terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amanheceu...

 
 
 
 

Sabiá



No canto do sabiá encontro paz.
Da janela do meu quarto
todas as manhãs aprecio seu voo
 livre, seu canto é espontâneo.
No cântico da sua melodia meu dia faz-se luz.
Me pergunto se sou livre como este
pássaro, se minha melodia faz sentido
Ou se minha complacência é original?
Quero ser livre como o voo do sabiá.
Que minha melodia faça sentido nos
voos por onde for. É preciso ser livre
Para amar em liberdade. Sendo livre
A sintonia na melodia encontra a liberdade
natural para exprimir a real suavidade.



 
 

Lygia Fagundes Telles...




"Quando se tira um vestido velho do baú,
Um vestido que não é para usar, só para olhar.
Só para ver como ele era.
Depois a gente dobra de novo e guarda,
mas não se cogita em jogar fora ou dar.
Acho que saudade é isso."

Lygia Fagundes Telles, 
in "As Meninas" 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ausência...


                                                                            



Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, esta ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


domingo, 28 de outubro de 2012

Sabedoria...

                                                                                
 
 
 
Tudo o tempo leva.

A própria vida não dura.
 

com sabedoria,

 

colhe a alegria de agora

para a Saudade futura.

 

Helena Kolody


 

sábado, 27 de outubro de 2012

Jardim Interior...


 

Todos os jardins deviam ser fechados,
com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
 alguma ausência
 nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.

 (Mario Quintana)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Manhã de Primavera...

                                            

O dia lindamente amanheceu
Com gostoso perfume pelo ar
Com belas flores a desabrocharem
E o colibri a colher o néctar.
Com belo sol a brilhar
Cada botão veio a se abrir
O mundo tornou-se um paraíso
Pela bela primavera  a encantar.
As flores vieram a surgir
Com vários formatos e cores
Que em extenso jardim
Inspirava os amores.
Na manhã de primavera
Muito desfrutei do ambiente
Que tudo parecia mágicas
Em rítmos acelerados.

(Antonio Cícero da Silva)


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crianças Índigo...

                                                         



Nos últimos tempos recebi muitas perguntas sobre este tema, e quando o José Roberto pediu para que eu escrevesse sobre o assunto, notei que seria a hora certa. Falar sobre as crianças índigo não é uma tarefa fácil, pois se trata de um fenômeno que muitos observam, mas cada um com um olhar diferente. Os místicos as vêem de uma forma, os educadores de outro, os pais de outro. Enfim, se eu escolher uma visão para expor o assunto, as outras perderão espaço. Portanto, tentei resolver este dilema estudando o assunto nas diversas vertentes e tentarei expor a vocês de uma forma resumida, alguns pontos de vista. Não quero agradar a gregos e troianos. A esperança é que desta maneira amplie-se a forma de entendimento sobre estas pessoinhas especiais.


Vamos primeiro entender quem são estas Crianças Índigo. Observou-se que desde a década de 70, muitas crianças têm apresentado características especiais bem diferentes do que se estava acostumado a ver e conviver até então. A partir desta observação, notou-se que entre estas crianças, ditas especiais, havia certos padrões de comportamento que se repetiam. Elas apresentavam comportamentos diferentes das crianças ditas normais. O fenômeno não foi registrado em somente uma área populacional, mas sim em diferentes países, em diferentes comunidades ao mesmo tempo. Por exemplo, não ocorreu só nos Estados Unidos, e sim no Brasil, na África, em Portugal, no Japão, enfim em vários pontos do planeta ao mesmo tempo. Embora estas crianças se encontrassem em pontos distantes do planeta, elas possuíam características em comum.


O nome Crianças Índigo foi designado pelos místicos e espiritualistas, pois dizem que esta seria a cor predominante de sua aura: o azul índigo. Esta cor de aura também seria atribuída aos grandes mestres. Mas como a aura muda sua cor conforme o humor e o estado emocional, a cor azul índigo seria percebida quando a criança está em um estado de paz e quietude interna. Portanto, mesmo na presença de outras cores, este tom de azul predominaria.

Ainda para os espiritualistas, estas Crianças Índigo são espíritos evoluídos que estão chegando para ajudar na transformação social, educacional, familiar e espiritual de todo o planeta, independentemente de fronteiras e de classes sociais. Elas possuem uma estrutura cerebral diferente, tendo o hemisfério esquerdo menos desenvolvido, e o direito mais desenvolvido. Isso quer dizer que elas são mais intuitivas, vão além do plano intelectual, além do racional.


Se olharmos do ponto de vista da evolução humana, poderíamos encaixar estas crianças como sendo fruto do nosso desenvolvimento. A tecnologia promoveu grandes mudanças e o ser humano hoje está exposto a muito mais estímulos do que há séculos. Hoje uma criança pequena já domina o computador e se notarmos, os adolescentes estão cada vez mais altos, provavelmente devido a melhores condições alimentares a que temos acesso na atualidade, bem como à cura mais rápida de certas doenças e vacinas eficazes. Estas crianças especiais poderiam ser frutos desta evolução? Bem, tudo são suposições e diferentes pontos de vista.


Notou-se que as Crianças Índigo apresentam uma inteligência excepcional e muita energia para brincar, o que pode ser extenuante para os adultos. Não aceitam ordens, principalmente as do tipo: “faça isso porque estou mandando ou porque eu quero”. Elas sempre procuram debater e negociar cada instrução, cada ordem.  E só a seguirão se encontrarem uma razão para isso. Não é correto impor nada e sim dar escolhas para a criança e conversar sobre qual será a melhor. A família que tem uma criança dessas, deve se reestruturar para tentar educá-la não seguindo os moldes tradicionais, pois estes não trarão efeito algum sobre elas. Requer emocionalmente estabilidade e segurança de adultos em volta dela.

Entendem que todos os seres humanos são iguais e por isso não entendem figuras de autoridade. Entendendo profundamente que somos todos iguais quando se deparam com comportamentos ditatoriais, sejam eles de pais, professores, de quem for, apresentam nestes momentos uma ira incomum.

São muito ricas em sentimentos, amam os animais e respeitam qualquer forma de vida, por isso muitas já se tornam vegetarianas desde cedo. São muito sensíveis a toxinas, rejeitando certos alimentos.


Têm alta sensibilidade, sentem tudo a sua volta como se possuíssem uma lente de aumento. Tudo o que dizem deve ser ouvido, pois muitas vezes estas crianças mostram claramente onde estão as dificuldades dos pais, sendo muitas vezes o espelho da casa.

São serelepes, tem muita energia, são rápidas no raciocínio e com respostas bem criativas. Apesar do bom nível de inteligência, não vão muito bem na escola, distraem-se facilmente ou tem baixo poder de concentração.                     


Aprendem através do nível de explicação, resistindo à memorização mecânica ou a serem simplesmente ouvintes. A escola ideal para elas seria aquela que desenvolveria seus potenciais criativos e não imporia tarefas monótonas e enfadonhas, sem sentido para estas crianças. Possui maneiras preferenciais no aprendizado, particularmente na leitura e na matemática.

São criativas, possuem grandes idéias. Adoram leitura e podem se entreter por muito tempo nesta atividade. Elas freqüentemente encontram uma melhor maneira de fazer as coisas, tanto em casa como na escola, o que as fazem parecer questionadores e inconformistas.

Não conseguem ficar quietas ou sentadas, a menos que estejam envolvidas em alguma coisa do seu interesse, por isso, muitas vezes a estas crianças são atribuídos déficit de atenção, ou hiperatividade. É sempre necessária muita cautela na atribuição destes diagnósticos, sendo prudente deixar para profissionais capacitados.


Outra característica marcante destas crianças é que elas possuem um sentimento de realeza e freqüentemente agem desta forma. Mostram e falam claramente o que querem e o que precisam. Tem uma boa auto-estima e falam de seus valores abertamente e não entendem porque as outras pessoas não fazem isso também. (Acho que temos muito a aprender com elas).


Um trecho do livro ”The índigo Children” de Lee Carroll e Jan Tober de 1999, diz o seguinte: "Se você está constantemente obtendo resistência de um Índigo, cheque você primeiro. Eles podem estar segurando um espelho para você ou estar pedindo, de uma forma inconformista, ajuda para descobrir novos limites, ajustamento fino nas suas habilidades ou talentos, ou ir para o próximo nível de crescimento.", "Índigos já nascem Mestres, todos sem exceção! Nós temos que entender que eles esperam que todos nós façamos o que eles fazem de forma natural e, se não fizermos, eles permanecerão pressionando nossos botões até que cumpramos nosso papel de forma correta. Ou seja, até que nos tornemos mestres de nossas próprias vidas. Portanto, quando meu filho fez suas coisas, ele ensinou a todos uma lição silenciosa, incluindo a mim mesmo."

Eles vivem de forma intensa e têm um sentimento de "desejar estar aqui" e ficam surpresos quando os outros não compartilham isso.


Educando Crianças Índigo


Os índigos surgiram por volta da década de 70 e por volta do ano dois mil, começaram a nascer seres mais evoluídos ainda, as Crianças Cristal. Elas seguem as Índigo e sua missão é completar o trabalho começado por estas, renovando e construindo uma nova terra. Elas quebram velhos paradigmas e maneiras presas de pensar, trazendo mais liberdade e autenticidade, fazendo com que as pessoas aprendam suas reais potencialidades, seus valores.


Para reconhecer uma Criança Cristal: elas têm olhos penetrantes e fitam as pessoas nos olhos por longos períodos. Fazem isso desde bebês. Eles reconhecem as pessoas olhando dessa maneira e se o adulto fizer o mesmo e encará-lo, olhando profundamente para os seus olhos ele esboçará um sorriso, pois o contato e o reconhecimento foram feitos. É assim que eles se comunicam. São calmos, serenos e muito apegados à mãe. Procuram sempre ajudar e são muito sensíveis ao sofrimento alheio. São sensíveis também ao ambiente em que estão, podendo não se sentir bem em certos lugares onde a energia não lhes é benéfica. Freqüentemente os assuntos não resolvidos da família são sentidos pela criança, que será afetada negativamente por essas emoções. Não suportam o sofrimento de animais e geralmente são vegetarianas, como as Índigo.


A tarefa de educar uma Criança Índigo ou uma Cristal é um desafio. Os pais devem sempre ter em mente que eles e seus filhos são parceiros de jornada, e para tanto devem respeitar, amar, e principalmente ouvir muito sua criança. Ela não é uma criança comum, então os pais devem cumprir sua missão de ensinar, mas principalmente, devem ter humildade suficiente para aprender com essa relação. Não se é pai ou mãe de uma Criança Índigo ou Cristal à toa, é como um presente. Os pais escolhidos podem crescer muito com essa relação fazendo um “upgrade” na sua evolução.


Para educar bem essas crianças, os pais devem se acostumar aos desafios constantes que elas lhes impõem e terão de lidar com uma força de vontade muito forte e lutas de poder freqüentes. Portanto paciência é tudo.

Respeite as opiniões da sua criança e não a force a se enquadrar nos velhos padrões, o que deu certo com você pode não dar certo com ela. Aceite que ela é um ser único, individual, diferente de você e a respeite por isso. Ela tem vontades e quereres que não são iguais aos seus. Antes de criticar ou dizer que algo é errado, tente ver com os olhos da criança, procure entender o que ela quer lhe mostrar, como ela está sentindo e vendo aquela situação.


Uma Índigo ou Cristal tem um contato íntimo com a natureza e sente-se muito bem em contato com ela. Promova passeios onde a criança possa tocar plantas, pisar na terra, brincar com animais. Praia, montanhas, cachoeiras, matas, lugares com abundância de natureza são como bálsamo para estes pequeninos. Já lugares como shoppings centers, onde há muito barulho e aglomeração deixam essas crianças irritadiças e nervosas. É muito comum vermos uma Criança Índigo ou Cristal tendo um “ataque de nervos” nestes lugares.


Essas crianças vivem de forma muito intensa e rápida, como se não pudessem desperdiçar nenhum segundo sequer. Por isso muitas vezes são confundidas como portadoras de défict de atenção ou alguma forma de hiperatividade. Mas essa agitação toda tem a ver com a consciência que essas crianças possuem do momento presente. Elas não vivem no passado ou se preocupando com o futuro, elas sabem que a vida é vivida no presente. Ah, quanta coisa a gente tem a aprender com essas crianças, não é?

Se seu filho é um Índigo ou Cristal, você precisa aprender a arte de negociar. Negocie sempre. Ele nunca vê um adulto como diferente dele, pois enxerga os seres humanos como todos iguais, por isso apresenta muitos problemas em obedecer a ordens. Ajude-o negociando, explicando o porquê de tudo e cheguem juntos a uma forma justa de conduta. A criança precisa entender o motivo de agir desta ou daquela maneira. Dê a ela escolhas.

Quando você der uma ordem, elas têm que ter razões sólidas senão não convencerão a criança que não obedecerá. Use sempre a verdade e nunca tente enganar a criança, pois ela perderá o respeito por você. Tome cuidado: tudo o que for prometido, deve ser cumprido. Manter a palavra sempre.

Evite críticas. Elas não levam a lugar algum. Nunca diminua seu filho, cuide da auto-estima dele, dizendo sempre palavras de encorajamento e otimismo. Não “ponha medo” na criança, com ameaças que ela sente como não tendo fundamento e que só servem para atrapalhar o bom desenvolvimento emocional dela. Medo nunca ajudou em nada e não será agora que vai ajudar. Esqueça histórias do tipo “o bicho –papão vai te pegar”, ou coisas assim, que tenham como objetivo persuadir a criança pelo medo – é péssimo. Os filhos devem se sentir seguros ao lado dos pais, e estes devem dar suporte e prover toda proteção de que eles precisam. Como eles se sentirão seguros se é justamente os pais que dizem que o “bicho vem te pegar”?


Tanto os pais como os professores devem estar aptos a definir e manter os limites claros para a criança e serem flexíveis para fazerem os ajustes conforme as necessidades dos pequeninos. Devem ser firmes, porém mansos.

Essas crianças tem fome de aprender, e os pais devem prover o máximo de informações possível, com livros, teatro, dando a oportunidade deles terem experiências diferentes constantemente: uma comida de outro país, bem diferente da cotidiana, uma música clássica, um balé, um museu, um filme diferente, enfim, tanto a criança como os pais se beneficiarão.


Tanto os Índigo como os Cristais tem seus sentidos muito sensíveis. Não suportam sons altos, comidas de sabores fortes, cheiros fortes e são sensíveis ao tato. O ambiente doméstico deve ser harmonioso, calmo, e se ele fizer algo errado, evite gritos, palavras rudes e ordens. Como são sensíveis ao tato, então toque na criança, pegue na mão, abrace. E se houver necessidade de dar uma “bronca”, segure sua mão ou braço e converse de maneira firme e clara (nunca agressiva), olhando fixo nos olhos dela. Nunca puna. A punição não tem efeito sobre essas crianças, só geram uma tristeza profunda e um sentimento de culpa, que poderá acompanhar essas crianças até a idade adulta.


Dêem aos seus filhos muita atenção, tolerância e muito, muito amor. Esta será uma relação de troca em que a família toda se beneficiará. Ajudem seus filhos com sabedoria nas palavras e ouvidos bem atentos para o que eles têm a ensinar.


Psicóloga

As mãos de meu pai...



                                                                    


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
- como são belas as tuas mãos -
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos
e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida – que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…

(Mário Quintana)

 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mantra da Paz...


Abraço...



                                                                        


"Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante."

(Ana Jácomo)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Tempo...

                                                                   

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará



  ( Mário Quintana)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Réquiem...







Há mortos que demoram a morrer
é inútil sepultá-los eles voltam
demoram-se por vezes numa sombra

num braço de cadeira ou no rebordo partido
de uma chávena.

Ou então escondem-se
em pequenas caixas sobre as mesas.
Há objectos que ficam cheios deles
são como o resto transmudado dos ausentes
sua marca na casa e no efémero.
Por isso custa tanto retirar o prato e o talher
arrumar os fatos desfazer a cama.
Há mortos que nunca mais se vão embora.

Há mortos que não param de doer


(Manuel Alegre)







                                             

domingo, 21 de outubro de 2012

Presença...



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

(Mário Quintana)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Repouso...


Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada

(Adalgisa Nery)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Manoel de Barros...



Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quando Deus aparece...



Tenho amigas de fé. Muitas. Uma delas, que é como uma irmã, me escreveu um e-mail me contando a maravilha que foi o recital do pianista Nelson Freire no Theatro São Pedro, recentemente. Ela escreveu: “Nessas horas Deus aparece”.

Fiquei com essa frase retumbando na minha cabeça. Deus não está em promoção, se exibindo por aí. Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. Eu não sou uma católica praticante e ritualística - não vou à missa. Mas valorizo essas aparições como se fosse a chegada de uma visita ilustre, que me dá sossego à alma.

Quando Deus aparece pra você?

Pra mim, ele aparece sempre através da música, e nem precisa ser um Nelson Freire. Pode ser uma música popular, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende.

Deus me aparece nos livros, em parágrafos em que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano.

Deus me aparece - muito! - quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de Deus, se ele tivesse uma.

Deus me aparece - e não considere isso uma heresia - na hora do sexo, desde que feito com quem se ama. É completamente diferente do sexo casual, do sexo como válvula de escape. Diferente, preste atenção. Não quer dizer que qualquer sexo não seja bom.

Nesse exato instante em que escrevo, estou escutando My Sweet Lord cantado não pelo George Harrison (que Deus o tenha), mas por Billy Preston (que Deus o tenha também) e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com Ele, ritmado pelo rock'n'roll. Aleluia.
Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer. Quando uma amiga me liga de um país distante e demonstra estar mais perto do que o vizinho do andar de cima. Deus aparece no sorriso do meu sobrinho e no abraço espontâneo das minhas filhas. E nas preocupações da minha mãe, que mãe é sempre um atestado da presença desse cara.
E quando eu o chamo de cara e ele não se aborrece, aí tenho certeza de que ele está mesmo comigo".

(Martha Medeiros)


domingo, 14 de outubro de 2012

Psiquiatria da Conciliação...

 

Acaba de chegar às livrarias brasileiras o interessante livro "Ciência x espiritualidade" (Editora Sextante, 2012). De forma articulada e inteligente, o físico Leonard Mlodinow e o espiritualista Deepak Chopra debatem e se contrapõem sobre a origem do Universo, a existência de Deus e os caminhos da mente humana. Mlodinow defende a superioridade da razão, da ciência, da comprovação material e inquestionável dos fatos. Chopra, por sua vez, acredita que o ser humano ainda está muito distante de ter a compreensão absoluta do mundo, pois, como prenunciou Shakespeare, "há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia".

A medicina, aos poucos, vai aceitando - e assimilando - conceitos até então praticados apenas no Oriente, como uma maior consciência mental sobre a importância do momento presente e os benefícios da ioga e da respiração. A psiquiatria e a psicologia, particularmente, já começam a conciliar a objetividade do Ocidente e a subjetividade do Oriente.

Um nome fundamental neste processo é Marsha Linehan, psicóloga americana e pesquisadora da Universidade de Washington. Ela desenvolveu a Terapia Dialética Comportamental, psicoterapia que combina ciência comportamental com conceitos de aceitação e atenção plena, ambos derivados de práticas contemplativas, com um viés filosófico. Em outras palavras: o paciente precisa aceitar-se como é para, em paralelo, trabalhar para superar-se. Vale ressaltar que, em nenhum momento, Marsha adota um ponto de vista religioso, alinhado com qualquer prática de fé, tal qual Chopra no livro.

Uma sequência de estudos em pacientes com transtorno borderline (quadro que envolve automutilação, tentativas de suicídio, oscilações de humor) provou que o método de Marsha funcionava. Em seguida, ela expandiu a terapia aos pacientes que agem por impulsividade, como dependentes químicos e comportamentais. Obteve êxito novamente.

A partir daí, a psicóloga americana deu sua grande cartada: foi entrevistada pelo "The New York Times" e confessou tratar-se ela mesma de uma paciente com transtorno borderline , com internações desde a juventude, instintos suicidas e de automutilação. Mediante o sucesso anterior de suas pesquisas, Marsha não poderia ser desqualificada por sua condição de paciente. Touché. "Fiz a pesquisa porque nunca consegui ser ajudada a contento por nenhum médico", confessou ao jornal americano.

Para nós, a boa notícia é que já existem profissionais pioneiros no Brasil na adoção do método de tratamento terapêutico proposto por Marsha. A psiquiatria contemporânea busca um equilíbrio entre a mente racional e a mente emocional. A combinação de ambos seria a mente sábia e, em última análise, saudável. Quem ganha são os pacientes.
 (Elizabeth Carneiro)

sábado, 13 de outubro de 2012

De onde surgem os amores

 

Uma amiga na casa dos 50 estava solteira há anos. Não tinha namorado e tampouco se sentia ansiosa com isso. Já havia casado duas vezes, tinha um filho bacana e podia muito bem viver sem amor, essas mentiras que a gente conta para nós mesmos.

De qualquer forma, para não perder o hábito, de vez em quando se produzia e ia pra balada, vá que. Mas voltava invariavelmente sozinha para casa. Até que um ex-paquera do tempo que ela era uma debutante fez contato ele, que morava no Exterior, voltaria para o Brasil e queria revê-la. Milagre by Facebook.

Ela disse claro, vai ser ótimo, mas não sabia quando exatamente a promessa desembarcaria no Salgado Filho. Seguiu sua vida. Foi para a piscina do clube num dia de semana e lá, estando acima do peso, suada e com um biquíni velho, escutou seu nome sendo pronunciado por uma voz aveludada. Era o dito cujo, testemunhando in loco no que a debutante havia se transformado depois de tantos anos. Ela pensou: o cara vai sair correndo.

Ele pensou: não desgrudo mais dessa mulher. E assim foi. Certa de que só estando impecável atrairia olhares, ela conquistou um guapo num dia em que se sentia pouco atraente.

Outra história. Atriz, loira, olhos verdes, leva um fora do noivo. Passa dias inchada de tanto chorar. Deprê em estágio avançado. A avó organiza um almoço do tipo italiano, aberto ao público. Ela vai e encontra um velho conhecido com quem brincava na infância. Ele, recém-separado. Ela, um trapo.

Ficam ali conversando, ela aos lamentos por sua situação, quando, em meio a soluços, a mulher se engasga. Mas engasga feio. De quase morrer. Uns 10 vieram esmurrar suas costas, e a guria vertendo lágrimas sem conseguir respirar, roxa como uma berinjela, já encomendando a alma. Ela me conta: naquele dia, eu havia saído de casa medonha, e o engasgo só piorou o quadro, eu parecia o demo convulsionando. Mas o amiguinho de infância não teve essa impressão. No dia seguinte, ligou para saber se ela passava bem, e estão casados há 15 anos.

Mais uma: depois de duas décadas de uma relação bem vivida, veio a separação amigável. Porém, mesmo amigável, nunca é fácil sair de um casamento, ainda mais de um casamento que não era um inferno, apenas havia acabado por excesso de amizade.

Ela pensou: agora é a hora do luto, um recolhimento me fará bem. Não deu uma semana e um estranho tocou o número do seu apartamento no porteiro eletrônico. Ela não reconheceu a voz, o nome, não sabia quem era, e não deu trela. Ele tentou no dia seguinte: ela tampouco abriu a porta, achou que o cara havia se enganado de prédio. No terceiro dia, ela resolveu esclarecer pessoalmente o equívoco. Desceu até a portaria para convencer o insistente de que ela não era quem ele procurava. Era.

Do que se conclui: de onde muito se espera – boates, festas, bares – é que não surge nada. O amor prefere se aproximar dos distraídos.
 
(Martha Medeiros)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Gosto de Saudade...

 


 

Não sei se saudade tem cor. Dizem que sim. O que eu sei é que ela tem forma. Tem gosto. Tem cheiro. E peso também. E, acreditem, ela tem asas!!! Se não, como nos transportaria tantas vezes a lugares tão distantes? E sei ainda que ela se agiganta quando mais tentamos diminuí-la. Sei que ela dói de dor intensa e sem remédio.
Se não fosse ela, não sei se teríamos consciência do tamanho da importância das pessoas pra gente. Porque quando amamos alguém, a saudade já chega por antecipação, sorrateira, disfarçada de algo que não conseguimos decifrar. É aquela dor fininha de não sei o quê, a angústia boba que nos invade só de imaginar a separação. E a gente fica meio sem saber o que fazer.

Mas é assim... é uma dor que gostamos de sentir, um sabor que queremos provar, é algo que não sabemos explicar, mas é quase palpável. É amor disfarçado de muita coisa. São emoções guardadas bem lá no fundo.
Saudade... do que foi e do que vai ser. Saudade que nos acompanha pra diminuir a solidão e que nos mostra, sobretudo, que estamos vivos.
Aprendi ainda que saudade não mata. É só quase. A gente pensa que vai morrer, mas sobrevive sempre, porque ela traz escondidinha nela uma outra coisa que chamamos de esperança, que nos ajuda a caminhar, porque saudade, como o amor, não é cega, saudade vê mais além.

                                      
Letícia Thompson

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O malabarista...

                                                                

Ele se vira nos 30 com quatro pedras nas mãos, bem na frente do para-brisa do meu carro. Do meu e de tantos outros motoristas que passam pelo mesmo trajeto, numa avenida movimentada da zona sul da Capital. Impossível não observar o seu indigente malabarismo, até mesmo porque contém um inevitável potencial de ameaça.

Somos seres amedrontados, tudo o que é estranho nos assusta. Ainda mais quando o outro é um indivíduo andrajoso, descalço, com aspecto descuidado e sofrido. Mais do que o medo, porém, é o sinal amarelo da compaixão que me queima a alma.

– Não dê esmola! – vocifera o grilo falante da consciência, domesticado por sucessivas leituras sobre desigualdades sociais.

A esmola vicia, a esmola financia a miséria, a esmola alimenta a criminalidade e sustenta o tráfico de drogas. Dou o que, então? Um conselho?

– Ô, meu chapa. Sai dessa. Vai procurar um emprego!

Sou ingênuo, mas não sou louco. Se faço isso, viro alvo na certa, embora o jovem malabarista pareça inofensivo enquanto desfila sua cara de fome entre os vidros fechados. Parece jovem, pois se movimenta com certa agilidade, mas já tem vincos no rosto. Criança não é.

As crianças sumiram dos cruzamentos da cidade, o que evidencia o sucesso das políticas de assistência social do Estado e do município. No lugar delas, porém, surgiram adultos fragilizados por deficiências físicas ou pela falta absoluta de oportunidades. Dói vê-los lutando pela sobrevivência no sinal vermelho.

Não são os únicos. De vez em quando, o palco dos semáforos é ocupado por artistas de rosto pintado, que se utilizam até mesmo de maças de fogo. Também assustam: parece que a qualquer momento alguém vai sair chamuscado.

E há, ainda, os meninos que se encarapitam uns sobre os outros. São adolescentes, de idade indefinida. Formam pirâmides, lançam bolinhas para o alto, às vezes deixam-nas cair, tentam subir de novo e, quando concluem o número, invariavelmente os carros já estão em movimento. Embora melhor equipados e mais audaciosos, também despertam uma certa piedade esses personagens do desolador espetáculo das ruas.

Mas nada se compara ao homem das pedras. Seu aspecto é desalentador, sua arte é precária, seu equipamento de trabalho é mais do que rudimentar – é pré-histórico. Ele sequer fala. Apenas executa sua lastimável prestidigitação e caminha silencioso entre os carros de janelas fechadas. Sequer deixa uma mão livre para apanhar alguma improvável moeda. O grilo falante, implacável, não me deixa agir, mas morro de pena.

O sinal verde pesa como uma pedra.                   (Nilson Souza)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Recordando...

Hora da Saudade...



A tarde se esvai  
lentamente
esgarçando suas luzes
em infinitos cristais
a tarde se esvai
e na alma fica um silêncio
de sinos mudos
uma espera ansiosa
de estrelas
uma saudade fininha
de não se sabe o quê.

Roseana Murray

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Abatimento...



Sem atrevimento 
para experimentos
Sem coragem
para divertimentos
Ando conformada
com o desalento
e a mesmice


Será velhice?


Rossana Masiero

domingo, 7 de outubro de 2012

William Blake...

 
                                                                                
“Quando vozes de crianças se ouvem na relva,
E risos se ouvem nas colinas
Meu coração descansa no meu peito,
E todo o resto fica sereno”.


 

sábado, 6 de outubro de 2012

Percy Bysshe Shelley...



"Um poeta é um rouxinol que se senta na escuridão, e canta para se confortar da própria solidão com seus próprios sons. Seus ouvintes são homens arrebatados pela melodia de uma musica invisível, que se sentem comovidos e em paz, ainda que não saibam como nem porquê"

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rubem Alves...



O poema é o dedo do poeta
apontando para o vôo do pássaro
que está além das suas palavras.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A nobre irmandade...



Tese: o clima frio favoreceu o crescimento de civilizações mais avançadas porque os habitantes de climas frios passavam mais tempo contemplando o fogo. Os povos de climas quentes tinham menos
necessidade de fogo para aquecê-los, por isso foram privados das divagações que vêm com a contemplação do fogo e são menos filosóficos e mais superficiais. Nos climas frios, de tanto olhar as chamas qualquer pessoa acabaria desenvolvendo, se não escatologias ou sistemas ontológicos completos, pelo menos teorias.
Os povos de clima quente têm a experiência direta do sol na cabeça, os de clima frio experimentavam o sol armazenado na madeira, portanto o sol intermediado, reciclado pelo tempo. O fogo armazenado é o sol de segunda mão, quase uma versão literária. Olhar para o sol transformado em fogo domesticado leva a abstrações e ponderações, olhar para o sol original leva à cegueira. Mas tanto o sol vivo no céu quanto o sol ressuscitado no fogo podem destruir o cérebro, um fritando-o e outro levando-o para tão longe que ele quase se eteriza. Não há Einsteins em regiões tropicais, mas também não há muitos cientistas loucos. Abstrações e ponderações em overdose também podem ser fatais.
Contemplar muito o fogo também enlouquece.
A combustão da madeira, sendo consumida pelo fogo do sol que absorveu a vida toda, é uma metáfora para a existência: você também é consumido pela que lhe dá energia - mais ou menos rapidamente, dependendo de ser graveto ou nó de pinho. Se envelhecer é ir ficando cada vez mais grave, só atingiremos nossa verdadeira seriedade depois de mortos, quando nos juntaremos aos fósseis. Também levaremos energia aprisionada para baixo da terra e seremos como o carvão, o petróleo e os restos degradados de tudo que já viveu, integrados na capa explosiva do planeta - o que pode ser mais sério?
Toda matéria orgânica, da jabuticaba ao papa, almeja isso, essa respeitabilidade subterrânea, essa dignidade de mineral depois da frivolidade efêmera da vida. Do barro viemos e ao barro voltaremos, mas agora em outra categoria, depois da nossa temporada ao sol: a de combustível. Entendo quem prefira a cremação (que é quando a nossa identificação com lenha fica mais completa) mas eu quero tudo a que tenho direito depois de morto. Decomposição, gazes - enfim, minha iniciação na nobre irmandade dos inflamáveis.
Olhar o fogo devia inflamar a imaginação de quem o contemplava, no tempo das cavernas, se via nele fantasmas e presságios. O fogo era, de certa forma, a televisão da pré-história - com uma programação muito melhor.  

                                Luiz Fernando Veríussimo