedo. Só que foi ela a ir embora. Foi ela que saiu e não voltou mais. Foi ela que me deixou com a sua saudade.
Para amenizar a falta, o vazio que ela deixou, eu ficava horas revendo os vídeos mais recentes com suas imagens.
Nossas viagens, festas de aniversários, a formatura da irmã, seu jeitinho lindo tão meu conhecido de sentir vergonha. Ela com o primeiro e único namorado. O gesto característico de arrumar os cabelos. A sua primeira apresentação de piano. Nesse vídeo então, eu ficava namorando suas mãos de dedos longos e finos.
Até hoje eu me lembro de cada detalhe das mãos da Aninha.
Assim como me lembro de cada detalhe de seus pés, do seu rosto...
Dali pra frente, o que mais me chocava e surpreendia era que todo o resto do mundo continuava igual.
Como se nada tivesse acontecido: o sol nascia e se punha todos os dias, as pessoas andavam pelas ruas. O mesmo movimento, barulho. O mundo continuava a girar. Tudo, tudo igual.
Só na minha casa, na minha família, dentro de mim, é que nada mais voltaria a ser como antes.
Faltava minha filha, Ana Luisa!
Eu passava, quase diariamente, nos lugares comuns: o colégio Imaculada Conceição, em Botafogo. Cinema, lanchonete, restaurante, o metrô, onde tantas e tantas vezes viajamos juntas. A loja das comprinhas, o shopping, o parquinho, o clube onde fazia natação. A praia de Botafogo onde ela foi atropelada, o hospital Miguel Couto, onde passamos as horas mais angustiosas de nossas vidas. O cemitério São João Batista, onde repousam seus restos mortais.
Até hoje cada um desses lugares me lembra alguma coisa de minha filha.
Até hoje guardo as lembranças de seus abraços, seus chamegos, o cheirinho da sua pele, o calor, seu carinho e aconchego. Ana vivia literalmente pendurada em mim. Já grandona, maior que eu, mas sempre como se fosse meu nenê pedindo colo.
Saudade. Saudade. Saudade, minha Aninha.
Não fosse a minha fé e a convicção de que a vida não termina com a morte, não fossem os outros filhos que ainda precisavam de mim, acho que teria pirado.
Além da família, o trabalho, a terapia e o estudo da doutrina espírita me deram forças para superar a separação e a falta da Ana Luisa.
Sou e serei eternamente grata ao meu Pai do Céu, porque fui agraciada com muitos sinais de que a separação é apenas temporária.
Alguns dias após sua passagem entrei em seu quartinho que ficou inundado pelo cheiro de rosas. Instintivamente fui olhar pela janela. Naturalmente o cheiro não vinha de fora. O perfume intenso era só ali dentro.
Um mês depois, no grupo que eu frequentava no Centro Seara Fraterna, minha filha se manifestou. Ainda meio confusa pela mudança abrupta e repentina, mas já consciente de sua passagem.
Naquela noite, o buraco no meu peito que parecia uma ferida sangrando, mudou de aspecto. Continuava a doer, mas a certeza de que minha filha continuava e continua viva em alguma outra dimensão me trouxe uma nova perspectiva. A de que eu poderia chorar pela sua ausência, nunca pelo seu fim. Dali pra frente, algumas vezes vi, em outras pressenti, sua essência ao meu lado.
No decorrer desses doze anos, recebi, por acréscimo de misericórdia, um bom número de mensagens dela
das últimas foi através de um médium reconhecido, que foi fazer uma palestra num evento que eu apresentava.
Sem que eu esperasse ou solicitasse, ele disse que via uma jovem ao meu lado – me descreveu exatamente minha filha - e que ela me apontava para ele dizendo: é esta aqui, ó.
Esta é que é a minha mãe.
Quando me sentei, ele disse que ela sentou-se no meu colo.
Entre as várias coisas no recado que me mandou, encerrou dizendo que as violetas (enceno a peça “Violetas na janela” há 11 anos) que ela cultiva onde se encontra, não serão colocadas na janela, e sim, serão usadas para fazer um tapete de flores para eu pisar quando chegar lá.
(Ana Rosa)
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Casas Boas e Más...
Há casas
cuja beleza começa no projeto
outras, e são talvez as mais belas,
existem só na cabeça do arquiteto
.
Há casas feitas à medida do homem,
outras há para andar de bicicleta;
há casas sobre cascatas
onde ao sortilégio da água
se junta a música de Bach.
.
Há casas tão ajustadas
como fato por medida
ou um verso de Cesário,
outras de tão confusas
não viram régua nem esquadro.
.
Há casas de papel, casas de madeira,
casas de palha e de barro;
casas que trepam pelo céu,
casas que cheiram a jasmim do Cabo;
há casas só para dormir
parecidas com um sudário.
.
Há casas onde
habitar é o começar da morte;
há casas de pátios caiados
com varandas para o mar;
casas onde apetece estar sentado
com um gato nos joelhos
e o coração apaziguado.
.
Há casas com recantos para amar,
há outras onde o amor
se faz em cinco minutos
e às vezes já é demais;
há casas como um dedal
e geometria de abelhas,
casas de perfil atento
ao rumor das nascentes e das estrelas.
.
Há casas como um cristal,
casas de luz circular,
casas onde não é possível
ouvir correr o silêncio; há casas
que de casas só têm o nome;
há casas que nem para cães.
.
Há casas tão inteligentes
que não consentem qualquer margem
para luxos e arrebiques,
casas onde a alegria se instala
sem tempo nenhum para a mágoa.
.
Há casas onde o pão é triste
e a roupa mal lavada;
há casas que são um rio, há casas
que são um barco;
outras têm pomares
onde os diospiros ardem;
há casas com terras de vinha e trigo
e muros a toda roda.
.
Há casas que são um poema
para dar a um amigo.
cuja beleza começa no projeto
outras, e são talvez as mais belas,
existem só na cabeça do arquiteto
.
Há casas feitas à medida do homem,
outras há para andar de bicicleta;
há casas sobre cascatas
onde ao sortilégio da água
se junta a música de Bach.
.
Há casas tão ajustadas
como fato por medida
ou um verso de Cesário,
outras de tão confusas
não viram régua nem esquadro.
.
Há casas de papel, casas de madeira,
casas de palha e de barro;
casas que trepam pelo céu,
casas que cheiram a jasmim do Cabo;
há casas só para dormir
parecidas com um sudário.
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Há casas onde
habitar é o começar da morte;
há casas de pátios caiados
com varandas para o mar;
casas onde apetece estar sentado
com um gato nos joelhos
e o coração apaziguado.
.
Há casas com recantos para amar,
há outras onde o amor
se faz em cinco minutos
e às vezes já é demais;
há casas como um dedal
e geometria de abelhas,
casas de perfil atento
ao rumor das nascentes e das estrelas.
.
Há casas como um cristal,
casas de luz circular,
casas onde não é possível
ouvir correr o silêncio; há casas
que de casas só têm o nome;
há casas que nem para cães.
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Há casas tão inteligentes
que não consentem qualquer margem
para luxos e arrebiques,
casas onde a alegria se instala
sem tempo nenhum para a mágoa.
.
Há casas onde o pão é triste
e a roupa mal lavada;
há casas que são um rio, há casas
que são um barco;
outras têm pomares
onde os diospiros ardem;
há casas com terras de vinha e trigo
e muros a toda roda.
.
Há casas que são um poema
para dar a um amigo.
Eugênio de Andrade
.
.
Felicidade, mesmo fugaz, ainda será...
A medicina nunca se cansou de buscar soluções para interromper a dor, nossa feroz e eterna inimiga.No final dos anos 70, alguém propôs uma técnica interessante, ainda que os benefícios fossem muito pouco duradouros.A injeção intrarraquidiana de soro fisiológico gelado determinava alívio satisfatório de dores intratáveis como as decorrentes de invasão da coluna vertebral.Numa época em que ainda não se conhecia os prodígios da analgesia peridural com morfina ou derivados, isso pareceu um avanço significativo. O método foi testado em dois pacientes com tumores avançados de esôfago e de pâncreas, e o alívio doloroso foi imediato, ainda que o efeito desaparecesse depois de cinco, seis horas.Quando entrei no quarto do Camilo, portador de um câncer terminal com incontáveis metástases ósseas na coluna, ele estava encolhido, virado para a parede. Nos olhos inchados havia uma dor multiplicada. No final daquela tarde, a filha caçula casaria numa capela da Vila Assunção, e ele não tinha a mínima condição de acompanhá-la ao altar. Impossível não sofrer com aquele sofrimento.Saí do quarto estimulado por uma ideia meio louca: nós podíamos tentar colocá-lo naquela Igreja, esta que seria a última coisa maravilhosa de uma vida que fracassáramos em evitar que terminasse. E ele merecia isso.Depois de conseguir cumplicidade do anestesista e parceria solidária do residente de plantão, anunciamos o projeto ao pobre homem, que chorava de dor e ria riso de criança imaginando a surpresa que haveria de causar. Um irmão foi convocado para buscar o seu melhor terno, cortou cabelo e barba e incorporou-se à trama caridosa.As roupas trazidas eram do tempo de bonança, mas ataduras e compressas encheram os vazios de tronco e membros consumidos pela doença. Um pouco de ar injetado no pescoço encostou a pele no colarinho folgado e umas massagens enérgicas nas bochechas, agora sorridentes, devolveram um rosado saudável.Com os cúmplices nas laterais, o Camilo entrou na igreja com um sorriso capaz de suplantar ao de uma noiva muito feliz. Impressionante como alegria e gratidão, reunidas na mesma cara, dão às pessoas um indiscutível ar de saúde. O festival de abraços na saída da igreja deixou uma lição definitiva: a felicidade não se mede por duração, mas por intensidade.Quando ele voltou ao hospital tarde da noite, pediu uma dose generosa de morfina porque a danada recomeçara, e ele confessou que nunca se sentira tão cansado.Antes de dormir fez o plantonista prometer que acontecesse o que acontecesse a sua família não seria avisada antes das nove horas da manhã. Uma lua de mel sem notícias ruins seria seu último presente à filha amada.Felicidade é urgente. A tristeza pode esperar. (J.J.Camargo)
domingo, 20 de outubro de 2013
sábado, 19 de outubro de 2013
Não se pode dormir tranquila...
A solução que me ocorre é o disfarce. Nesses trópicos escaldantes não dá pra apelar para a burca nem o chador (sua versão mais arejada), mas querendo - e aí mora o perigo - pode-se desviar o foco daquilo que já não encanta, pra setores menos arriscados. Certas partes do corpo, que num passado recente fizeram a alegria da moçada, atenção, não fazem mais! A dignidade impõe uma mudança de estilo. Para escolher o novo modelo é imperativo manter o olho aberto, aguçar o senso crítico, e provar uma pitada de resignação. Certos artigos já não prestam serviço; camiseta justa, saia mini, vestidinho evasé e blusa de manga bufante, melhor evitar. No setor comportamental, jogar o cabelão pra lá e pra cá também não contribui. Se não consegue abolir o trejeito, corte o cabelo, é mais seguro.
Pra quem tem a sorte de viver com uma filha de vinte pela casa, use-a, serve como medidor de ridículo. Não fossem os comentários (como se tornaram tão repressoras essas crianças?), basta a criatura vestir qualquer item de meu armário, e, no ir e vir da bela figura, compreendo pelo avesso, não só de roupas, mas inclusive, e sobretudo, quais as peças a serem retiradas das prateleiras do comportamento. Na saúde, na doença, na alegria e na dor, assim como com o gestual dos cabelos, com a veste emocional também, há o que dá bom ou mal caimento em cada fase da vida. Mas isso, você há de entender, é conversa comprida, enroscada demais pra esse texto que me pediram leve. Vamos ter que deixar pra outros dedos de prosa.
Aline Machado...
''Acredito que tudo na vida tem um tempo determinado.
Tempo de crescer, de amadurecer, de rever seus valores, suas idéias e crenças.
Tempo de se permitir, tempo de chorar, tempo de sorrir, tempo de ser do
mundo, e tempo de ser sozinha.
mundo, e tempo de ser sozinha.
Agora é tempo de viver, e não simplesmente viver por viver;
Chegou o tempo de perdoar, de se perdoar...tempo de experimentar, conhecer,
descobrir,
descobrir,
sorrir, abraçar, beijar...
tempo de não ter vergonha, de querer bem, seja lá quem...
tempo de querer com mais doçura, de cuidar com mais carinho,
tempo de estar em paz:
Comigo, com você, com o MUNDO.''
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Quando morre uma criança...
Diz um filósofo que toda morte de uma criança é a refutação da existência de Deus. Eu acho que cada morte de uma criança enfatiza o mistério no qual estamos mergulhados, e que não é silencioso: ele fala alto. Então nos atordoamos para não ouvir, fugimos dele para não o perceber, recorremos a mil atividades e distrações numa agitação insana – horários, compromissos e prazeres, buscamos e perdemos, corremos e não chegamos nunca, nem sabemos aonde queremos ir.
Eu nunca tinha visto uma criancinha morta. Nunca tinha ido ao velório de uma, e quase me acovardei, quase não fui. Mas o carinho pela família, e por essa menininha que tantas vezes vi correndo e brincando, com a qual tive alguns diálogos deliciosos, me deu coragem. E fui. Alguém murmurou: parece uma boneca numa caixinha. Ela, a pequena, serenada do sofrimento que ocupou quase todo o espaço dos seus poucos anos, dormia o seu sono enigmático. Nós, adultos de todas as idades, chorávamos. Uns pela perda da pessoazinha amada, outros condoídos pela dor dos amigos, outros, ainda, esmagados pela fragilidade que a doença, o sofrimento e a morte nos fazem sentir.
Amor e devoção imensos iluminaram a vida dessa criança e a todos ao redor. Esse foi talvez o legado maior que a menininha que partiu nos deixou: ao lado da dor e da aniquilação, do desespero e do medo, também existem o bom, o belo, o forte, o amoroso, a devoção e a lealdade – mesmo que tanta coisa fora de nós, de nossa casa e nossas amizades nos pareça decadente ou ameaçadora. Pois todo dia ao acordar somos assaltados por notícias que causam melancolia ou indignação, visões de cinismo, conchavos perversos, desprezo pela honra e falta de modelos positivos. Pouco se faz. Nada se faz. Vivemos ao ritmo desse triste refrão: "as coisas são assim mesmo", "é a vida", "política é isso", "impossível administrar a violência", "o narcotráfico manda em toda parte", "uma maconhazinha só não faz mal", "ninguém tem nada a ver com minha vida", "não adianta querer mudar", e assim por diante.
Por toda parte, famílias em crise. Pais omissos ou ocupados demais não sabem o que fazem filhas de 10 anos em festinhas sem o cuidado de adultos; pré-adolescentes transam, curtem bebida, maconha ou drogas pesadas, depois que o primeiro cigarrinho abriu as portas. Numa grande festa, jovenzinhos bêbados ou drogados vomitam ou dormem nos banheiros de um clube elegante. Adultos passam cuidando para não sujar os sapatos. Só acontece algo quando uma dessas crianças passa realmente mal, e é preciso chamar a ambulância. Onde estão os pais? Vão me achar rigorosa demais, mas eu insisto: onde estão os pais? Sabem onde andam os filhos, com quem convivem nas longas horas fora de casa, têm consciência do quanto são responsáveis? Este é um dos dramas da maternidade e paternidade: teve filho, é responsável. Quem ama cuida. E que seja com alegria, ou não vale. Não funciona. É de mentira.
Escrevo essas coisas rudes, pelo seu contraste com meu verdadeiro assunto: uma criança, enferma a maior parte de sua vida, e sua família provaram que neste mundo também existe verdadeiro amor, que é dedicação. Sem saber, ela ensinou os outros a ser ainda mais unidos e mais amorosos, eles que tudo dariam para preservar a luz daquele seu tesouro, mas tiveram de se render ao destino, à enfermidade, à morte – não importa o nome. Junto com o sofrimento, ficaram para sempre a claridade, a doçura e a força que vão continuar emanando dessa dura experiência transformadora, e daquela figura travessa, inquieta, corajosa, de grandes olhos escuros que me fitaram tão sérios quando lhe perguntei brincando:
– Você não quer um dia desses dar uma volta comigo na minha vassoura de bruxa?
Sem traço de dúvida ou hesitação, ela disse:
– Eu quero!
Menininha que iluminou este mundo tantas vezes feio e cruel, você vai continuar entre nós, na memória de sua passagem breve como a de uma lanterna mágica que vara o céu. Mas esse passeio eu fiquei te devendo. Um dia, quem sabe, quando todos formos poeira de estrelas.
Lya Luft é escritora
terça-feira, 15 de outubro de 2013
domingo, 13 de outubro de 2013
sábado, 12 de outubro de 2013
Aprenda a Amar Como as Crianças...
Sejamos como as crianças: com elas aprendemos a amar.
Elas são sinceras amam desinteressadamente.
Se gostar de nós, logo saberemos. Não sabem dissimular. Pequeninas sorriem ao menor toque.
Não criticam, indagam apenas.
Não discriminam, aceitam a todos sem distinção.
Sabem conviver com as diferenças.
São alegres a todo tempo, cantam, dançam…
Faz da vida uma eterna festa. Satisfazem-se com qualquer brinquedo, independente do quanto custou.
Não tem ambição.
Nos ensinam mais que qualquer sábio.
Confiam… O seu olhar brilha, o seu sorriso é sincero.
Nos ensinam mais que qualquer sábio.
Confiam… O seu olhar brilha, o seu sorriso é sincero.
Não nos pede nada em troca do amor que nos dão somente carinho e atenção.
Tocam a nossa alma com a sua inocência.
Mesmo as que não tem a oportunidade de ter um lar, sabem sorrir, quando nos dão um sorriso, ganhamos o dia…
Pois o seu sorriso é uma lição.
Não existe coisa mais triste, que ver uma criança triste.
Doemos o nosso sorriso a elas, sejamos alegres.
Mostremos a elas a criança que existe em nós.
Elas são o nosso futuro precisam ser felizes para nos fazer felizes.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Todo filho é pai da morte de seu pai...
Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem
natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida.
Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez.
Nosso último ensinamento.
Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores.
Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:— Deixa que eu ajudo. Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.
(Fabrício Carpinejar)
natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida.
Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez.
Nosso último ensinamento.
Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores.
Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:— Deixa que eu ajudo. Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.
(Fabrício Carpinejar)
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
A única coisa que desejo...
Se meu andar é hesitante e minhas mãos trêmulas, ampare-me…
Se minha audição não é boa e tenho de me esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure entender-me…
Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento é escasso, ajude-me com paciência…...
Se minhas mãos tremem e derrubam comida na mesa ou no chão, por favor não se irrite, tentei fazer o melhor que pude…
Se você me encontrar na rua, não faça de conta que não me viu, pare para conversar comigo, sinto-me tão só…
Se você na sua sensibilidade me vê triste e só, simplesmente partilhe um sorriso e seja solidário…
Se lhe contei pela terceira vez a mesma “história” num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me…
Se me comporto como criança, cerque-me de carinho…
Se estou com medo da morte e tento negá-la, ajude-me na preparação para o adeus…
Se estou doente e sou um peso em sua vida, não me abandone, um dia você terá a minha idade…
A única coisa que desejo neste meu final da jornada, é um pouco de respeito e de amor…
Um pouco… Do muito que te dei um dia !
(autor desconhecido)
Se meu andar é hesitante e minhas mãos trêmulas, ampare-me…
Se minha audição não é boa e tenho de me esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure entender-me…
Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento é escasso, ajude-me com paciência…...
Se minhas mãos tremem e derrubam comida na mesa ou no chão, por favor não se irrite, tentei fazer o melhor que pude…
Se você me encontrar na rua, não faça de conta que não me viu, pare para conversar comigo, sinto-me tão só…
Se você na sua sensibilidade me vê triste e só, simplesmente partilhe um sorriso e seja solidário…
Se lhe contei pela terceira vez a mesma “história” num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me…
Se me comporto como criança, cerque-me de carinho…
Se estou com medo da morte e tento negá-la, ajude-me na preparação para o adeus…
Se estou doente e sou um peso em sua vida, não me abandone, um dia você terá a minha idade…
A única coisa que desejo neste meu final da jornada, é um pouco de respeito e de amor…
Um pouco… Do muito que te dei um dia !
(autor desconhecido)
São Francisco de Assis
Oração dos animais a São Francisco de Assis
Meu São Francisco de Assis
Protetor dos animais
Olhai por nós que rogamos
Vossa bênção e muita paz.
Olhai os abandonados
Sofrendo agruras nas ruas
E os que puxam carroças
Açoitados nas ancas nuas.
Pelos pobres passarinhos
Que não podem mais voar
Presos em rudes gaiolas
Só porque sabem cantar.
E as cobaias de laboratório
Que sofrem dores atrozes
Em experiências terríveis
Que lhes impõem seus algozes.
Pelos que são abatidos
Em matadouros insanos
Para servir de alimento
Aos que se dizem humanos
Olhai os que são perseguidos
Sem piedade nas florestas
Só por causa da ambição
Dessas caçadas funestas.
Pelos animais de circo
Que não têm mais liberdade
Presos em jaulas minúsculas
À mercê de crueldade.
Olhai os bois de rodeio
E os sangrados nas touradas
Barbárie e crimes impostos
Por pessoas desalmadas.
Pelos que têm de lutar
Até a morte nas rinhas
Quando o homem faz apostas
Em transações tão mesquinhas.
Olhai para os que são mortos
Nos macabros rituais
Em altares religiosos
Que usam sangue de animais.
Meu bondoso protetor
Oro a vós por meus irmãos
Para que sua dor e tristeza
Não sejam sofrimentos vãos
Protetor dos animais
Olhai por nós que rogamos
Vossa bênção e muita paz.
Olhai os abandonados
Sofrendo agruras nas ruas
E os que puxam carroças
Açoitados nas ancas nuas.
Pelos pobres passarinhos
Que não podem mais voar
Presos em rudes gaiolas
Só porque sabem cantar.
E as cobaias de laboratório
Que sofrem dores atrozes
Em experiências terríveis
Que lhes impõem seus algozes.
Pelos que são abatidos
Em matadouros insanos
Para servir de alimento
Aos que se dizem humanos
Olhai os que são perseguidos
Sem piedade nas florestas
Só por causa da ambição
Dessas caçadas funestas.
Pelos animais de circo
Que não têm mais liberdade
Presos em jaulas minúsculas
À mercê de crueldade.
Olhai os bois de rodeio
E os sangrados nas touradas
Barbárie e crimes impostos
Por pessoas desalmadas.
Pelos que têm de lutar
Até a morte nas rinhas
Quando o homem faz apostas
Em transações tão mesquinhas.
Olhai para os que são mortos
Nos macabros rituais
Em altares religiosos
Que usam sangue de animais.
Meu bondoso protetor
Oro a vós por meus irmãos
Para que sua dor e tristeza
Não sejam sofrimentos vãos
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
A vida dos outros...
Almoço fora todos os dias. Isso não é problema, porque meu escritório fica junto à Praça General Osório, em Ipanema, local muito movimentado e com grande variedade de restaurantes. Em geral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser invenção brasileira) que permite comer na medida certa, sem desperdícios, e observar os pratos antes de fazer a escolha.
Mas gosto dos restaurantes a quilo também por outra razão: são feitos sob medida para os solitários. Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tímidos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só palavra.
Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam apinhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter companhia, nem nos fins de semana, que é tempo de família, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são também muito freqüentados por turistas, pois é um conforto para eles entrar e comer num lugar em que não precisam tentar se entender com pessoas que só falam essa língua secreta chamada português.
O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é - deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E por quê? Por culpa do telefone celular.
Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao celular quando se sentam para comer. Resolvem assuntos pendentes, pedem informações, fazem encomendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com o amigo ou amiga que não vêem há tempos - e tudo isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres estômagos.
E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao que está sendo dito nos celulares à minha volta. Assim que a conversa se estabelece, começo a prestar atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, quase sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros. Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de trabalho, marco reuniões, fico estressada com a mercadoria que não chegou - e tudo sem ter nada a ver com isso.
Outro dia, durante um almoço, participei de duas conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jovem na mesa à minha esquerda, com acentuado sotaque gaúcho, atendeu um telefonema a respeito de uma encomenda. Do outro lado do fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmasse certas coisas. Não consegui entender a que produto se referiam, mas sei que a moça parou de comer e, segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a ligação parecia estar ruim), números de série do artigo encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer sem ver aquele assunto resolvido?
Mal ela desligou e já tocava o celular de outra senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompanhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga internada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de vez.
Com o advento do celular, minha vida ficou assim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham sido as pessoas que perderam esses limites. Porque a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram novas regras para acompanhar as transformações. Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em vigor, estabelecendo que é falta de educação falar enquanto se almoça num restaurante (estando ou não de boca cheia)? Espero que sim. Mas, enquanto isso não acontece, vou vivendo a vida dos outros.
(Heloísa Seixas)
Mas gosto dos restaurantes a quilo também por outra razão: são feitos sob medida para os solitários. Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tímidos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só palavra.
Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam apinhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter companhia, nem nos fins de semana, que é tempo de família, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são também muito freqüentados por turistas, pois é um conforto para eles entrar e comer num lugar em que não precisam tentar se entender com pessoas que só falam essa língua secreta chamada português.
O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é - deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E por quê? Por culpa do telefone celular.
Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao celular quando se sentam para comer. Resolvem assuntos pendentes, pedem informações, fazem encomendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com o amigo ou amiga que não vêem há tempos - e tudo isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres estômagos.
E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao que está sendo dito nos celulares à minha volta. Assim que a conversa se estabelece, começo a prestar atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, quase sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros. Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de trabalho, marco reuniões, fico estressada com a mercadoria que não chegou - e tudo sem ter nada a ver com isso.
Outro dia, durante um almoço, participei de duas conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jovem na mesa à minha esquerda, com acentuado sotaque gaúcho, atendeu um telefonema a respeito de uma encomenda. Do outro lado do fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmasse certas coisas. Não consegui entender a que produto se referiam, mas sei que a moça parou de comer e, segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a ligação parecia estar ruim), números de série do artigo encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer sem ver aquele assunto resolvido?
Mal ela desligou e já tocava o celular de outra senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompanhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga internada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de vez.
Com o advento do celular, minha vida ficou assim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham sido as pessoas que perderam esses limites. Porque a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram novas regras para acompanhar as transformações. Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em vigor, estabelecendo que é falta de educação falar enquanto se almoça num restaurante (estando ou não de boca cheia)? Espero que sim. Mas, enquanto isso não acontece, vou vivendo a vida dos outros.
(Heloísa Seixas)
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