segunda-feira, 4 de maio de 2015

Feliz Páscoa 2015...

É tempo de permitirmos que o amor e os bons sentimentos renasçam
em nossos corações e, que tenhamos consciência de nossos atos e pensamentos, buscando sempre o nosso melhor, para que isso reflita em harmonia e amor em nossas vida!
Feliz e Abençoada Páscoa!

Primavera ... No clima da amizade.

                                             


Estamos na primavera, mas poderíamos chamar esta estação de prenúncio do verão.
Se pudéssemos definir uma ocasião propícia para curtir a amizade, por certo ela seria rodeada pelo surgir das flores. Que faz brotar também um clima ameno para novos relacionamentos e momentos de descontração.
Os dias da nova estação parecem despertar com maior alegria. O frio dá espaço para temperaturas convidativas e o acordar preguiçoso, aos poucos, vai ficando no esquecimento
do inverno.
Nosso corpo agora, não mais se enrijece pelo frio excessivo e clama por alongar-se, dormir menos  e se manter ativo. 
É chegada a hora de retirar a poeira do  guarda sol, verificar a validade do protetor solar e, principalmente, estar disponível para uma infinidade de convites para churrascos, piscina, acampamento ou roda de chimarrão na praça e muita companhia agradável.
As noites mais curtas e os dias bem aproveitados parecem nos tornar mais felizes. Como sugestão, você pode utilizar a seguinte receita para dividir bem os seus afazeres:  trabalhe ou estude por 8 horas, descanse outras 8 e reserve mais 8 para a diversão. Assim, o ócio, que é prejudicial ao extremo para a saúde e inimigo crucial da inteligência, não terá influência alguma em sua vida.
Saiba que a felicidade plena só é alcançada com o somatório de inúmeros momentos felizes. Por isso, aprecie cada um deles e guarde-os bem. E depois, faça um exercício para a sua memória e relembre-os, junte-os no álbum do seu existir e delicie-se, saboreando a doce razão de viver.


Taís Rizzotto

Gabriel Chalita...

"A morte é a 

primavera da alma.

 O que parece ser o

 fim é a vida em 

transformação..."


Gabriel Chalita

A visita do anjo...

  Lya Luft

O homem estava a pegar nas chaves do carro (a mulher já tinha saído para levar as crianças à escola) quando tocaram à campainha.
Irritado, pois já se atrasara bastante, ele abre a porta:
— Sim?
O ser andrógino, belo e feio, alto e baixo, negro e louro, faz um sinalzinho dobrando o indicador:
— Vim buscar-te.
Não era preciso explicar, o homem entendeu logo: o Anjo da Morte estava ali, e não havia como escapar. Mas, acostumado a negociações, mesmo perturbado ele rapidamente pensou que era cedo, cedo demais, e tentou argumentar:
— Mas, como, o quê? Agora, assim, sem aviso, sem nada? Nem um prazo decente?
O Anjo sorri um sorriso bondoso e perverso, suspira e diz:
— Mas ninguém tem a originalidade de me receber com simpatia neste mundo? Nunca ninguém está preparado? Está certo que só tens quarenta anos, mas mesmo os de oitenta...
O homem agarrou mais firmemente a chave do carro que acabara por encontrar no bolso do casaco, e insistiu:
— Vá lá, dá-me uma oportunidade.
O Anjo teve pena, aquele grandalhão estava realmente apavorado. Ah, os humanos... Então teve um acesso de bondade e concedeu:
— Tudo bem. Eu dou-te uma oportunidade, se me deres três boas razões para não vires comigo desta vez.
(Passaria um brilho malicioso nos olhos azuis e negros daquele Anjo?)
O homem aprumou-se, claro, sabia que ia dar resultado, sempre fora um bom negociador. Mas, quando abriu a boca para começar a sua ladainha de razões — muito mais que três, ah sim — o Anjo ergueu um dedo imperioso:
— Espera aí. Três boas razões, mas... não vale dizer que os teus negócios precisam de ser organizados, a tua mulher nem sabe assinar cheques, os teus filhos nada conhecem da realidade. O que interessa és tu, tu mesmo. Porque valeria a pena deixar-te ainda aqui por algum tempo?
Já narrei esta fábula noutro livro e, nele, quem abria a porta era uma mulher. A objeção que o Anjo lhe fazia antes de ela começar a recitar os seus motivos era:
— Não vale dizer que é porque o marido e os filhos precisam de ti...
Muitas vezes contei esta história, e inevitavelmente homens e mulheres ficam surpresos e pensativos, sem resposta imediata ainda que de brincadeira.
E nós? Com que argumentos persuadiríamos o anjo visitante de ainda não nos levar?
Eles seriam falsos, inventados no momento, ou brotariam da nossa eventual contemplação — e reavaliação — da vida, e do sentido de tudo, dos nossos projetos e esperanças?
Isto é, se acaso alguma vez interrompemos a nossa agitação para fazer um questionamento destes. Pois, em geral, atordoamo-nos na agitação dos media, da moda, do consumo, da corrida pelo melhor salário, melhor lugar, melhor mesa no restaurante, melhor modo de enganar o outro e subir.
Ainda que infimamente no nosso ínfimo posto.

Dia dos Avós...

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Patrícia Lima e Cristiano Santos
Só de olhar o semblante dessas figuras, uma sensação de felicidade invade o coração. De rosto enrugado ou bem lisinho, com cabelos brancos ou sem nenhum cabelo, vestindo as últimas tendências ou desfilando um casaquinho que era moda nos anos 1960, eles são simplesmente demais. E tê-los conosco é mesmo muito, muito bom. Tanto que torna-se cada vez mais comum a comemoração deste sábado: o Dia dos Avós.
O que a gente sempre soube também tem sido confirmado por cientistas ao redor do mundo. Segundo pesquisas recentes, a convivência entre avós e netos é altamente benéfica para as crianças, que crescem mais seguras, saudáveis e felizes com a companhia e os cuidados de avôs e avós. E a recíproca é verdadeira. A vida dos idosos é melhor com netos por perto.
A dedicação de avôs e avós teria garantido, segundo uma pesquisa coordenada pela Universidade Edith Cowan, na Austrália, vantagens evolutivas à espécie humana. O estudo aponta que nenhum outro mamífero, com exceção de algumas baleias, conta com os cuidados dos avós durante o seu crescimento. A atenção e o acompanhamento dedicados às crianças teriam sido alguns dos fatores que possibilitaram o desenvolvimento motor e intelectual dos filhotes do homo sapiens. Mais protegidos, a chance de sobrevivência dos pequenos tornou-se bem maior.
Sobre os nossos dias, a pesquisa afirma que os avós, nas sociedades industrializadas, investem quantidade significativa de tempo e dinheiro em seus netos, o que influencia positivamente no desenvolvimento dos jovens. Estudo semelhante elaborado no Reino Unido revelou que quase metade da população tem netos, sendo que 25% desse total são os principais cuidadores das crianças. Eles substituem os pais durante, em média, seis horas por semana.
Quando algo inesperado ocorre e a família passa a enfrentar uma tragédia, o papel dos mais velhos torna-se ainda mais importante. Um estudo feito no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Perdas e Luto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) observou o comportamento familiar em casos de crianças com câncer. Descobriu que os avós assumem a responsabilidade por manter a união da família. É uma preocupação em três dimensões: com o sofrimento físico do neto, com os pais – seus próprios filhos – e com os demais netos, irmãos da criança doente. Em muitos casos, são eles, os avós, que assumem o papel de cuidar do restante da família enquanto os pais estão concentrados no tratamento do pequeno enfermo.
Mesmo em situações familiares normais, sem traumas profundos, os avós são peças fundamentais. Por sua capacidade (e paciência) em escutar e interagir com os netos, os avós os ajudam a desenvolver a autoestima e a enfrentar fases turbulentas, como a adolescência, as decepções amorosas e até o divórcio ou a ausência dos pais.
- Avós costumam perceber a criança com mais atenção e ajudá-la a ser mais tranquila, a ter mais rotina e a começar e terminar tarefas. Ter avós saudáveis por perto é a maior riqueza que alguém pode ter – afirma a psicóloga e psicopedagoga infantil Aidê Knijinik.
Ainda segundo Aidê – ela mesma a avó apaixonada de uma menina -, a relação entre avós e netos vem mudando ao longo dos anos. Durante muito tempo, o papel dos mais velhos era mais ou menos restrito aos cuidados diários, aos serviços domésticos e ao mimo e aos carinhos típicos dos vovôs e das vovós. Hoje, já se tem cenários bem diferentes nas famílias.
- É cada vez mais comum ver avós que estudam, viajam ou curtem a vida com os netos. Essas novas gerações não recebem apenas cuidados, mas também formação, valores, experiências. E isso é muito rico.
A modelo que ilustra a capa desta edição de Donna é uma prova disso. Aposentada do serviço público e cuidando somente da casa, Marlene Pereira, de 77 anos, vibrou com as primeiras campanhas publicitárias que a neta estrelou. Viu a menina brilhar em comerciais de TV e páginas de jornais – e ficou muito empolgada com a possibilidade de fazer o mesmo. Quando foi incentivada a levar algumas fotos à agência de modelos da neta, em Porto Alegre, não hesitou. Agora, quem abafa na família é a simpática senhora, que pula de alegria a cada chamada para um novo trabalho.
- Ser modelo é a minha terapia. Nem me importo com o cachê, quero mesmo é conhecer gente nova, conversar, fazer coisas diferentes. Eu me divirto muito – conta Marlene.
Com o tempo, a neta inspiradora se cansou da função de fotos e gravações e foi experimentar outras coisas – afinal, tem somente 13 anos. Já Marlene segue firme modelando – mas nem por isso, esquece de suas funções de avó amorosa.
- Tenho uma relação linda com as minhas netas. Não estou com elas todos os dias, mas temos uma conexão muito forte, falamos sobre tudo, trocamos um carinho enorme. Elas são felizes e eu também com essa convivência.
Se para os netos a presença dos avós é quase garantia de um desenvolvimento promissor, para os avós essa relação é renovadora. Pesquisadores americanos da Boston College observaram 376 avós e 340 netos entre 1985 e 2004, acompanhando sua saúde mental. A conclusão, divulgada no ano passado, é que os avós e os netos adultos que se sentiram emocionalmente próximos uns dos outros tiveram menos sintomas de depressão. A médica geriatra do Hospital Moinhos de Vento Berenice Werle confirma que a presença de netos na rotina dos idosos pode ser extremamente benéfica, um poderoso coadjuvante para evitar a depressão e até retardar os efeitos da demência senil. A convivência, no entanto, também pode prejudicar os avós.
- Para beneficiar o idoso, a relação precisa ser respeitosa. O jovem tem que valorizar a sabedoria dos avós, respeitá-los e conviver com eles em harmonia. Caso contrário, o conflito geracional pode causar sofrimento aos mais velhos. As famílias precisam criar seus filhos para que respeitem os idosos, valorizem a experiência de vida deles. Isso tem que vir de berço.
Outra situação bastante comum, segundo Berenice, é o sentimento de frustração por parte do idoso, seja porque seus netos não o escutam, seja porque só o procuram para pedir dinheiro ou em ocasiões específicas. Nesses casos, no lugar de ser um momento de felicidade, a presença dos netos faz mal a quem deveria estar cercado somente do bem.
Ser avó é renascer 
Márcia Blini Barbosa, 60 anos, viu as amigas se tornarem avós antes dela. Ao falar da pequena Manuela, de sete meses, a empresária fica com os olhos marejados. É preciso segurar o choro antes de fazer as fotos com a primeira neta.
- É um renascer, uma alegria contagiante que não tem como explicar. Ela nasceu prematura. Quando a Vivian (mãe da Manuela) nos ligou, de madrugada, e disse que a bolsa tinha estourado, quase chegamos antes do que ela na maternidade.
A ansiedade em viver estes momentos é compensada com o dia a dia entre avó e neta:
- Quando a tenho nos braços, parece que estou olhando a minha filha. A partir do momento em que fica comigo, a responsabilidade é minha. Adoro quando ela acorda, me debruço em cima do berço, cara a cara, e ficamos conversando. É um presente de Deus – comenta, ainda emocionada.
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Essa relação de carinho intenso permeia as memórias de infância de Márcia. Nascida e criada em São Paulo – mora em Florianópolis há 37 anos -, ela se dividia entre as duas avós.
- Fui criada por elas, sempre muito paparicada. Falando agora me vejo abraçada com uma delas, indo à feira. O que estou fazendo é o que recebi. Tive um contato muito grande, elas faziam bolo, pão. Uma era do interior e a outra de São Paulo – relembra.
Apesar da pouca idade, Manu já está conhecida na vizinhança da vovó. Juntas, elas costumam passear pelas tardes da Avenida Trompowsky, no centro da capital catarinense. O vovô Wagner, cercado por mulheres, garante que a chegada da neta mudou a vida do casal.
- É a continuidade, é para completar, estamos curtindo muito. E já avisamos, quando ela fizer um ano, queremos mais um – reforça o engenheiro, que sonha em ver Manu na carona de sua Harley-Davidson.
Márcia também projeta o futuro. E tem se preparado para isso, para acompanhar o crescimento da neta e daqueles que ainda nem nasceram.
- É uma ânsia de quem não quer se separar (risos). Eu me cuido, faço academia, procuro me alimentar bem porque quando eu chegar aos 80 anos eu quero vê-la com 20, que é quando ela vai entender a nossa relação.
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Mais feliz, impossível
A pequena Laura Damin Garrido, de sete meses, ainda não entende direito quem é quem, mas já abre um sorrisão ao ganhar colinho ou brincar com algum dos avós. Sortuda, ela tem os quatro por perto. A mãe do bebê bochechudo e com cara de sapeca, a fisioterapeuta Sofia Damin, mora perto dos pais, que passam algumas horas por dia com Laura para que ela possa trabalhar. Jurandir e Juliana Damin, de 59 e 54 anos, receberam com festa a primeira neta, que mudou a rotina dos dois. Desde relembrar como é ter um bebê em casa até redescobrir um sentido para a vida, tudo tem sido ternura e alegria para o casal.
Quem também vive nas nuvens desde o nascimento da pequena é Rosemari Garrido, 51 anos, mãe do educador físico Giancarlo, pai da Laura. Ela também mora perto do filho e da nora e participa dos cuidados com a netinha para que os pais possam tocar a rotina de trabalho na academia que administram, no bairro Humaitá, em Porto Alegre.
- Eu estou deslumbrada, nem sei como explicar. O Gian é filho único, então estou revivendo toda a felicidade que tive com ele. Minha vida mudou completamente, para muito melhor – comenta Rosemari.
00a2e61dPuro amor: a pequena Laura cercada pelos avós paternos, João Carlos e Rosemari (à esquerda), e pelos avós maternos, Jurandir e Juliana (à direita)
Morador de Arroio dos Ratos, o pai de Giancarlo não vê a neta todos os dias em função da distância. Mas João Carlos Marques, 62 anos, mal pode esperar o fim de semana chegar.
- Fui obrigado a rejuvenescer, para acompanhar o ritmo dela. É maravilhoso.
Mas o que o motivo de tanta felicidade acha disso tudo? Sofia, a mãe, explica:
- Ela já reconhece eles, brinca, confia. Vejo que ela se sente segura com eles. É uma criança muito feliz.

O poder de deseducar
Na casa de Lena Costa, à beira de uma lagoa que desemboca no mar verdinho do norte da ilha de Florianópolis, há um perfume de infância feliz. E ele não está atrelado somente ao extenso gramado ou ao balanço preso na árvore. A artista plástica de 63 anos relembra que foi uma mãe bem mais rígida para suas três filhas em relação à convivência com os três netos.
- Eu amo criança. Na educação, nos posicionamentos, não sou de me meter, até porque faço questão do meu papel de avó. Que papel é esse? É o de poder deseducar (risos). Eles adoram vir de férias, aqui em casa pode tudo. Temos algumas pequenas regras como comer bem, tomar banho e escovar os dentes. Mas pode comer quantas sobremesas quiser – comenta, enquanto Letícia, 11 anos, ouve atenta.
Elas se entendem simplesmente pela troca de olhares. A primeira neta – há ainda a pequena Sofia, 1, e Theo, 10 – perpetua uma semelhança que percorre a biografia das mulheres da família. O vôlei é o esporte oficial do lado feminino da casa. Leti, como é chamada pela avó, mora em São Paulo e faz parte do time do Clube Pinheiros.
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Lena também se orgulha ao apontar a herança cultural como um dos pilares na relação com as crianças. As artes plásticas surgiram em sua vida quando as filhas estavam crescidas. Já os netos, desde bebês, sempre brincaram no ateliê cercados de tintas e telas. Theo, inclusive, rabiscou quadros a caminho das galerias.
- Acho que hoje as crianças estão muito desassistidas neste sentido. Eu gosto de ouvir música clássica, jazz, de colocá-los, assim como fiz com as meninas (filhas), em um universo mais cultural. Recentemente, fomos ver a exposição da (artista plástica japonesa) Yayoi Kusama e eles curtiram muito.
Letícia é certeira em apontar as semelhanças com a avó:
- Os meus gostos são muito parecidos com os dela. A minha mãe gosta de filmes que dão uma lição, não que eu não ache importante. Mas aqui na minha avó a gente assiste a vários outros filmes e a séries policiais. E nós também gostamos de dormir até tarde, mas meu avô (o publicitário Roberto Costa), que é muito engraçado, não deixa (risos) – revela.
Na casa dos Costa, os netos dormem no quarto com os avós. O trio de netos ainda tem a oportunidade de conviver com a bisavó de 91 anos. Quando a família inteira desembarcou na Disney, a matriarca acompanhou a criançada com um pique invejável.
- O que eu mais achei engraçado é que ela foi em todos os brinquedos com a gente – comemora Letícia.
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O remédio do bom humor
O menino sai correndo para a faculdade, já atrasado, e sua mãe fica em casa, na companhia de sua própria mãe, a vó. E elas passam a jogar uma conversinha fora:
Mãe – Ai, ai, ai, esse menino. Sempre correndo para a faculdade.
Vó – Ele está atrasado?
Mãe – Sim, como sempre. Ainda quer passar no curso de inglês para ver os valores das aulas.
Vó – Curso de inglês para quê? Nunca me pediram isso. Vamos falar sério, se tu não colocares esse guri em um curso de datilografia ele não vai pegar emprego, hein!
Mãe – Vozinha, isso se estivéssemos em 1950, mas nós não estamos!
Vó – Ué, não exigem mais o curso de datilografia?
Mãe – Não, nem existe mais máquina de escrever, hoje em dia é só decoração!
Vó – Uééé, ainda ontem eu escrevi na minha!
Mãe – Sessenta anos atrás tu queres dizer, né?
Vó – Não, ontem mesmo!
Mãe – Ah, bom!
Vó – Mas eu, se fosse tu, botava ele num curso para aprender! Depois não vai pegar emprego e vou te lembrar dessa conversa.
Mãe – Tu vais me lembrar dessa conversa?! Combinado!
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Este é um dos muitos diálogos que podem não resumir, mas revelam o tom de uma obra capaz de ilustrar a delicadeza e a profundidade da relação entre uma avó e um neto. Com lançamento marcado para os próximos dias pela editora Belas Letras, o livro Quem, eu? Uma avó. Um neto. Uma lição de Vida é o relato biográfico de Fernando Aguzolli, estudante de filosofia de 22 anos que largou tudo – trabalho e faculdade – para acompanhar de perto a avó Nilva, diagnosticada com a doença de Alzheimer em 2008, em Caxias do Sul. Na reprodução dos diálogos, na narrativa das cenas cotidianas e até nas informações sobre as características da doença, o autor revela o bom humor com o qual decidiu encarar a nova condição de uma das pessoas mais importantes de sua vida.
Os momentos vividos entre ele e a vó Nilva transformaram-se, em certo momento, em um perfil no Facebook com quase 70 mil seguidores. Desse material, somado às lembranças familiares, nasceu o livro, cuja mensagem principal é a forma com a qual ele decidiu encarar a doença: “Encontrei nessas reflexões o humor como resposta, e dessa forma assumi a gargalhada como filosofia. Eu não ia conseguir curá-la. Mas a gente iria rir à beça!”
A nonna morreu no ano passado, em decorrência das consequências da doença. Mas o amor que ela foi capaz de provocar no neto (e de sentir por ele), é a herança eternizada nas páginas do livro que tem tom de memória e homenagem ao mesmo tempo.
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Primeiras lembranças de minha infância...

                                                         

Tento recordar de fatos significativos de minha infância, mas é muito difícil relacionar as lembranças como fatos concretos. Algumas, mais marcantes, são as relacionadas aos primeiros anos escolares, em especial a escada de madeira na escola primária; o velho piano no refeitório, onde a professora de música nos ensinava a cantar os hinos; a vez em que ganhei um livrinho infantil, “Aladim e a lâmpada maravilhosa”, como prêmio pelo bom comportamento (na verdade eu não abria a boca de tanta timidez). Lembro dos passeios na velha “caminhonete” verde de meu pai, ajudando a entregar mercadorias. Recordo de ouvir no rádio, às 4 horas da tarde, a “Hora da Estorinha”, de também acompanhar pelo rádio, aos domingos pela manhã, o programa “Clube do titio”, onde, não sei explicar como, nem porquê, eu e minha irmã cantamos juntas “A garota do baile”, do Roberto Carlos, recebendo como prêmio um urso azul, de plástico. Recordo das gemadas e pipocas que comíamos à tarde e das brincadeiras na frente de casa até anoitecer, com as crianças da vizinhança. Porém, o fato mais importante de minha infância foi uma viagem à Porto Alegre, de trem maria-fumaça. Saímos de Passo Fundo e pernoitamos em Santa Maria. Uma viagem de mais ou menos 12 horas, o que hoje se faz em três horas de carro. Lembro da fumaça preta que víamos saindo da chaminé nas curvas da estrada de ferro e das paradas nas pequenas estações, onde carregavam carvão (ou lenha?) como combustível. Em Porto Alegre foi onde, pela primeira vez, cheguei perto de um aparelho de televisão. A dona da casa me alertou que não colocasse a mão, porque na tela saia um “fogo”, que me queimaria. Também foi em Porto Alegre que tive a chance de andar de bonde. Recordo muito bem do seu ruído e balanço. São lembranças meio confusas, talvez com uma pitada da imaginação infantil, mas deixam uma sensação boa, de inocência e de alegria pelas descobertas. Às vezes pergunto para as pessoas qual a sua primeira memória da infância, e percebo o grande esforço para recordar. A minha primeira memória é de um homem dançando na rua, com roupas íntimas, um guarda-chuva aberto e muita gente olhando. Imagino ser a comemoração da conquista da copa de 1962 (naquela época eu teria quatro anos). Porém, a mais antiga imagem que tenho gravada é da borda do telhado da antiga casa de madeira em que nasci. Era de madeira trabalhada, no estilo germânico e de cor amarela. Essa é a lembrança mais estranha, pois nessa casa ficamos apenas por mais um ano após eu nascer, e ela foi demolida logo depois. É inexplicável, mas a forma e os detalhes que descrevo são confirmados pelos mais velhos. A mente humana é muito intrigante. Lembro de fatos, cores, estampas, tecidos, sons e, principalmente, cheiros de minha infância. Essa memória é agradável, especialmente quando algum familiar nos faz recordar algo que já estava apagado de nosso cérebro. Talvez aí esteja um dos grandes sentidos da família: o de poder compartilhar a vida passada, além de poder contar com esse companheirismo para o futuro. Afinal, para você, qual é a sua primeira lembrança?

Bernadete Schleder dos Santos